Comunicação

A polêmica cerimônia do Oscar 2022 e o que ela tem a nos mostrar

Mariana Mascarenhas

Escrito por Mariana Mascarenhas - Redação A12

04 ABR 2022 - 08H50 (Atualizada em 04 ABR 2022 - 09H10)

A 94ª cerimônia de entrega do Oscar pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que aconteceu na noite de 27 de março no Teatro Dolby, em Los Angeles, Califórnia, certamente entrou para a história das premiações do cinema. Na ocasião, uma situação totalmente inusitada se tornou o principal destaque da noite, ofuscando até mesmo o brilho dos holofotes midiáticos para a entrega das estatuetas.

Tudo aconteceu quando o ator e comediante Chris Rock subiu ao palco para anunciar o Oscar de Melhor Documentário. Minutos antes do anúncio, como é de praxe na cerimônia do Oscar quando os artistas se preparam para anunciar a premiação, o ator contou algumas piadas. No entanto, uma delas não repercutiu bem. Chris fez uma brincadeira com a mulher de Will Smith, a atriz Jada Pinkett Smith, dizendo que ela poderia participar da sequência do filme 'Até o Limite da Honra', cuja protagonista raspa o cabelo para entrar no corpo de fuzileiros navais.

A comparação se deu porque Jada está careca. Porém, ao contrário da personagem, que optou por raspar o cabelo, a atriz sofre de uma doença chamada alopecia, condição autoimune que provoca a queda acentuada de cabelos de modo permanente. Extremamente incomodado com a piada, Will Smith se levantou da cadeira, foi até o palco e deu um tapa no rosto de Chris Rock. Em seguida, o marido de Jada voltou para o seu lugar e gritou duas vezes para que Chris tirasse o nome de sua esposa da boca.

Poucos minutos depois, o gesto de Will, que surpreendeu tanto quem estava no Teatro Dolby quanto quem assistia à premiação em diversas partes do mundo, se tornou destaque nas mídias de vários países, por meio de análises, memes, e até mesmo reportagens sobre a alopecia. Algum tempo depois, ao receber o primeiro Oscar de Melhor Ator pela atuação no filme 'King Richards: Criando Campeãs', o marido de Jada fez um discurso emocionado pedindo desculpas pelo ocorrido aos indicados e à Academia, que já abriu um processo disciplinar contra Will Smith, o que poderá acarretar, até mesmo, na perda da estatueta. O ator, inclusive, chegou a renunciar sua participação na Academia.

Diante de sua repercussão, o assunto gerou uma grande polarização nas redes sociais sobre Will estar certo ou não. Enquanto muitos o defendiam em razão da ofensa contra Jada, outros diziam que tal piada não justificaria tal ato de violência.

A questão é que, para analisar casos como esse, é preciso ir muito além do tribunal da internet, que se resume a dividir opiniões entre certo e errado.

Quem acompanha a cerimônia do Oscar já está habituado com as inúmeras piadas, muitas vezes, carregadas de humor ácido que são feitas durante a cerimônia. A piada de Chris Rock não foi a primeira e, provavelmente, não será a última a ofender alguém. No entanto, é válido ressaltar a boa e velha questão sobre o limite do humor e quando ele pode ser ou não ofensivo. Se analisarmos o próprio cenário brasileiro, por exemplo, veremos como ele mudou.

Leia MaisDeus pode perdoar um pecado mortal?Pecado: Como ele me destrói?Quem não tem pecado que atire a primeira pedraNo decorrer da história, programas humorísticos marcados por piadas machistas, racistas e homofóbicas foram, aos poucos, sendo substituídas por sátiras que os comediantes fazem de si mesmos ou de situações que vivem.

Isso não quer dizer que o país esteja desprovido de tal tipo de humor, pois muitos comediantes são processados constantemente por alguma ofensa. No entanto, a própria internet, hoje, permite que muitos tenham espaço para expressar suas opiniões e conscientizar outras pessoas a respeito do que pode ou não ser uma ofensa.

Portanto, Chris Rock pode ter sido infeliz ao contar tal piada, mas Will Smith também poderia ter manifestado seu repúdio de outras formas, por exemplo, como no discurso de agradecimento pelo Oscar de Melhor Ator. Uma oportunidade única para abordar a condição de sua esposa e, até mesmo, se tornar ali um conscientizador sobre a alopecia e o limite do humor. Claro que não cabe a nenhum de nós julgar, mas certamente cabe refletirmos a respeito.

A questão é que tal cerimônia será marcada para sempre por tal gesto, que tem bastante a nos mostrar. Afinal, repreender a atitude de Will não significa compactuar com a piada feita por Chris Rock e vice-versa. Trata-se de olharmos para o ser humano em sua totalidade, sem fixarmos rótulos sobre sua personalidade, cientes de que todos nós somos seres complexos, providos de qualidades e defeitos.

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Sobre essa questão de analisar o conjunto de uma situação, Jesus tem muito a nos ensinar. No Evangelho de João (8, 1-11), por exemplo, vemos como o filho de Deus usa de sua sabedoria para impedir que uma mulher adúltera seja apedrejada, ao ordenar que apenas aqueles que tivessem pecado, atirassem nela a primeira pedra. Diante disso, todos se retiram. Em seguida, Jesus perdoa a mulher, pede a ela que se retire e não peque mais.

Ao agir de tal maneira, o Mestre nos mostra que não concordar com o apedrejamento não significa compactuar com o adultério, mas ver a possibilidade de arrependimento e conversão daquela mulher que ganhou a chance de uma vida nova. Que possamos, então, olhar muito além das polarizações e compreendermos o todo com sabedoria, inspirados no exemplo de Cristo.

Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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