Por Redação A12 Em Música

Minha Relação com a Música

Por Diác. José Torres, CSsR

            A música é tão necessária para a vida do ser humano, tal como é a água para o nosso corpo: sem água a vida se esvai como um rio que seca e transforma toda a paisagem em aridez e sofrimento. Não podemos viver sem nenhuma relação com a música.

            Concebo a música como um “ser” a quem se deve amar, não por obrigação, mas para a conservação de si mesmo: amar a música para viver mais, para viver melhor, para superar limites, para criar, para descobrir “os mundos” do mundo, as cores do interior das pessoas e das coisas, as infinitas possibilidades dos corações, para transformar a aridez em fecunda beleza, para insuflar no Homem uma melodia que recupera a vida e a esperança.

            Como é natural, minha relação com a música começou quando o meu corpo ainda estava sendo gestado no seio de Dona Maria José. Já quando criança, minha memória revela os sons da voz da minha mãe que, enquanto colhia na roça os frutos das sementes plantadas no inverno, cantava canções religiosas ao calor do cáustico verão. Eu nem sabia o que era afinação, mas ela cantava com harmonia apurada. Músicas ressoavam felizes nos canteiros e o seu timbre me chamava atenção. Eu era tão menino mas ficava encantado ao ouvir sua voz. E aos poucos fui sendo fecundado pelos cânticos que ouvia nas igrejas, o que me fez admirar mais a música. Foi no seio da Igreja que aprendi a emitir meus primeiros sons musicais. Lembro-me até das tardes quando, ao pé do altar que engendrei em casa, eu cantava quase todas as músicas dos livrinhos de catecismos. E minha mãe gostava. A partir daí, muito há que se contar na minha relação com a música. Com o tempo, aprendi a quebrar os preconceitos dos estilos mais diversos. E hoje, a música e eu somos enamorados, temos uma relação profunda e fecunda.

Com a música, vivo numa relação de amor. Mas tal como a dinâmica do namoro, há momentos em que nem conseguimos nos ver. Noutros, a gente está tão junto que até incomoda e provoca ciúmes: som alto, vozes pedindo pra baixar o volume... Gosto de vê-la, senti-la, pois traz-me momentos de felicidade. Diariamente gosto de ouvir música, especialmente quando estou ao computador, porque sua presença no trabalho inspira-me ideias novas. Se estou escrevendo, como o faço agora, seu andamento leve e orquestral me conduz pelas trilhas das ideias mais acertadas; se faço trabalho manual ou doméstico, ela se apresenta num estilo acelerado e forte; se quero entregar-me ao “infinitamente Bom e Justo”, ela me ajuda a adentrar às avenidas interiores mais fecundas da dimensão espiritual, ajudando-me a ver minha pequenez para, diante dEle, “me-ditar” sobre sua Graça; se necessito de energia para sonhar mais e ultrapassar o chão da inércia, ela me oferece as vibrações e contornos dinâmicos de uma “Carmina Burana”, que “eletriza” o meu corpo, iluminando as vias dos sonhos e a criatividade. E a fecunda poesia de alguns poucos sábios cantores, casada com as melodias mais coloridas e belas, inspira-me novos caminhos nas dimensões intelectual e emocional.

A vida é uma tensão entre o bem e o mal, entre o harmônico e o dissonante. Harmonia é música, música é som, o som é vibração, vibração é movimento que conduz vida. Quando entro em contato com as vibrações harmônicas, purifico minha existência com as energias de vida, pois a música faz o movimento de devolver ao ser humano o equilíbrio, a vida perdida pelo stress, que é a loucura de querer ser mais do que aquilo que fomos chamados a ser.

Música é a vibração da vida que fertiliza o universo da gente. Ela atinge a alma, a dimensão invisível e essencial do ser humano. Sei que não estou só, a Música me acompanha em me faz existir com o mundo, com Deus e com o outro. Como alguém já disse, “música é vida interior. E quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão”.

 

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