Igreja

Um importante encontro de líderes católicos

Ecumenismo prático une as igrejas católica e copta

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

16 MAI 2023 - 10H54 (Atualizada em 16 MAI 2023 - 11H23)

Reprodução/ Vatican Media

Muitos nem perceberam e a mídia pouco divulgou, mas no último dia 10 de maio, em Roma, aconteceu um encontro de extrema significância. Naquele dia o Papa Francisco recebeu o Patriarca Tawadros II, da Igreja Copta, uma das igrejas cristãs e católicas do mundo.

O patriarca permaneceu quatro dias em Roma onde participou de diversos eventos. Fazia 50 anos que não acontecia um encontro dessa relevância.

1973, o encontro de duas igrejas

O Papa Paulo VI havia convidado e, no 10 de maio de 1973, Shenouda III, Patriarca que governou a Igreja copta de 1971 a 2012, foi a Roma por ocasião da celebração dos 1600 anos da morte de Santo Atanásio de Alexandria, Doutor e Pai da Igreja, venerado nas Igrejas Ortodoxa, Copta e Católica.

Aquela reunião possibilitou a assinatura de um acordo cristológico que pôs fim a uma longa controvérsia entre coptas e católicos sobre o Concílio de Calcedônia (451), que havia sido a raiz da ruptura entre Roma e as Igrejas Orientais.

Reprodução/ Vatican Media
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Pela primeira vez,
os líderes das duas igrejas afirmaram que compartilhavam a mesma fé em Cristo, reconhecido como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Essa aproximação foi importante porque abriu caminho para outros gestos ecumênicos feitos por Roma para com as Igrejas Siríaca, Armênia e Siro-Malankara e vice-versa.

Agora, indo a Roma e se encontrando com o Papa Francisco, no 50º aniversário do primeiro encontro, o Patriarca Tawandros II enfatizou a importância dessa aproximação. Sua visita comemorou ainda os 10 anos de sua primeira ida a Roma em 2013, na primeira viagem fora do Egito, encontrando o então recém-eleito Papa Francisco. Naquela ocasião, o dia 10 de maio foi designado como o Dia da Amizade Copta-Católica. Em seguida, o Papa Francisco visitou o Egito em 2017, um verdadeiro passo à frente na aproximação das duas igrejas, com a assinatura de um acordo sobre o reconhecimento de batismos.

Passo ecumênico

Ao retornar dez anos depois de sua visita anterior, o Patriarca Tawadros II deu mais um passo ecumênico que o Papa Francisco fez questão de honrar e, num gesto sem precedentes, o convidou para participar da Audiência Geral no dia 10 de maio, falando ao povo de Roma e do mundo.

Reprodução/ Vatican Media
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Na visita o Papa Francisco reconheceu os mártires da Igreja copta como mártires cristãos, incluindo-os no calendário católico.

Pequena, mas incomoda

A palavra copta deriva do grego, sendo usada para designar os habitantes do Egito que aderiram ao Evangelho no início da era cristã. Considera-se que a comunidade cristã tenha sido fundada por São Marcos.

No século V, porém, aderiram à heresia monofisita, que o Concílio de Calcedônia (451) havia condenado por afirmar que em Cristo havia uma única natureza.

A partir do século VIII, com a invasão do Egito pelos muçulmanos, os cristãos ganharam identidade própria e formaram a Comunhão Egípcia Copta, que tem ramificações na Etiópia (Abissínia) e na Síria. Existem coptas no Brasil e eles participam de uma igreja que existe na zona sul de São Paulo.

Reprodução/ Vatican Media
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Os
membros da igreja copta representam cerca de 10% da população egípcia. Naquele país, os católicos romanos são apenas cerca de cem mil.

Frequentemente descrita como a Igreja dos mártires, a Igreja Copta é marcada pelo assassinato de fiéis coptas pela organização Estado Islâmico na Líbia em 2015, os mesmos que o Papa reconheceu como mártires. Desde a Primavera Árabe, as igrejas coptas no Egito e na Síria têm recebido vários ataques, o que preocupa muito os seus descendentes aqui do Brasil.

Os coptas tradicionalmente desenham uma cruz em seu pulso, sendo um exemplo de como, nos países de maioria muçulmana, é possível que cristãos e muçulmanos vivam lado a lado. É por isso que o Estado Islâmico quer matá-los. Eles são um problema.

Merece, portanto, destaque a visita do Patriarca copta a Roma e o reconhecimento por parte do Papa Francisco e da Igreja católica, pois todos os membros da Igreja devem estar unidos na alegria e na dor, no tempo de paz e de perseguições.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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