Igreja

Seu nome é Francisco: um Papa revolucionário

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

14 MAR 2023 - 20H53 (Atualizada em 15 MAR 2023 - 08H54)

Matheus Andrade

Deus não cansa de nos surpreender! Quando a gente pensa que as surpresas do Espírito já tinham se esgotado, eis que de repente aparece mais uma, e das grandes!

Foi o que de certa forma aconteceu com os papas dos nossos tempos, a começar de João XXIII. É o que está acontecendo agora com o Papa Francisco, que completa 10 anos de pontificado.

Em 1958, o “bom velhinho” Papa João XIII surpreendeu a todos com a sua jovialidade e com a bombástica notícia da convocação do Concilio Vaticano II que veio para revolucionar a Igreja, preparando-a para os tempos modernos. Ele que, segundo alguns historiadores, tenha sido eleito somente para ser um “papa de transição”.

Na sequência veio Paulo VI, primeiro papa a visitar um país da América Latina. Com o desejo de aplicar as decisões do Vaticano II surpreendeu a todos pela corajosa confirmação da opção preferencial pelos pobres e pela dimensão colegiada da Igreja. Ele teve coragem de vender a coroa de três tiaras do pontificado para ajudar os pobres da Índia.

Chegou então a vez de João Paulo I, com um sorriso aberto e contagiante, que governou pouco, apenas 33 dias, mas que marcou a sua passagem qual a de um cometa pela simpatia e pela santidade.

O polonês Joao Paulo II, o papa viajante, com as mais de 100 viagens internacionais chegou para governar a Igreja numa época de fortes mudanças, em que a polarização do mundo entre os blocos capitalista e comunista estava se esfacelando.

Em seu tempo veio a queda do Muro de Berlim e a desintegração da União SoviéticaEle foi o homem da comunicação, das muitas encíclicas e de uma imagem que rodava o mundo todos os dias, ao ponto de muitos afirmarem: “nunca mais haverá um papa como ele”

Numa sucessão que mais ou menos já era prevista, chegou a vez do Cardeal Joseph Ratzinger que assumiu com o nome de Bento XVI, para governar a Igreja numa proposta de reforço no campo doutrinal e centralização de poder em Roma, como já vinha conhecendo antes com João Paulo II.

A surpresa veio, porém, com sua renúncia quando percebeu que não tinha mais forças físicas e espirituais para governar. Fazia 600 anos que um papa tinha renunciado pela última vez!

Papa Francisco, projetando a Igreja do futuro

Quando todos achavam que não haveria mais surpresa, eis que chega o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, primeiro papa latino-americano a governar a Igreja. Com ele sim, é uma surpresa atrás da outra, a começar pela escolha do nome de Francisco, ao reforçar a opção pelos pobres, a não ter medo de mostrar a face pecadora da Igreja com os escândalos e abusos.

Francisco, com sua acurada formação humana, religiosa e doutrinal, muito própria da Companhia de Jesus, não tem medo de mostrar a face fragilizada da Igreja e de pedir perdão pelos seus erros e pecados. Ao mesmo tempo está levando a sério e com rigor, de um lado a punição dos culpados e de outro a proteção das vítimas.

Um papa que, com coragem carrega o peso do mundo nas costas, como ficou bem visível na imagem de um homem idoso, sozinho, atravessando a Praça de São Pedro vazia numa tarde chuvosa para rezar pelo mundo que enfrentava a dura Pandemia da Covid-19. Um papa que sente, que chora e que ora pelos sofredores.

Um papa da ecologia e da defesa do meio ambiente, um papa do ecumenismo prático e da comunhão entre distintos credos religiosos, um papa da intransigente defesa da dignidade do ser humano e do combate à guerra e à violência. São estas algumas marcas características de seu pontificado.

Não tenhamos dúvidas: o papa que governa a Igreja do presente já está projetando-a para o futuro. Nos próximos tempos a Igreja deverá continuar enfrentando o fenômeno da secularização e da descristianização, sobretudo no hemisfério norte, mas será também uma Igreja que voltará às catacumbas em várias regiões do mundo por causa do acelerado crescimento do fanatismo não-cristão e das perseguições, como se nota em muitas regiões, sobretudo, nos continentes periféricos do mundo.

A Igreja cada vez mais será despojada de seu poder político e de sua força temporal, mas será cada vez mais uma Igreja que se apresentará como “voz da consciência” e da moralidade do mundo.

Com sua ação catequética e magisterial, Francisco resgata a essência do Concilio Vaticano II, propondo a sinodalidade como expressão de uma vida de comunhão e participação, apresentando este caminho como a via necessária para que os cristãos deixem os templos, levando sua ação apostólica aos mais distintos ambientes ou areópagos da sociedade, para que a Igreja se torne cada vez mais “uma Igreja em saída”.

Papa Francisco, um papa que governa a Igreja do presente, mas com seus olhos já voltados para o futuro! Por isso, fiquemos atentos para recebermos a próxima surpresa do Espírito!

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redação A12, em Igreja

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...