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República Democrática do Congo, a guerra esquecida

No leste do país africano, milícias armadas estão em confronto há décadas, num conflito que já é considerado o mais mortal desde a Segunda Guerra Mundial

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

08 AGO 2025 - 14H00 (Atualizada em 08 AGO 2025 - 15H13)

Reprodução/Wikipedia

São muitos os conflitos armados que acontecem no mundo na atualidade. Alguns deles como a guerra na Ucrânia, na Faixa de Gaza, o conflito entre Irã e Israel, no Iêmen, nas coreias e vários outros estão permanentemente presentes nos meios de comunicação.

Outros conflitos, porém, como a guerra no Congo, são completamente esquecidos e o mundo nem imagina as barbaridades que por lá acontecem!

No leste da República Democrática do Congo, milícias armadas se enfrentam numa guerra que já é considerada a mais mortal desde a 2ª Guerra Mundial.

Para além das batalhas entre etnias, existem também muitos interesses econômicos envolvidos, o que explica a disputa pelas riquezas minerais escondidas no subsolo do país, considerado um dos mais ricos do mundo.

Assim como acontece em outros lugares, mesmo no Brasil, vem o paradoxo: “o país é rico, mas a população é pobre!”.

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Uma realidade desconhecida

Localizado no centro do continente, o Congo é o segundo maior país da África — perdendo apenas para a Argélia — com 2,43 milhões de quilômetros quadrados. Quase o tamanho dos estados do Pará e Amazonas juntos.

Tem uma população aproximada de 105,8 milhões de habitantes, dos quais cerca de 12 milhões concentram-se na capital Kinshasa. O país é, porém, um dos mais pobres do mundo, sendo palco de uma guerra civil que durou até 2003, continuando a sofrer com violentos confrontos entre diferentes etnias, milícias e disputas por recursos naturais.

A história do país é muito complexa. O predomínio do poderoso e livre Reino do Congo, que teve o seu apogeu entre os séculos XIV e XIX, foi substituído pela colonização da Bélgica, a partir de 1908, período caracterizado pela exploração brutal dos recursos naturais e abusos contra a população local.

A luta do antigo Congo Belga foi grande até conseguir sua independência em 1960. O país viveu então um período de grande instabilidade política e de conflitos com a ditadura de Mobutu Sese Seko, que tomou o poder em 1965 e governou o país com “Mão de ferro” por mais de três décadas.

A partir de 1996, o Congo foi palco de duas guerras envolvendo diversos países da região, com impactos significativos na população e na infraestrutura. Mesmo com um acordo de paz, os conflitos ainda não cessaram, tendo causado o deslocamento e a morte estimada de 5 milhões de pessoas, o que coloca o país no mais alto grau de emergência em termos de urgência da ajuda por parte da ONU.

Chamado de Zaire até 1997, o país é bem maior do que seu vizinho que possui nome semelhante, a República do Congo, que também é chamado de Congo-Brazzaville por causa da capital Brazzaville.

Reprodução/Wikipedia Reprodução/Wikipedia Mobutu Sese Seko, ditador do Congo de 1965 a 1997

Razões do conflito

Os conflitos que ocorrem, sobretudo, no leste do país, em grande parte são provocados por milícias armadas que se enfrentam numa guerra que parece não ter fim.

O gatilho provocador dos conflitos foi a artificialidade das fronteiras impostas sobre a África pelas potências europeias através de séculos, juntando grupos étnicos rivais ou separando grupos afins.

Isso provocou a passagem de conflitos locais para uma guerra de escala regional que gerou, por exemplo, o triste genocídio de Ruanda, em 1994.

O envolvimento de países vizinhos levou ao agravamento dos conflitos, tanto assim que o governo ruandês é acusado de apoiar um grupo rebelde denominado M23 para poder invadir e controlar territórios cobiçados na República Democrática do Congo.

Por outro lado, o governo do Congo é acusado de proteger as milícias Hutus, herdeiras dos algozes do genocídio de 1994.

Reprodução/Wikipedia Reprodução/Wikipedia Milicianos do grupo M23, que disputam o controle RD do Congo

Para além das batalhas entre etnias, existe também uma feroz disputa por riquezas minerais. Nos territórios disputados estão alguns dos materiais mais valiosos do mundo como o ouro, cobre, cobalto e o coltan, abreviação de columbita-tantalita, importante material usado para a produção do tântalo usado em computadores e smartphones. Esses minérios e metais preciosos têm como compradores as maiores empresas de tecnologia do mundo.

O tântalo, material que tem o peso menor que o de uma ervilha, é essencial para a operação eficiente de um smartphone e de quase todos os demais dispositivos eletrônicos sofisticados.

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As propriedades únicas deste metal raro, azul-acinzentado e brilhante, como a capacidade de manter uma carga alta em comparação com seu tamanho e operar em diferentes temperaturas, fazem dele um material ideal para capacitores minúsculos que armazenam energia temporariamente.

Ele também é extraído em outros países como o Brasil, porém, pelo menos 40% do fornecimento mundial deste metal vêm da República Democrática do Congo, e algumas das principais áreas de mineração estão agora sob o controle do grupo M23.

Para além da economia, o valor do ser humano

O Congo tem uma das mais desafiadoras situações humanitárias do mundo na atualidade, segundo a Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Apenas entre 2017 e 2019, mais de 5 milhões de pessoas se deslocaram internamente no país, sem contar outros milhares que fugiram para nações vizinhas, como Angola e Zâmbia, países que também são necessitados de ajuda humanitária mundial, encabeçada pela ONU.

Apenas em países africanos que vivem uma situação de extrema carência, existem quase 1 milhão de congoleses refugiados ou solicitantes de asilo. Porém, apesar da situação crítica, o Congo também recebe refugiados vindos de Burundi, República Centro-Africana e Sudão do Sul, simplesmente por não terem mais para onde ir.

A história da República Democrática do Congo é um exemplo de como a colonização, a exploração predatória de recursos e a disputa pelo poder podem gerar instabilidade e conflitos em um país, mas também demonstra a capacidade de resistência e busca por autonomia de seu povo.

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Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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