História da Igreja

Conheça o movimento dos cátaros ou albigenses

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

12 JUN 2023 - 14H58 (Atualizada em 12 JUN 2023 - 15H44)

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A espiritualidade e o forte misticismo da Idade Média possibilitaram o surgimento de vários movimentos ligados à vida de pobreza.

Leia MaisA lenda do Santo GraalConcílio Vaticano II: 60 anos de sua aberturaA maioria desses movimentos era estimada pelo povo, recebia ajuda e sustentação e contava com o beneplácito da Igreja oficial, mas em várias circunstâncias alguns desses movimentos descambaram para o rigorismo e fanatismo deixando de ser reconhecidos, sofrendo a censura e sendo até mesmo perseguidos pela Igreja.

Um dos casos mais conhecidos é o dos cátaros que também recebem o nome de albigenses por terem na cidade francesa de Albi, uma de suas mais fortes bases.

A origem do movimento

Corria o século XII e na Europa existiam clérigos que pregavam por conta própria, sem terem uma ligação maior com a Igreja. Eles eram até chamados de “bons cristãos” e contavam com a ajuda das pessoas. Chegou, porém, um momento em que renunciaram à Igreja e sairam da comunhão.

A heresia dos cátaros ou puros tem sua origem nos Balcãs, mais precisamente na Bulgária, sendo um resquício da antiga doutrina herética do maniqueísmo, que enxergava tudo a partir de um dualismo entre espírito e matéria, entre bem e mal.

O catarismo foi ficando estranho para a sociedade europeia porque previa o seu fim pela negação do trabalho manual. O movimento renegava também o exército, o matrimônio, a hierarquia civil e eclesiástica e a propriedade privada.

Seus membros condenavam tudo o que era matéria tida como má, se opunha aos sacramentos, especialmente à eucaristia; negavam a encarnação, a ressurreição e se opunham tanto ao Antigo como ao Novo Testamento. O único sacramento que aceitavam era o chamado Consolamentum que se conseguia pela imposição das mãos por um membro mais perfeito ou puro.

Os cátaros possuíam uma boa organização interna, contando com uma própria hierarquia e por volta de 1150, o movimento já tinha se difundido por todo o sul da França. Sua doutrina, apesar de estranha, exercia um fascínio entre o povo mais simples devido à pobreza e modéstia, e por fazer uma crítica feroz à riqueza, ao poder da Igreja e à mundanização de bispos e padres.

Em 1167, os cátaros franceses realizaram uma assembleia no Castelo de Saint-Félix de Caraman e nela oficializaram o abandono do credo católico em quatro paróquias da região, abraçando as novas diretrizes do catarismo. Nessa mesma assembleia foram nomeados os bispos de cada região e fixados os limites de cada diocese.

Reprodução Facebook
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O maniqueismo

No século XII, por causa das cruzadas aumentou muito o fluxo de pessoas entre a Europa e a Terra Santa, facilitando os contatos entre Oriente e Ocidente. A partir daí, ideias e filosofias foram trazidas de terras distantes ganhando adeptos europeus. Nesta época as cruzadas estavam no auge e os mercadores traziam essas ideias junto com suas mercadorias que buscavam. Uma delas, que daria origem ao catarismo, era o antigo maniqueísmo.

Tratava-se de uma religião de origem persa, que deve seu nome ao lendário Manés ou Manion Manique, que viveu entre 215-276, na Babilônia. Ele dizia ser “filho da luz”, seguia os ensinamentos de Zoroastro e defendia uma reforma religiosa radical que procurava a transcendência e a libertação das ilusões da vida terrena e corpórea.

Para Maniqueu, o mundo material era totalmente mal e só o espiritual era bom. Como parte de sua doutrina ensinava que havia dois reinos, o da luz, dominado por Deus e o das trevas, domínio de Satã. O homem, preso por Satã, lutava sem descanso para se libertar das trevas e readquirir a luz, mas sua libertação só podia acontecer através de uma vida austera que se conseguia pelo jejum, pela abstenção do trabalho e pela castidade.

Esta doutrina se estendeu da África do Norte até a China e, mesmo combatida pela Igreja e pelos governos prolongou-se até a Idade Média, quando ressurgiu com os cátaros.

O medo das represálias fez com que os cátaros mantivessem seu credo em silêncio, mas a popularização do movimento passou a atrair mais gente e os seguidores passaram a agir abertamente, pois já dispunham da proteção de muitos senhores feudais.

Cruzada Albigense

No início a Igreja tentou conter a expansão do movimento buscando a reconversão, sobretudo, de seus líderes, enviando pregadores que clamavam pela sua volta, mas isso não surtiu o efeito desejado. Quando o papa Inocêncio III assumiu o pontificado em 1198, a Igreja endureceu as medidas suspendendo os direitos eclesiásticos de diversos bispos do sul da França e agindo contra os líderes do movimento.

Em 1208, quando o representante da Igreja junto ao movimento foi assassinado os ânimos se acirraram de vez acontecendo diversos casos de violência contra os seguidores da nova doutrina e da parte deles para com membros e propriedades da Igreja.

O Papa Inocêncio III tentou conter os abusos de ambos os lados escrevendo bulas e reduzindo o luxo em Roma, tão severamente criticado. Para conseguir aliados apoiou a fundação de ordens mendicantes que viviam a pobreza radical como a dos franciscanos e os dominicanos.

Em 1209, Inocêncio III autorizou uma primeira cruzada contra os cátaros e albigenses que seria comandada pelo rei da França, Felipe II e por cavaleiros franceses. Nesta ação militar foram envolvidos quase 30 mil soldados.

Em 1224, com o apoio do papa Honório III (Inocêncio III faleceu em 1216), começou a segunda fase da Cruzada Albigense quando o então rei da França, Luís VIII, liderando os barões do norte francês, empreendeu uma nova investida que durou cerca de três anos com muitas conquistas até chegar a Avignon, onde terminou o cerco contra os hereges.

De ambos os lados havia interesses e negociatas políticas, o movimento foi derrotado, mas suas ideias fundamentais permaneceram e volta e meia renascem na Igreja e na sociedade.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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