Espiritualidade

Reeducar o olhar: deixar-se reencantar!

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

18 AGO 2021 - 09H22

Shutterstock/ Saurav Bahuguna

"A fé, como a vida, sem o encantamento torna-se cinzenta, trivial!" Esse foi o tweet do Papa Francisco, em 04/06/19.

Encantamento, eis a indicação para os que têm fé. A capacidade de ver e viver com o olhar da Graça de Deus. O encantamento acelera a capacidade de sonhar, de amar, de viver, nos faz experimentar a alegria, o bem, o bom e o belo: “A conversa do insensato é como um fardo para carregar, mas o encanto se acha nos lábios do homem sensato” (Eclo 21, 19).

As decepções, angústias e desilusões ocupam grande espaço de nosso cotidiano e podem nos fazer quebrar o encanto pelo mundo. O desencanto esvazia nosso senso do humor, abala nossa a esperança, alimenta as decepções e nos mantém nas trevas.

Marjan Apostolovic/Shutterstock
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É necessário reencantar nosso olhar recuperando a alegria cotidiana, que está presente em muitos fatos, pessoas e situações. O Papa João Paulo II, agora Santo, na Homilia do Jubileu do Mundo do Espetáculo, em 17/12/2000, explica sobre a verdadeira alegria:

"Esta alegria que brota da graça divina, porém, não é uma alegria superficial e efêmera. É uma alegria profunda, radicada no coração e capaz de penetrar toda a existência do crente. Uma alegria que pode conviver com as dificuldades, com as provações, verdadeiramente, mesmo que isso possa parecer paradoxal com a dor e a morte. É a alegria do Natal e da Páscoa, dom do Filho de Deus incarnado, morto e ressuscitado; uma alegria que ninguém pode tirar a quantos estão unidos a Ele pela fé e pelas obras" (cf. Jo 16, 22-23).

Leia MaisA Espiritualidade da AlegriaO ritmo alucinado, imposto pela secularização ao nosso cotidiano, destrói o senso do humor, abala a esperança e alimenta a decepção.

O desencanto provoca insensibilidade, fazendo com que não consigamos perceber e encontrar a presença de Deus nos irmãos, nas pequenas coisas, nas atividades cotidianas, nas pequenas conquistas, nos gestos de amor.

O desencanto nos faz ter olhar sombrio da vida e nos impede de ter o olha da luz: "Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (Jo 8,12).

O Papa Francisco, na Exortação Evangelii Gaudium, nos apresenta um caminho:

"Uma das tentações mais sérias, que sufoca o fervor e a ousadia, é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados, com 'cara de vinagre'. Ninguém pode empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos.

Embora com a dolorosa consciência das próprias fraquezas, há que seguir em frente, sem se dar por vencido, e recordar o que disse o Senhor a São Paulo: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza» (2 Cor 12, 9). O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas uma cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal. O mau espírito da derrota é irmão da tentação de separar prematuramente o trigo do joio, resultado de uma desconfiança ansiosa e egocêntrica" (EG, 85).

"Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), mas, por escolha humana, o encanto foi quebrado, dando lugar ao desencanto que espalhou a tristeza, a desconfiança e tantas outras mazelas. Somos convidados e desafiados a nos reencantar e olhar o mundo com os olhos de Deus, com o olhar da verdadeira alegria: "Alegrai-vos sempre no Senhor; mais uma vez vos digo: alegrai-vos!” (Fl 4,4) 

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E, nesse caminho, nos ajuda o testemunho dos santos, aqueles que apesar das dores na vida e limitações próprias, souberam abrir-se à Graça e, assim, serem capazes de encantar-se com tudo à sua volta, solidários a esse olhar de Deus. Por isso, confiantes, ao fim da vida, podiam chegar a dizer:

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal:
bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade,
porque a morte segunda não lhes fará mal!

(São Francisco de Assis, Cântico do Irmão Sol)

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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