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História da Igreja

Sacro Império Romano-Germânico

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

29 ABR 2021 - 14H46 (Atualizada em 30 ABR 2021 - 08H36)

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA MEDIEVAL 08

Chegou um momento em que o Sacro império Romano entrou em decadência, sendo substituído ou continuado pelo Sacro Império Romano-Germânico. O império passou a ser governado por dinastias de origem germânicas, apesar de serem as mais diversas.

Recordamos que primeiramente os soberanos do Sacro Império Romano foram os imperadores carolíngios, uma dinastia franca que foi responsável por restabelecer o Império Romano do Ocidente entre os anos 800 a 887, tendo como principal figura o Imperador Carlos Magno, considerado o primeiro Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, a partir de sua coroação no dia 25 de Dezembro de 800 na Basílica de São Pedro, em Roma.

Dinastias se sucedem no trono do império

Depois da Dinastia Carolíngia foi a vez da dinastia Guideshi, sem grande esplendor, que em pouco tempo deu lugar novamente a dinastia Carolíngia. Como terceira dinastia veio a dos Saxões, que eram povos germânicos que viviam onde hoje temos o noroeste da Alemanha e o leste da Holanda.

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Imperador Carlos Magno

Em quarto lugar veio a dinastia Sálica, e logo depois a dinastia Von Süpplingerburg, seguida pelos von Hohenstaufen, os Guelfos, e os von Wittelsbach respectivamente. A última dinastia que governou por mais tempo inclusive, de 1273 a 1806, é a dinastia dos Habsburgos, que teve fim com as Guerras Napoleônicas (conflito armado que ocorreu de 1799 a 1815, em que nações da Europa se opuseram aos planos expansionistas de Napoleão Bonaparte), representada na figura do Imperador Francisco II.

Os territórios deste mesmo Sacro Império Romano – Germânico seriam palco da Guerra dos Trinta Anos, que envolveu diversas nações europeias que tinham os mais variados motivos todos concentrados nas rivalidades religiosas entre católicos e protestantes, após o advento da Reforma Protestante no século XVI.

Expansão do império

A expansão territorial do Império Romano-Germânico sempre foi muito variável, ou seja, a extensão verdadeira do território do império foi sempre questionável, pois seu ápice ocorreu quando o império conseguiu englobar alguns territórios que hoje formam a Alemanha, Áustria, Suíça, Liechtenstein, Luxemburgo, República Tcheca, Eslovênia, Bélgica, Países Baixos, e uma grande parte da Polônia, França e Itália.

Na maior parte de sua história, o Sacro Império Romano-Germânico foi composto por centenas de pequenos reinos, principados, ducados, condados, e cidades livres imperiais, e outras formas de domínios. Apesar do nome “Sacro Império Romano-Germânico”, o império nunca chegou a dominar a cidade de Roma. Ele recebeu esse nome como homenagem a todas as glórias e ao poder que o Império Romano conseguiu com o passar do tempo em quase todo o continente europeu. Nessa infinidade de unidades territoriais o imperador na maioria das vezes tinha apenas uma autoridade “de honra”, ou seja, reinava, mas não governava. A verdadeira autoridade estava em Roma, sentada no Trono do Apóstolo Pedro.

Sinais de decadência e restauração

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O Sacro Império muitas vezes teve suas fronteiras ameaçadas por invasões e na vida interna pela corrupção, pela busca do favoritismo, pela negligência do clero e pelo banditismo. Príncipes e nobres buscavam construir sua riqueza dominando o patrimônio eclesiástico e até comprando cargos e ofícios religiosos.

Ao chegar aos séculos IX e X a crise do Império atingiu diretamente a Igreja, já que um poder apoiava o outro. Sendo assim, o enfraquecimento do império trouxe consigo o enfraquecimento da Igreja, deixando o papa à mercê de senhores feudais ambiciosos ou das desavenças das famílias da nobreza romana. Diversos papas não estavam à altura de sua missão, surgindo até a lenda, desmistificada, da Papisa Joana.

O papa Nicolau I (858-867), diligente e forte, procurou garantir a liberdade e a independência da Igreja, excluindo a intervenção política no campo eclesial. Ele enfrentou lutas contra bispos ambiciosos, senhores gananciosos e com o patriarca de Constantinopla, tendo clara sua noção de poder de governo na Igreja.

Com sua morte, a Igreja romana mergulhou numa crise de vastas proporções. A sede da Igreja em Roma foi dominada por famílias nobres e por mulheres poderosas que faziam e desfaziam papas.

A morte de João VIII (882), envenenado pelos parentes, fez inaugurar um período denominado de “Século Obscuro” ou “Século de Ferro” do pontificado. Num período de 67 anos, 44 papas passariam pelo governo central da Igreja. Foram colocadas no trono de Pedro pessoas sem responsabilidade moral e até desqualificadas. Houve até mesmo casos de mortes contratadas no pontificado por causa dos muitos interesses conflitantes.

João XII, eleito aos 17 anos, tinha mais interesse em caçadas e noitadas do que na liderança da Igreja. Mas, foi esse homem de moral duvidosa que marcou a reviravolta quando em 960 dirigiu-se ao imperador germânico Oton, o Grande (930-973), pedindo sua ajuda para controlar os territórios papais. O imperador atendeu ao pedido de socorro, descendo a Roma, colocando em ordem os Estados Pontifícios.

Com a morte de Oton, recomeçaram as desordens e a partir de 973, por mais 40 anos, a família Crescêncio dominaria Roma, fazendo e desfazendo papas. Após curto período de paz, nova família domina a capital, a dos Tusculanos. Um deles fez três membros de sua família como papas, dois irmãos e um filho, todos leigos.

A ordem seria reconstituída pela dura intervenção dos imperadores germânicos e coroada com a Reforma Gregoriana. A energia reformadora viria, como muitas vezes aconteceu na Igreja, dos mosteiros. Neste caso, do mosteiro de Cluny, que iniciou o processo de renovação do conceito de liberdade na Igreja.

Hoje entendemos que a raiz da crise está no fato dos papas terem perdido a dimensão universal de sua missão, contentando-se com o jogo do poder romano. Quanto menos a igreja se prender à dimensão territorial, mais liberdade ela terá para desenvolver a sua verdadeira missão.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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