Por ser de suma importância o ministério litúrgico do salmista, ele merece um artigo à parte. Tão importante quanto o do leitor, que proclama a Palavra de Deus, a função de cantar o Salmo Responsorial, após a primeira leitura, é também um gesto sacramental, sinal sensível da presença de Deus.
É uma leitura-proclamação, que deve ser cantada, de preferência, como um prolongamento meditativo da leitura proclamada. O salmista coloca-se a serviço de Deus, emprestando-lhe sua voz, sua comunicação, seus gestos, sua pessoa. E coloca-se a serviço da comunidade reunida em assembleia para ouvir a Palavra.
Trata-se, portanto, de um conjunto de atitudes a serem assumidas por quem canta o salmo, para que seja expressão do Deus vivo que fala à comunidade e, ao mesmo tempo, resposta orante do povo à Palavra ouvida: o modo como se dirige ao ambão, seu olhar, seus movimentos, sua dicção, o tom e a modulação da voz — enfim, todo o modo de cantar e de ser, toda a postura do corpo.
Movido(a) pelo Espírito, o(a) salmista proclama com os lábios e o coração a mensagem do texto bíblico, para que o povo escute e acolha o que a Igreja lhe diz naquele dia. Da parte da assembleia, ela deve ter “os olhos fixos” em quem proclama cantando o Salmo (Lc 4,20), sem o acompanhar, assim como as demais leituras, pelo folheto ou mesmo pela Bíblia.
Ele deve ser proclamado do Lecionário Dominical, nossa “Bíblia Litúrgica”, segundo Dom Clemente Isnard. O livro O canto cristão na tradição primitiva, de Xabier Basurko, publicado pela Paulus, dedica várias páginas ao canto do salmo e à sua importância na vida do cristão, como uma escola de oração.
De fato, através dele aprendemos a suplicar e agradecer, a pedir perdão e louvar, a confiar, rezar e cantar. Herança rica recebida do judaísmo, o salmo é um dos mais antigos cantos incorporados à liturgia cristã, reinterpretado à luz do Mistério Pascal de Jesus Cristo pelas comunidades primitivas, alimentando nossa fé e espiritualidade.
Esquecido por séculos, foi resgatado pelo Concílio Vaticano II como “parte integrante da Liturgia da Palavra”, não devendo ser substituído por outro canto qualquer, pois tem valor de leitura bíblica.
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Dois são os modos de executá-lo:
Forma responsorial: o salmista propõe o refrão, cantando-o sozinho, a seguir repetido pela comunidade, e canta as estrofes — geralmente em forma livre, numa espécie de recitativo — ouvidas e acolhidas pela assembleia, que participa no refrão.
Forma direta: o salmo é todo cantado pelo solista, sem interferência nem participação da assembleia, que apenas escuta.
De preferência, deve-se usar a primeira forma, por promover uma participação ativa (canto) e passiva (escuta) da comunidade celebrante.
Em diversos encontros de liturgia e canto pastoral, já foi colocada a seguinte questão:
Poderia o próprio instrumentista, lá do seu lugar, onde está o grupo de canto, tocar e cantar o salmo?
Não é liturgicamente o mais adequado. Primeiro, porque os documentos da Igreja insistem em que “cada um, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pelas normas litúrgicas lhe compete.” (Sacrosanctum Concilium).
Salmodiar requer um dom especial e é um ministério próprio. Depois, porque o Salmo Responsorial deve ser proclamado do ambão ou da estante da Palavra, como as demais leituras.
Salmodiar requer um dom especial e é um ministério próprio.
O instrumento que acompanha o salmista deve ser discreto e suave, servindo apenas de apoio, nunca se sobrepondo à mensagem do texto, que tem a primazia. Requer-se, do salmista, formação bíblico-litúrgica, espiritual e musical, bem como prática no manuseio do Lecionário e de outros livros litúrgicos.
“Cantar no Espírito” supõe preparação anterior, evitando-se a improvisação.
“Devemos cantar, salmodiar e louvar ao Senhor mais com o espírito do que com a voz... O servo de Cristo cante de tal forma que não se deleite na voz, mas nas palavras que canta.” — São Jerônimo
Complemento: A forma “Gradual” do Salmo
Além das formas responsorial e direta, a tradição litúrgica inclui também o Salmo Gradual. Essa forma, originária do canto gregoriano, era executada entre as leituras, antes do Evangelho, como parte do antigo canto da Missa.
O Gradual caracteriza-se por ser um canto solene e meditativo, geralmente realizado por um ou dois cantores, com frases melódicas longas e ornamentadas. Diferencia-se do Salmo Responsorial moderno por não incluir a repetição de um refrão pela assembleia.
Atualmente, é preservado principalmente em celebrações segundo a forma extraordinária do rito romano e em repertórios corais ou monásticos.
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