Igreja

CNBB responde ofensas de deputado e entrega carta à Alesp

Escrito por Redação A12

17 OUT 2021 - 11H24 (Atualizada em 19 OUT 2021 - 09H36)

CNBB

A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou no domingo (17), uma Carta Aberta dirigida ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), o deputado estadual Carlão Pignatari.

No documento, a CNBB rejeita “fortemente as abomináveis agressões” proferidas no último dia 14 de outubro, dia de seu aniversário de 69 anos de presença e serviços ao Brasil, pelo deputado estadual Frederico D’Ávila, da Tribuna da ALESP.

O político, diz a carta, agiu com ódio descontrolado e desferiu ataques ao Santo Padre o Papa Francisco, à própria CNBB e ao arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes. A CNBB defende que, com esta atitude, o deputado “feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes” e vai buscar uma reparação jurídica a ser corrigida “pelo bem da democracia brasileira”.

Na Carta Aberta, a CNBB afirma se ancorar, profeticamente, sem medo de perseguições, no princípio contido na Gaudium et Spes (“Alegria e Esperança” em latim) sobre o papel da Igreja no mundo contemporâneo, a única constituição pastoral e a 4ª das constituições do Concílio Vaticano II:

"A Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem" (cf. Gaudium et Spes, 76).

Reprodução/ Facebook Deputado Carlão Pignatari
Reprodução/ Facebook Deputado Carlão Pignatari


CNBB, Arcebispo e Papa recebem apoio

As mensagens de solidariedade que chegam à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao Arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, e também endereçadas ao Papa Francisco têm se multiplicado:

O vigário regional da Prelazia Opus Dei no Brasil, padre Fábio Henrique Carvalheiro, divulgou declaração manifestando repúdio às declarações. No texto, ressaltou que “a Prelazia, cujas finalidades são exclusivamente espirituais e apostólicas, sempre viveu e fomentou – pois esse é o espírito ensinado pelo seu fundador, São Josemaria Escrivá – veneração pelo Santo Padre e união ao colégio episcopal e à Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil".

Já o Comissário Pontifício para os Arautos do Evangelho, cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, reiterou a comunhão com o Santo Padre, o Papa Francisco, a CNBB e Dom Orlando Brandes e reprovou “o pronunciamento infeliz do deputado da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”.

A vida religiosa consagrada feminina, por meio da União das Superioras Gerais das Congregações Brasileiras (USGCB), manifestou apoio e solidariedade a dom Orlando e ao Papa Francisco, a quem consideram “profetas de nosso tempo, que anunciam que a alegria do Evangelho é vida em abundância para os pobres”. No texto, assinado pela diretora Geral das Irmãs do Imaculado Coração de Maria e delegada da USGCB, irmã Maria Freire da Silva, a entidade observa que o dinamismo da profecia “nunca é aceito por aqueles que são contrários ao Projeto de justiça e de verdade, proclamado e vivenciado por Jesus Cristo”.

A Diocese de Taubaté (SP) e os Jesuítas também se manifestaram em defesa e repudiaram a atitude do deputado.

Nesta segunda-feira (18), a CNBB, por meio da presidência de seu regional Sul 1, entregou pessoalmente o documento ao presidente da ALESP, deputado Carlão Pignatari. Em sua conta do Facebook, o parlamentar publicou: 

"Recebi representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que me entregaram as cartas de repúdio quanto às falas proferidas contra o Exmo. Revmo. Sr. Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida e o Santo Padre, o Papa Francisco. Peço desculpas a todos que se sentiram ofendidos pelas palavras que não representam a opinião da Assembleia Legislativa de São Paulo. Acredito que o parlamentar também reconheça seu excesso e o espaço permanece livre para eventual retratação".

O Deputado Estadual também escreveu na publicação que a tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo é o lugar mais importante do plenário, onde as deputadas e deputados tem o direito de falar, expressar suas opiniões e representar os anseios do cidadão paulista. Também é um lugar onde o respeito deve ser priorizado. "A tribuna é ponto de convergência, permitindo opiniões contrárias, mas jamais a pregação do ódio".

 Veja abaixo a íntegra da Carta preparada pela CNBB:

Exmo. Sr.
Deputado Estadual Carlão Pignatari
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Cidadãos e cidadãs brasileiros,

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes.

Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei.

Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência – postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres.

Em Cristo Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”, fraternalmente,

Brasília-DF, 16 de outubro de 2021


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente


Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente


Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente


Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral

Fonte: CNBB

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