Por Martín Ugarteche Fernández Em Espiritualidade Atualizada em 24 SET 2019 - 09H14

Tenho mania de limpeza

Syda Productions/ Shutterstock
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Os hábitos de higiene e asseio pessoal são parte importante da nossa formação humana. Eles
não têm somente um impacto sobre a nossa saúde física, mas também são expressão do cuidado que temos com a nossa vida espiritual, a reverência para com as pessoas e inclusive para com Deus. A limpeza da Igreja, por exemplo, das vestes do sacerdote e dos coroinhas, e dos demais paramentos litúrgicos, deve ser a mais adequada possível à dignidade do Mistério que celebramos na Eucaristia e nos demais Sacramentos. 

Leia MaisPsicólogo tira dúvidas sobre autoconhecimento e autoajudaNós mesmos, chamados a ser apóstolos do Senhor, mensageiros da Sua Palavra, devemos cuidar para que nada em nossa pessoa atrapalhe a acolhida da mensagem de Cristo. Isso abrange, certamente, o cuidado com o nosso asseio pessoal e a nossa higiene.

Trata-se, porém, de valores que podem ser relativizados em certas circunstâncias. O próprio Jesus respondeu aos fariseus, que julgavam os seus discípulos por comerem sem lavarem as mãos. A excessiva preocupação com a pureza ritual fazia com que os fariseus se esquecessem do mais importante, que é a pureza do coração. Com palavras duras, em certa ocasião, disse Jesus aos fariseus que eles eram como sepulcros caiados, fazendo referência à podridão interior, que contrastava com a limpeza exterior.

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Certamente, não é deste tipo de cuidado com a limpeza que falamos aqui. O problema aparece quando a excessiva preocupação com a limpeza exterior nos impede de viver a caridade e o serviço aos irmãos.

E não é preciso ir tão longe como Santa Madre Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis ou São Damião, o apóstolo dos leprosos. Às vezes é necessário abrir mão de uma casa limpa e organizada para acolher nossos familiares e amigos, para favorecer a comunhão e a partilha no âmbito familiar.

A abertura à vida, a uma família numerosa, implica muitas vezes a renúncia a esse ideal de uma casa na qual todas as coisas estão sempre no seu lugar. Não se trata, claro está, de “abandonar-se” à bagunça e desorganização, até porque, como vimos acima, fazem parte da educação das crianças os hábitos de higiene pessoal e a ajuda na limpeza da casa. Mas um pouco de “bagunça” é saudável. Refiro-me à bagunça da comunhão, da partilha, da vida. Quando uma casa é ordenada demais, quiçá falta nela um pouco de vida, de alegria.

* A preocupação excessiva com a ordem e a limpeza pode assumir características patológicas. É o caso dos transtornos obsessivo-compulsivos (TOC), do qual padecem cerca de 2,5% dos brasileiros em algum momento da sua vida.

Alguns sintomas deste transtorno são, de acordo com o site da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: que consumam “um tempo razoável (por exemplo, tomam mais de uma hora por dia) ou causem desconforto clinicamente significativo, ou comprometam a vida social, ocupacional, acadêmica ou outras áreas importantes do funcionamento do indivíduo”. É preciso estar atento a estes sintomas para acudir à ajuda de um profissional.

Escrito por
Martín Ugarteche
Martín Ugarteche Fernández

Peruano, membro do Sodalício de Vida Cristã. No Brasil, desenvolveu diversos projetos de evangelização da cultura, como o Concurso Literário Histórias de Natal e a Exposição Fotográfica Vida em Movimento. Doutor em Filosofia, por muitos anos foi professor. Atualmente reside em Roma, onde é responsável de uma das comunidades do Sodalício na Itália e faz parte da equipe de formação. Lançou um curso on-line de filosofia cristã, que é oferecido pelo Centro de Estudos Católicos na sua plataforma digital.

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