Por que alguém escolhe viver só para Deus?

Você conhece a vocação à Vida Consagrada? Na Igreja Católica, refere-se às pessoas que se dedicam inteiramente a Deus por meio de votos e seguindo um carisma específico, ordem religiosa ou instituto.

Esse é o caso, por exemplo, das irmãs religiosas, que vivem a missão de unirem-se intimamente a Deus na oração e no serviço à Igreja. É possível que você já tenha visto uma freira, mas sabe qual a sua missão e o que ela realiza no dia a dia?

Em uma Carta aos Consagrados e Consagradas, o saudoso Papa Francisco evidenciou que estas pessoas vivem, dentro das suas fragilidades humanas e preocupações diárias, a fidelidade convertendo-se em:

“Testemunho luminoso, anúncio eficaz, companhia e proximidade para com as mulheres e homens do nosso tempo que procuram a Igreja como casa paterna.”

Para que você possa conhecer com mais detalhes este chamado, no mês vocacional, o Portal A12 conversou com a Irmã francesa Jean Emmanuel, de 49 anos, do Instituto das Irmãs de Maria Stella Matutina, na Diocese de Valença/RJ.

Arquivo Pessoal Irmã Jean Emmanuel é a primeira da frente (da esquerda para a direita)

1. O papa Paulo VI afirmou que a vida consagrada é um “sinal luminoso do Reino dos Céus”. O que isso significa na prática da vida religiosa no dia a dia?

Irmã Jean: Toda nossa vida, desde o levantar até o deitar, e também no sono da noite, tudo é de Deus e para Deus. Então, através de todas as atividades do cotidiano, seja rezar, seja estudar, trabalhar ou servir, tudo é sinal do Reino dos Céus na terra. Essas atividades, nas suas simplicidades, não têm outra finalidade que glorificar a Deus, e por isso são sinais.

Além disso, pelo simples fato de vestirmos um hábito religioso, damos ao mundo um indício muito concreto do Céu. Quantas pessoas, vendo na rua uma irmã com seu hábito, se lembram que Deus existe e atua na sua própria vida? Quantas pessoas nos interpelam na rua para pedir orações? Quantos rostos se iluminam com um sorriso ao verem uma irmã de hábito? Isso por quê? Porque uma irmã de hábito religioso anuncia a Boa Notícia, anuncia que Deus ama o homem e habita nele.

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2. Como foi o discernimento da sua vocação e o que te moveu, pessoalmente, a dar esse passo?

Irmã Jean: Eu faço parte dessas vocações que Deus “colhe” muito cedo na vida. Compreendi que Alguém me amava tanto quando recebi pela primeira vez o sacramento do perdão. Lembro de ter saído desse abraço de misericórdia com uma alegria que nunca tinha experimentado antes, e nesse momento, ainda de maneira incoativa, entreguei meu coração a Deus, que era meu Pai... tinha 8 anos!

Uns anos depois, perdi um pouco o contato com Deus, mas aos 15 anos retornei através do encontro com religiosos e a participação de um grupo de jovens para rezar, refletir e conviver fraternalmente.

Foi caminhando, crescendo e madurando humanamente e espiritualmente, que compreendi que minha vida não poderia ser outra que toda para Deus. Aos 18 anos recebi o sacramento do Crisma, e decidi consagrar minha vida.

Entrei efetivamente na comunidade aos quase 25 anos para respeitar o desejo de meus pais que me formasse. Quando terminei minha tese de final de estudo, deixei o mundo para entrar e viver a vida contemplativa. Vou completar 25 anos de Vida Consagrada em outubro, e nunca se afastou de mim a certeza de ter escolhido o melhor para minha vida, porque Deus é fiel e nos abarca na sua fidelidade.

3. A vida consagrada é também uma forma de “apostolado fecundo”. De que maneira concreta as Irmãs de Maria Stella Matutina levam isso à frente hoje?

Irmã Jean: Como religiosas contemplativas, nosso primeiro apostolado concreto e efetivo, é a oração. Sem a oração, nenhum apostolado atinge sua finalidade. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “no coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor. Assim serei tudo!” E isso é verdade por toda vida contemplativa.

O desafio é grande porque nos faz entrar numa grande pobreza. Em efeito, não conhecemos o fruto de nossa oração, algumas vezes sim, mas, além disso, o que importa é ser essas lâmpadas acesas diante do Santíssimo, qual luz que glorifica o Senhor e representa as necessidades dos homens e mulheres de nosso tempo.

Também esse apostolado se concretiza em acolhida. Um convento de vida contemplativa é um oásis onde o povo pode vir beber a fonte, por isso, amamos receber as pessoas que o desejam para participar da vida de oração das irmãs, para ficar uns dias de retiro silencioso, para partilhar momentos de formação com a palavra de Deus. Acolher é também evangelizar!

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4. O que diria às pessoas que não entendem a vocação religiosa como um caminho possível, com um certo estranhamento?

Irmã Jean: Concordo! A vida religiosa é uma loucura... de AMOR! Acho que se não nos afastamos do olhar do mundo muito marcado pela eficácia e o materialismo, não podemos aceitar a vida consagrada como caminho de vida, ainda menos da vida contemplativa.

Agora, se consideramos a vida do lado do amor e da finalidade, então sim, podemos aceitar (não compreender!) que seja um caminho para algumas pessoas. Porque, finalmente, o que é a vida religiosa? O que empurra alguém a se consagrar por completo a Deus? É porque Cristo quer viver conosco uma história de amor, uma amizade única, profunda, radical! Se não é isso, não vale a pena viver essa vida!

5. Se pudesse resumir em uma frase o que a vida consagrada é para você, qual seria?

Irmã Jean: A vida religiosa é, na Terra, o que viveremos eternamente no Céu. Salvo que no Céu será sem os desafios da Terra.

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6. Que mensagem deixa para os fiéis neste mês vocacional?

Irmã Jean: Deixe que Deus seja Deus nas suas vidas. Seja qual for a sua vocação, se é a que Deus lhe propôs, estás no caminho certo, e feliz! Não tenhas medo, mas acredita e confia Nele! Bom caminho!!!

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