Comunicação

Algoritmos Digitais e sua interferência no comportamento das pessoas

José Augusto Rento Cardoso

Escrito por José Augusto Rento Cardoso

09 MAR 2022 - 15H48 (Atualizada em 09 MAR 2022 - 16H00)

TierneyMJ/ Shutterstock

Nós somos livres? Essa pergunta, certamente, gera muita polêmica. Se nas rodas de discussão podemos ter diversas opiniões, a história da filosofia tem centenas de pensadores que se debruçaram sobre esse tema. Agora, para complicar mais um pouco: somos livres em um tempo de intensa virtualidade invadindo nossa realidade?

A cada momento, somos cercados por uma enorme quantidade de tecnologias que nos arrastam para um mundo virtual, em parte com aspectos da realidade, mas em parte com uma nova realidade sendo construída (a isso chamo virtualidade).

Leia MaisAlgoritmo irá permitir músicas de acordo com o comportamento do pet!Cada vez mais, vamos nos dando conta (às vezes nem tanto) que essa realidade virtual não é somente um local de diversão, distração ou conhecimento de novas pessoas. É um local de aquisição de conhecimento e informações, mas também de assimilação de comportamentos e, mais do que isso, condicionamento de certos comportamentos.

Para isso, volto ao ponto inicial desse texto: Somos livres? Somos livres na era da virtualidade?

Viktor Frankl (1905-1997), importante psiquiatra e fundador da Logoterapia (você já viu mais sobre ele em outros textos que escrevi), afirma que nós não somos livres “de que”, mas livres “para que”. Com isso, Frankl defendia que existem condicionamentos que nos influenciam, sejam eles biológicos, psicológicos ou sociais.

Uma pessoa que nasce em um país assolado pela guerra, por exemplo, receberá influências dessa realidade. Entretanto, segundo Frankl, embora a pessoa possa ser influenciada por condições, ela jamais será determinada. Aqui entra o livre “para que”, ou seja, sempre possuímos uma possibilidade de escolher o que fazer com os condicionamentos que estão em nossa existência.

ESB Professional/ Shutterstock
ESB Professional/ Shutterstock

Agora, em pleno século XXI, nos deparamos com um novo tipo de condicionamento, o virtual. Esse, muito mais sutil e intenso, surge da capacidade de empresas captarem nossos comportamentos, sendo capazes de traçar um perfil e, com isso, influenciar nossas ações.

Essa tese, já defendida há alguns anos por alguns autores, como Shoshana Zuboff (2021), aponta para a enorme capacidade que algumas empresas possuem de captação de informações sobre nossa vida, alimentadas pelos nossos likes, compartilhamentos, buscas em sites, etc. Com essa enorme base de conhecimento, fica fácil começar a conduzir o comportamento de uma pessoa.

Leia MaisSaúde mental em um mundo virtualA lógica, nesse sentido, é que nós nos tornamos matéria-prima para uma indústria gigantesca de venda e controle, onde o conhecimento que chega até cada um pode não revelar da melhor forma a realidade, mas somente aquilo que queremos, ou mesmo, aquilo que outros, em geral com interesses escusos, querem que conheçamos.

Qual o desafio? Que tenhamos consciência desse novo tipo de condicionamento e, fazendo uso da nossa liberdade, transcendamos o mesmo. Uma dica é não se fechar em bolhas epistemológicas (conjunto de conhecimentos ou informações) que sempre corroboram com nossa visão de mundo ou pessoa.

Sermos capazes de olhar o contraditório é caminho para amadurecimento intelectual e humano. Não esqueçamos: a pessoa é um mistério que merece mais contemplação do que julgamento. Por isso mesmo, é importante a abertura para outras percepções, ainda que isso nos leve a ter maior certeza sobre a nossa.

Escrito por
José Augusto Rento Cardoso
José Augusto Rento Cardoso

Casado, pai de três filhos, membro do Movimento de Vida Cristã e coordenador do Projeto Reconciliatio Psicologia Integral. É graduado em Psicologia, mestre em História e Filosofia da Psicologia e Pós-graduado em Psicologia Positiva e em Logoterapia e Análise Existencial. Atua nas áreas da Psicologia Clínica e Psicologia Jurídica. CRP 05/42118

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