HISTÓRIA DA IGREJA 17
A religiosidade na Idade Média
O homem medieval, mesmo vivendo uma situação de vida bem precária, sem garantia de como seria o seu dia seguinte, era um homem muito religioso. Sua fé se manifestava de formas diferentes e todo o seu dia, desde o amanhecer até o anoitecer, tinha uma conotação religiosa.
O cristão medieval acreditava que a vida se passava num combate renhido entre o bem e o mal, podendo contar com os santos que combatiam ao seu lado contra Satanás.
Característica forte da religiosidade era a luta contra o pecado, devendo “fugir das ocasiões” que pudessem leva-lo a perder a sua alma, sendo condenado ao inferno. Além da confissão dos pecados veniais, com as penitências públicas se podia pagar as penas dos pecados mais graves. Mas estas aos poucos vão desaparecendo.
Entre os muitos gestos e ritos havia a predominância das peregrinações, o culto às relíquias, a participação na missa e as distintas formas de penitência. Havia ainda gestos menores que variavam de região para região. Parte desta prática espiritual chegara até nós com a vida de piedade ou religiosidade popular que é forte especialmente nos países de culto latino.
As peregrinações
Os locais e centros de peregrinação ou romaria estavam associados às relíquias milagrosas, túmulos de santos ou acontecimentos considerados miraculosos.
A peregrinação, como daqueles que viajavam a Roma sob mil perigos, ou dos que demandavam à Terra Santa para visitar os lugares associados com a vida de Jesus, era vista como uma forma de penitência, buscando alcançar a cura de uma doença ou alguma graça especial, da qual a mais sublime era a remissão dos pecados.
Algumas peregrinações podiam levar anos e, aos poucos vão se definindo as rotas da fé, ao longo das quais passam a ser construídos albergues e pousadas. Os mosteiros também forneciam pouso aos peregrinos.
A partir do século XI, os maus tratoS recebidos pelos peregrinos que iam à Terra Santa serviriam como motivação para as cruzadas e estas, por sua vez, fariam crescer o número dos que buscavam visitar os lugares santos, trazendo de lá relíquias que, verdadeiras ou não, fariam crescer o comércio do sagrado na Europa.
Em cada região ou país surgiriam os centros de peregrinação, onde se destaca o Caminho de Compostela, na Espanha.
O culto às imagens, relíquias e devoções
Na Igreja do Ocidente, o culto das imagens é visto não só como uma forma de instrução catequética das verdades da fé para os que não sabiam ler, como também uma forma de elevar a vida de piedade das pessoas.
O culto das relíquias também cresceu muito. Não se concebia, por exemplo, fundar uma cidade sem que ela tivesse uma relíquia de primeiro grau. A posse de uma relíquia de um santo significava garantia e proteção contra os males físicos e espirituais.
No final da Idade Média e início da Idade Moderna, alguns mosteiros mediam seu esplendor e riqueza pela quantidade de relíquias que possuía. Possuir uma relíquia era estar em contato com Deus através do santo.
Em várias ocasiões a Igreja precisou intervir para proteger as pessoas e as igrejas contra os abusos, a falsificação, o comércio desenfreado e a superstição.
Em meados do século XI crescem as devoções de cunho cristológico e também práticas devocionais associadas a Nossa Senhora.
A Santa Missa
No início da Idade Média, a missa ainda não era celebrada todos os dias. Uma das consequências disso é que nem sempre ela era valorizada como devia e o culto dos santos e das relíquias concorria com sua celebração. Aos poucos surge uma religião considerada oficial, feita de ritos que nem sempre eram entendidos, tendo ao seu lado uma religião popular mais ao alcance de todos, até dos mais humildes.
Na Idade Média surgiu também o costume de ser sepultado no interior das igrejas ou perto delas, para que as pessoas pudessem participar dos “méritos” das celebrações. A Igreja se tornara possuidora de muitos cemitérios e em muitas igrejas foram construídas as criptas. Em geral, a maioria das pessoas que nelas eram sepultadas vinham da realeza e da nobreza.
Ainda da Idade Média veio o costume da multiplicação de altares nas igrejas e mosteiros, de modo que, ao mesmo tempo, podiam ser celebradas diversas missas. Veio o costume das celebrações “perpétuas”, na intenção de pessoas que deixavam grandes valores ou heranças para que sempre se rezasse em sua intenção.
Não entendendo o latim, língua usada na missa, a maioria dos fiéis concentrava sua atenção no momento da elevação da hóstia, quando se tocava o sino. Depois disso, a atenção se voltava novamente para as imagens, vitrais e objetos de decoração das igrejas, que “enchiam” os seus olhos.
A festa de Corpus Christi nasceu neste período, com a finalidade de se realizar a adoração pública e solene da Eucaristia, que percorria as ruas dos povoados e cidades. Multiplicam-se os chamados Milagres Eucarísticos, como os de Bolsena, Cássia e Orvieto.
A prática da penitência
Os monges medievais adaptaram a confissão às necessidades pastorais e a prática penitencial passa a ser mais estreitamente ligada com a Missa, pois só podia comungar quem houvesse se confessado. A peregrinação era também uma ocasião especial para se buscar a confissão, como ainda hoje acontece nos grandes santuários.
O penitente, ao se confessar, ganhava uma penitência secreta e, sendo absolvido, podia comungar. A confissão aos poucos deixa de ser apenas a acusação dos pecados para se focar um pouco mais na reconciliação. As formas públicas de penitência aos poucos vão sendo suprimidas, mas torna-se obrigatória a confissão pelo menos três vezes ao ano.
Para ajudar os confessores na prática do sacramento e na administração das penas, surgem os Livros Penitenciais que os ajudam a fixar a penitência. Um dia de jejum a pão e água, por exemplo, pode ser substituído por 50 Salmos recitados de joelhos ou 70 em pé, ou então por 200 genuflexões. O pecado passa a ser coisificado, podendo ser expiado com um número de salmos, com dias de jejum, com a flagelação ou com o pagamento de certas taxas.
Do mundo germânico veio o costume do empregado poder pagar a penitência no lugar do seu patrão, já que o mais importante é que o pecado fosse remido. Infelizmente os abusos e exageros praticados no campo das práticas penitenciais, como é o caso das indulgências, provocarão o pano de fundo para a Reforma Protestante.
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