Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 22 JUL 2020 - 09H43

Os cemitérios e a herança arqueológica de Aparecida


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Os
cemitérios, além de guardarem os restos mortais de pessoas queridas, fazem parte do roteiro histórico de visitação em diversas regiões turísticas do mundo. Neles são identificados elementos que demonstram a história social e artística das regiões, através de suas estátuas, das obras arquitetônicas, dos epitáfios e dos símbolos encontrados e analisados nos túmulos. Isso possibilita a valorização e a exaltação, bem como a preservação desse patrimônio público. Muitos ficaram conhecidos como “museus a céu aberto” e isso não é apenas por causa dos túmulos de pessoas famosas, não!

Os cemitérios podem dar valiosas informações, como sugere alguns pesquisadores famosos, sendo fontes de história contribuindo para preservação da memória familiar e coletiva. Neles se pode realizar um estudo das crenças religiosas, da expressão do gosto artístico e da ideologia política de uma época determinada, além de conhecer a formação étnica, a genealogia e a perspectiva de vida de cada período. Exemplo disso é o significado relevante das catacumbas dos arredores de Roma e de outras cidades para o conhecimento da história da Igreja.

O estudo destes espaços sagrados indica que os cemitérios não são apenas lugares de tristezas e dor, mas podem se transformar em locais de purificação em todos os sentidos da vida. Como os cemitérios acabam trazendo uma complexa e abstrata simbologia através de sepulturas e mausoléus, eles são lugares propícios para o estudo dos valores que movem uma determinada cultura ou civilização.

Mensagens que fazem alusão a conceitos religiosos de uma época ou que fornecem informações sobre as pessoas do passado, suas origens e nível social, funcionam como uma rica fonte de pesquisa sociológica e cultural, pois através da observação de estátuas e lápides, é possível conhecer as características de uma época. Trata-se de um recado congelado no tempo. Uma tentativa atemporal de diálogo com vivos.

Os restos de antigas culturas e de pessoas que viveram antes de nós são como que uma porta que nos liga ao passado e nos projeta ao mesmo tempo para o futuro.

Arqueologia

Devido às peculiares condições topográficas de Aparecida e de seu entorno, e também por causa de sua localização geográfica, a cidade foi rota de passagem obrigatória e uma verdadeira encruzilhada da cultura indígena. A região onde hoje localiza-se a cidade transformou-se num lugar apropriado para o trânsito e/ou fixação de várias tribos indígenas que hoje são conhecidas graças ao estudo dos restos arqueológicos aqui deixados.

As informações históricas indicam que o Vale do Paraíba e também a região de Aparecida já eram ocupadas bem antes da chegada do europeu no século XVI. Os primeiros traços da ocupação deste território datam do século XI.

Arquivo Pessoal/ Padre Inácio Medeiros C.S.s.R
Arquivo Pessoal/ Padre Inácio Medeiros C.S.s.R
Rodoviária de Aparecida provavelmente erguida sobre um cemitério de séculos atrás


Na década de 1960, quando das
escavações para se erguer a Estação Rodoviária de Aparecida, ali foram encontrados objetos arqueológicos de suma importância para o conhecimento das culturas indígenas que povoaram o Vale do Paraíba, dentre os quais crânios, armas e urnas funerárias, levantando a tese de que o local possa ter sido uma espécie de cemitério há centenas de anos atrás.

Pelo que foi encontrado, uma certeza se tem: aqui também era solo sagrado para os indígenas, pois nele estavam seus antepassados enterrados.

A maioria desses objetos, excetuando os que se perderam com a escavação, foram coletados pela Professora Conceição Borges, que, num determinado momento, conseguiu que as obras da rodoviária fossem suspensas para que houvesse tempo para recolher alguns "cacos e ossos velhos", como foi dito na época, mas que hoje são parte de um legado arqueológico muito importante para estudar as nossas raízes.

Boa parte deste patrimônio, além de outros restos arqueológicos encontrados em outros lugares, inclusive nas escavações para a construção do Santuário Nacional, estão conservados no Museu do Santuário Nacional, que havia sido inaugurado em 08 de setembro de 1956, e parte foi destinada a outros museus, como o Museu Paulista, localizado no Bairro do Ipiranga, em São Paulo.

Feliz o povo que sabe preservar a sua história, não só como testemunho de tempos idos, mas como porta de se compreender muitas coisas da atualidade e de projetar o seu futuro!

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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