Por Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Igreja

Conhecendo os Evangelhos: Jesus e os Fariseus

Conhecendo os Evangelhos compreende uma série de artigos interpretativos.
Em cada artigo será apresentada uma passagem bíblica e uma reflexão. 

EVANGELHO – Mt 23, 13-15; 23-28 

13 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar. 14 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados com muito maior rigor. 15 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos. 23 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem, contudo, deixar o restante. 24 Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo. 25 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança. 26 Fariseu cego! Limpa, primeiro, o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo. 27 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. 28 Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade! 

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REFLEXÃO 

Fazendo uma rápida pesquisa nos livros de história, nos comentários bíblicos e na Internet, as referências que encontramos sobre os fariseus são as piores possíveis. Teria sido esse grupo tão monstruoso e pecador assim? Queremos refletir sobre essas questões no Evangelho de hoje!

O grupo dos fariseus é descrito por um historiador judeu da época, Flávio josefo, com as seguintes palavras: "Os fariseus impuseram ao povo muitas leis provenientes da tradição dos Antigos, que não estavam escritas na Lei de Moisés". (Flávio Josefo, Antiguidades judaicas, XIII, 10, 6 ). Portanto, dentre os fariseus, havia muitos intérpretes das Leis escritas de Israel, como também comentadores e promulgadores de novas leis orais.

Esse grupo nasceu há quase dois séculos antes do nascimento de Jesus. Quando Antíoco IV Epífanes assumiu o controle do Império Selêucida (da Síria), começou uma forte política de uniformização do Império, obrigando todas as suas províncias a obedecerem aos seus comandos. Por isso, ele é descrito como “a raiz do pecado” no primeiro Livro dos Macabeus 1, 10. Foi Antíoco que profanou o que era mais sagrado ao povo de Israel, o Templo: “No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento e quarenta e cinco, Antíoco levantou sobre o altar dos holocaustos a abominação da desolação. Também pelas cidades de Judá ao derredor ergueram-se altares”. (I Mac 1, 54). Mas alguns judeus se negaram a obedecer às ordens do Imperador, e formaram um grupo de resistência: hassidim (piedosos). Deste grupo, surgiram aqueles que queriam se afastar dos demais; viver fielmente as leis de sua Tradição longe dos judeus comuns. Esses ficaram conhecidos como perushim (פְּרוּשִׁים), ou seja, os separados do resto da população. Provavelmente, a nossa palavra portuguesa Fariseus vem do grego Pharisaios (Φαρισαῖος), através do latim Pharisaeus.

 

"Jesus denuncia publicamente o quão prejudicial é um ser humano se apegar a regras e normas escritas, ou vindas da tradição". 

Os fariseus se tornaram homens vistos com grande respeito pela população, pois eles lutavam para manter a identidade do judaísmo. A estrita observância da Lei e a rigorosidade em julgar as pessoas serão os pontos chaves de embate com Jesus e, mais tarde, com Paulo.

Nesta pequena parte do Evangelho de Mateus, vemos um Jesus exaltado; exausto de tanto esforço aplicado para convencer que o Espírito é o que rege as nossas atitudes, não as leis: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!”. Jesus denuncia publicamente o quão prejudicial é um ser humano se apegar a regras e normas escritas, ou vindas da tradição. O Mestre não ataca de forma arbitrária aqueles homens que, na sua maioria, tinham boas intenções. Ensinar ao povo como se aproximar de Deus é uma prática muito antiga, e, por isso, feita de várias formas.

Jesus lança essas ofensivas para todos os que estavam à sua volta, mas as palavras dele têm uma grande repercussão através dos séculos, pois Jesus conhecia bem a natureza humana.

E hoje? Seria muito mais veemente um discurso contra o rigorismo e contra a casuística da nossa humanidade atual. A começar por todos e cada um de nós: somos falsos, orgulhosos, injustos, rancorosos e vingativos. Ainda que lutemos contra essas nossas falhas, elas sempre nos visitam. Muitas vezes, somos guias cegos, pois queremos ensinar às pessoas como agir no dia a dia, mas acabamos tornando-as dignas de perdição dez vezes mais. Temos carne fraca, mas adoramos as rubricas e o rigorismo.

Hoje, diríamos: Ai de vós, políticos falsos! Prometem uma vida melhor para aqueles que vocês representam, mas pensam somente em devorar o dinheiro e a vida dessas pessoas! Ai de vós, racistas e preconceituosos! São capazes de matar o próximo por causa da peculiaridade de cada um, mas escondem grandes podridões dentro de si! Ai de vós, pastores e padres e entendidos de Bíblia! Dominam e alienam as “almas” somente para obter os seus desejos desses corpos sofridos! E, por fim: “Ai de todos nós, que não fazemos o mínimo para limpar a nossa vida pessoal, a nossa comunidade e a sociedade à qual pertencemos”. Pois não queremos chegar à presença do Cristo ressuscitado e recebermos a seguinte repreensão: os urubus fizeram mais pelo mundo do que você, meu amado! Sejamos amáveis, úteis, justos e misericordiosos!    

Padre Queimado articulista colunista

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