Espiritualidade

Ainda não aconteceu

O que em você ainda não cresceu? O que agora lhe conto não aconteceu tal qual. Ou foi assim parecido? É uma história sobre lembranças da vida de gente. (HISTÓRIA é outra coisa!)

Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Escrito por Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

31 AGO 2022 - 09H23 (Atualizada em 31 AGO 2022 - 10H10)

Era uma vez um par de gêmeos, no seio de uma mulher que seria descoberta com o nome de Mãe. Eram duas incipientes vidas. Células fecundadas pelo amor prazeroso em reprodução. A vida, como um fluxo admirável, formava gente. Células agrupadas tornavam-se pequeninos membros complexos e diversificados. Iam compondo uma unidade singular. Um todo.

Quando o cérebro embrionário existiu, sensações chegavam. E com elas, esboços de percepções. Foi nesta hora que se deram conta de serem realidades separadas, embora juntinhas. Ela e Ele. Eles surgindo! Pertença sentida, os dois se alegraram. Sorriram? Talvez. Os dois sentiram, ao mesmo tempo, a mesma coisa: - Delícia de possuir a vida aqui. Sentiram-se parceiros. Irmanados ainda não. E os corpos ganhavam formas próprias.

Dando-se conta deram com o cordão umbilical: - Ah, estamos ligados a um corpo maior a nos nutrir. Quem? Um dia virão a saber. Faltava-lhes luz. Era tudo meio escuridão e quentura. E cresciam ocupando o espaço à disposição. Estava, então, chegando o tempo de não mais caberem ali. Iriam, sem saber, nascer. Assustados estavam com o aperto daquele lugar. Que sensação incômoda. - Vamos desaparecer? Pressentimentos estranhos...

Leia MaisSomos pessoas que se renovamO nascer estava próximo. Não sabiam o que era ser dado à luz. Nada sabiam de uma outra maneira admirável de viver. Quanto medo de perder a vidinha confortável. Expulsos? Algo lhes fazia querer ficar ali. - Será que outros estiveram aqui e se foram? Não, não sabiam que nasceriam para a VIDA.

Curioso procedimento esse de não saber se alguém havia voltado para este lugar tão bom. Estavam receosos. Ele e Ela trocavam entre si percepções sensíveis, emoções. Diferentes ruídos aconteciam. Incessantes batidas os balançavam: tam-tum, tam-tum. Parecia haver aceleração. Também não dava para entender outros sons suaves, quais carícias, a chamá-los.

Afinal, se viram revirados, empurrados a se deslocar. Foram-se os tempos de outrora. Tudo parecia mais escuro, incerto. Quando irromperam no vazio acolhedor, Ela chega primeiro. Com intervalo, Ele. Berraram entregues à luz. Morte ou amanhecer? Que doído era respirar: coisa seca trazendo sensação nova. Movimento vital. Haviam cortado aquele cordão. Nutriam-se respirando.

Deu ânsia de … mamar. Haviam sobrevivido. Mais que isso: coisas diferentes: roupas, braços, toques. Revirados. Colo. Vozes. Gozo e incômodos. Tensão. Estranheza suave. Quem sabe, estariam assombrados ante tal vivência? Vinha um sono de dormir, dormir. E começavam outra vida, vida nova. O que significaria CONTÍNUO NASCER.

Renascer. Recomeçar. Não imaginavam que teriam de fazer escolhas, e entre perdas e ganhos, ganhar vida, fazer HISTÓRIA ao CRESCER. Sim, a vida é crescimento. Cada um escreve sua história de vida criando relações das mais íntimas à convivência social.

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Quem me ensinou a viver? Cada qual aprende a dançar a música que a vida traz, e em medida maior, conduz outra dança no compasso do próprio viver. Aprendizes somos. Buscamos nossas referências. Escolhas fazemos.

Firmamos um rumo. Recusamos certas estradas. Descortinamos horizontes de inspiração. E vamos, de etapa em etapa, sabendo que viver é Cres-Ser soltando amarras. Até que uma vez mais caímos no rude não-saber. Então, tudo parecerá destruição do que era apetecido e por nós construído.

Leia MaisEspanto diante do mistério da vidaMorre-se para renascer a uma OUTRA vida, a eterna: a plenificação de dar certo e o desfrutar alegria sem fim. Então, bendito quem soube ao longo dos anos gerar clima ameno de inteireza e gozo de verdadeiras conquistas. Do tamanho que cada um é capaz. Mundo a descobrir: a descoberta do outro e do totalmente OUTRO assegurando-nos a bondade radical do viver. Nem tudo é decifrável.

Agora, a não esquecer: é coisa só nossa, mesmo amando e sendo amado, é coisa nossa o próprio caminhar. Ninguém pode fazê-lo em nosso lugar. Somos únicos e somos solidão. Nascemos sós e a sós morreremos. É uma solidão repleta de reverência pela vida e de obediência alegre ao Deus da Vida.

Cuidamos de nós e de muitos outros, e desta casa de todos, o planeta Terra. O doloroso é que há ciúmes, invejas, ÓDIO. E não há como prever suas consequências devastadoras. Por que será que os humanos, todos nós, não cultivamos uma liberdade liberta do mal e que nos deixaria livres para amar-servir-cuidar, e juntos seguir na estrada que nos leva à Terra sem Males?

É no "fundo sem fundo" de sua história que você se torna uma BIOGRAFIA, qual perfume de flor que desabrocha e segue florindo. Isso mesmo: a gente sempre cresce para não perder o melhor de nós mesmos.

Escrito por
Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.
Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Missionário redentorista, atua na Diocese de Juiz de Fora/ MG. Escreve sobre Psicoespiritualidade para o Portal A12.

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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