Igreja

O conflito entre o chamado à evangelização e a liberdade religiosa

Pe. Luiz Almir Gonçalves, C.Ss.R.

Escrito por Pe. Luiz Almir Gonçalves, C.Ss.R.

11 MAI 2022 - 08H47 (Atualizada em 11 MAI 2022 - 09H33)

Riccardo Mayer/ Shutterstock

“Ide e ensinai a todas as nações” (Mt 28,19). Jesus Cristo, com estas palavras, convoca os apóstolos e todos os cristãos para uma missão: anunciar o Reino de Deus. O Decreto Apostolicam Actuositatem afirma que “aos apóstolos e seus sucessores, confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar em seu nome” (AA 2). Como sucessores dos apóstolos, no dia do nosso Batismo, recebemos a missão de anunciar a Palavra do Senhor. Todo batizado é, por excelência, missionário de Jesus Cristo.

À luz desta missão, muitos – milhares – de cristãos cruzaram fronteiras para anunciarem Jesus Cristo. Estes, ao adentrarem em novas terras, depararam-se com novas culturas e diferentes civilizações que viviam e pensavam diferentes. O encontro de cristãos com outros povos, algumas vezes, foi marcado por conflitos. O Documento de Aparecida, ao abordar a evangelização no Continente latino-americano, afirma que “desde a primeira evangelização até os tempos recentes, a Igreja tem experimentado luzes e sombras” (DAp 5).

Infelizmente, frequentemente estas sombras ofuscam as luzes, sobretudo com o advento das fake news. Todavia, o que não é fake news é o fato de que pessoas não tementes a Deus usaram o nome da Igreja para conseguirem seus objetivos, não em poucas vezes, com imposições e brutalidades. Tais brutalidades foram combatidas pela Igreja.

O Documento de Santo Domingo afirma que “desde os primeiros passos da evangelização, a Igreja Católica, movida pela fidelidade ao Espírito de Cristo, foi defensora infatigável dos índios, protetora dos valores que havia em suas culturas, promotora de humanidade diante dos abusos de colonizadores, às vezes sem escrúpulos” (SD 4).

Diego Rosa
Diego Rosa

A evangelização cristã de muitos povos, em alguns momentos, teve períodos de disputas. Porém, a Igreja Católica, como herdeira da cultura clássica, conhecimentos e outros atributos - herdados de antigas tradições - dentre as quais, a do Império Romano, também contribuiu para o desenvolvimento de civilizações cristianizadas. O Documento de Aparecida afirma que “o encontro da fé com as culturas as purifica, permite que desenvolvam suas virtualidades, enriquece-as, pois todas elas procuram, em última instância, a verdade, que é Cristo (DAp 477)

Além da mensagem cristã, os fiéis discípulos de Jesus Cristo, aos povos evangelizados, também implantaram universidades, hospitais, escolas e diversos institutos de caridade. Por isso, segundo o Annuarium Statisticum Ecclesiae, atualmente, a Igreja Católica é a maior instituição de caridade do mundo, com mais de 115 mil institutos sanitários de assistência e beneficência espalhados em todos os continentes (cf: Las estadísticas de la Iglesia Católica, Agenzia Fides, octubre de 2021).

Leia MaisPensamento crítico e seguimento da Doutrina: são conciliáveis?Ao expandir a sua evangelização, a Igreja Católica também teve como preocupação oferecer elementos que pudessem colaborar com a promoção e a liberdade humana. Os documentos da Doutrina Social da Igreja comprovam esta preocupação. Liberdade e respeito são dois alicerces que permeiam a doutrina católica.

Todavia, infelizmente, em alguns momentos, “lobos disfarçados de ovelhas” (Mt 7,15), em nome da Igreja Católica, pregou um cristianismo visando interesses próprios, suprimindo, assim, a liberdade religiosa e os princípios do Santo Evangelho. Muitas atrocidades, na atual conjuntura, continuam acontecendo “em nome de Deus”.

Quando a ambição de poder é maior do que a fé, os valores do cristianismo são distorcidos para atender interesses pessoais. Porém, a Igreja Católica, como guardiã da fé cristã, no percurso da sua história, sempre procurou viver as palavras de Jesus Cristo:

“Não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28).

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Pe. Luiz Almir Gonçalves, C.Ss.R.
Pe. Luiz Almir Gonçalves, C.Ss.R.

Missionário redentorista, trabalha nas Santas Missões Redentoristas. Fez mestrado em Teologia Pastoral da Comunicação na Pontificia Universitá Lateranense, Roma.

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