Uma vez, estava num táxi e o motorista foi puxando assunto. Falando sobre a relação com a esposa dele, comentou sobre o quão importante é a comunicação. Explicou-me que antes sua esposa costumava olhar para o telefone dela enquanto ele falava, pois conseguia prestar atenção em várias coisas simultaneamente. Mas houve um momento importante, quando ele lhe pediu um favor: explicou que, para ele, era importante não apenas ser escutado, mas sentir que está sendo escutado, pois o que ele tem a dizer está sendo acolhido.
Nessa ocasião, fiquei pensando: num mundo que supervaloriza a informação e a velocidade dos processos, sentar para escutar o outro – oferecendo toda a nossa atenção e deixando de lado outras coisas que podem ser feitas – parece uma exigência muito grande, até uma perda de tempo para alguns.
Em um mundo egoísta, como ouvir mais o próximo?
É fácil chegar à percepção de que a comunicação e o encontro são importantes. A pessoa que não se comunica, dificilmente consegue viver bem (lembrando que a comunicação verbal é apenas uma entre várias outras formas de comunicação). Quem tem dificuldade para ouvir os outros, ou até desgosta de parar para ouvir a outrem, não é porque não tenha tal necessidade de encontro. Provavelmente seja porque está buscando responder a tal necessidade através de outros meios ou, em alguns casos, porque está encerrada nela mesma, pois os tons alheios lhe geram desconforto.
Percebemos que escutar e ser escutado constitui uma necessidade. Mas num mundo com tanto barulho, é difícil achar que isso é realmente importante. Até pensamos que tal atitude de escuta e disponibilidade é algo apenas excepcional, por exemplo, quando alguém vem contar algo muito importante, ou passa por uma dificuldade grande. Mas, dessa forma, ficamos desacostumados e, no final do dia, o egoísmo – nos centrarmos sobre nós mesmos e nossos interesses – toma conta desse desejo profundo de verdadeiro encontro e comunhão.
Leia MaisTenho vontade de sumirÉ nesse sentido que se faz importante refletir sobre como ouvir mais.
Sugiro começar por encontrar e abraçar a necessidade de encontro que foi mencionada. Tendo encontrado isto, ultrapassar o limiar da segurança que nos dá ficarmos em nós mesmos, nos nossos interesses, nos nossos gostos.
O seguinte passo é começar a valorizar o encontro com o outro. Finalmente, buscar atitudes práticas que ajudem a ouvir mais e melhor.
Deste último item, existem várias possibilidades: algumas mais exteriores, como fazer um período de jejum de música, outras mais comportamentais, como não interromper a quem fala, ou de maior compromisso com o outro, como ouvi-lo superando preconceitos e projeções pessoais; ou ainda mais completas, como buscar ouvir ao outro em definitivo na oração.
Seja qual for o caminho específico, na medida em que a meta seja clara, poderá se avançar decididamente nesta direção.
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