O cristianismo no Norte da Europa

Recebendo o mandato de Cristo de anunciar o evangelho a todas as gentes, logo após a ressurreição de Cristo e Pentecostes, a Igreja nascente começou um processo de expansão da fé que nem mesmo as perseguições sofridas nos três primeiros séculos conseguiu impedir. Saindo de Jerusalém, o cristianismo nascente passou pela Galileia, entrou na Ásia Menor (hoje Turquia) e de lá entrou na Europa par a nunca mais parar.

No mundo hoje existem 1,2 bilhões de cristãos presentes em quase todos os países do mundo, mesmo naqueles lugares onde os cristãos precisam viver sob uma “cortina de ferro” como é o caso da Coreia do Norte.

A presença cristã é muito marcante em diversos lugares do mundo, como na Itália, nos países da América Latina e mesmo nos Estados Unidos. Existe, porém, algumas regiões das quais pouco se fala e pouco se sabe sobre a presença da Igreja católica, como a região norte da Europa, onde estão os países nórdicos: Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia.

Além de paisagens deslumbrantes, esses países compartilham cultura, história e valores sociais muito semelhantes, sendo reconhecidos pelo alto nível de desenvolvimento humano, sistemas de bem-estar exemplares e profundo respeito pelo meio ambiente. Geograficamente, estendem-se das penínsulas escandinavas até as ilhas do Atlântico Norte, com climas que vão do ártico ao temperado.

Ainda que com um reduzido número de cristãos, a Igreja Católica também se faz presente na região nórdica e a cristianização da região começou ainda na Idade Média. Nesse texto falamos um pouco do catolicismo na Noruega, um dos países mais representativos da região.

Vermeulen-Perdaen/ Adobe Stock

Cristianização da região

A Igreja Católica na Noruega é tão antiga quanto o próprio reino, que data de cerca de 900 d.C., com o primeiro monarca cristão sendo Haakon I, a partir de 934. O país foi oficialmente convertido após a morte do rei Olavo, hoje declarado santo pela Igreja, na Batalha de Stiklestad no ano de 1030.

Um dos lugares historicamente sagrados da Noruega é o Santuário de Selje, localizado em Nordfjord, cuja origem remonta ao século X. Esse santuário é tradicionalmente considerado como o berço do cristianismo na Noruega e nos países nórdicos.

Assim como muitos locais de peregrinação considerados sagrados na história da Igreja, a ilha de Selje está ligada à lenda de uma princesa irlandesa de nome Sunniva e seus companheiros. Reza a lenda que ela fugiu de sua terra natal no século IX, a fim de escapar de um casamento arranjado com um rei pagão, como era costume naquele tempo. Em represália, o rei saqueou o seu reino como forma de punição.

A princesa, acompanhada de um grupo de seguidores que, como ela, eram cristãos, embarcaram em barcos sem velas ou remos, confiando inteiramente na providência de Deus para guiá-los para a segurança. Eles acabaram aportando na ilha sagrada de Selje, "onde se estabeleceram em cavernas para não serem descobertos, levando uma vida de jejum, abstinência e oração".

Ainda segundo a lenda, quando seus inimigos se aproximaram, a caverna desabou em torno de Sunniva e demais pessoas, preservando sua pureza e santidade. Alguns anos depois, o seu corpo incorrupto foi descoberto e, a partir daÍ, a ilha se tornou o primeiro local de peregrinação da Noruega, e Sunniva se transformou na primeira santa do país escandinavo.

Durante o século XI, Selje ganhou mais destaque ainda ao se tornar sede da primeira diocese do reino, depois supressa. Ali também foi construído um mosteiro beneditino. Fundada em 1100, a Abadia de Selje funcionou como mosteiro e santuário até ser abandonada no início do século XVI.

Além de Selje, outros locais de peregrinação também estão recebendo fiéis durante o Ano Jubilar da Esperança e as celebrações que acontecem nesses locais se transformam em símbolo de fé e esperança, recordando a história cristã da Noruega, reforçando o vínculo entre o passado venerado e o presente de renovação espiritual.

add_box Cristianismo - Da Pregação de Jesus até Constantino

A Igreja na Noruega hoje

Em outubro de 2012, mais de 115 mil católicos registrados na Noruega e o Anuário indicava 84,5 mil católicos na Diocese de Oslo, 3,5 mil na Prelazia de Tronso e 5,5 mil na prelazia de Trondheim indicando que a igreja norueguesa apresentava um bom crescimento. Mas, como existem muitos católicos que não se registravam nas paróquias, o número real pode ser bem maior. Em 2022, este número já havia crescido para 230 mil, 70% dos quais de origem estrangeira.

Em 2024, cerca de 5% da população norueguesa se declarava católica, o que faz do país o mais católico do norte da Europa.

Hoje o país está organizado em três circunscrições eclesiásticas: a Diocese de Oslo e as prelazias de Trondheim e Tronso nas quais existem cerca de 37 paróquias.

A reforma protestante do século XVI transformou a Igreja Católica numa igreja de minoria, contando com apenas alguns milhares de pessoas até o período posterior à Segunda Guerra Mundial, quando o país começou a receber muitas levas de imigrantes. Na década de 1960, por exemplo, a Igreja Católica cresceu rapidamente, passando de 06 mil para 40 mil em 1996 e para mais de 200.000 em 2013.

Os primeiros imigrantes eram provenientes da Alemanha, dos Países Baixos e da França. Hoje, dentre os grupos maiores, contam-se os descendentes de filipinos, vietnamitas e tâmeis. A partir de 2008, chegaram também os imigrantes provenientes da Polônia e da Lituânia, modificando o rosto da população do país e dando mais dinamismo à Igreja.

add_box Reveja: Diálogos aborda os desafios do Cristianismo