Música

“Uso o BTS a meu favor para evangelizar a juventude”, conta freira ARMY

Ir. Carla Maria integra músicas de grupo de k-pop à formação de jovens em Minas Gerais.

Escrito por Beatriz Nery

12 JUN 2025 - 10H50 (Atualizada em 13 JUN 2025 - 11H16)

Arquivo Pessoal
Junho é mês de festa para os fãs do BTS, em que os ARMY (nome dado ao fandom) comemoram o dia em que o grupo sul-coreano de K-pop começou a se apresentar. Mas também é um mês forte na vida da Igreja. Celebramos o Sagrado Coração de Jesus, a Santíssima Trindade e o Corpus Christi.

É também um período animado pelas festas juninas, em que celebramos Santo Antônio, São Pedro e São João e que, para muitas pessoas, as quermesses podem ser uma porta de entrada para conhecerem mais a vida dos santos e suas paróquias. Por que não?

Quem enxergou aí uma oportunidade de evangelizar por meio do significado das “portas”, que também inspiram os fãs do BTS, foi a Ir. Carla Maria Bonifácio, de 26 anos. Ela descobriu que sua vocação e o BTS tinham muito mais em comum do que ela imaginava!

Tudo começou com uma medalhinha...


Irmã Carla Maria mora em Caratinga (MG) e faz parte das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora das Graças, as irmãs gracianas, há três anos. Mas foi numa cidadezinha chamada Santana do Manhuaçu, onde nasceu em uma família religiosa e atuante, que ela experimentou o amor de Deus.

"Com quatro anos, eu estava na nossa capelinha da comunidade da Zona Rural pronta para poder subir ao altar para coroar a Virgem Maria, no mês de maio. Havia na cidade, na época, uma casa do Instituto das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora das Graças. E aí, em um desses dias de coroação, eu estava vestida de Virgem nos primeiros bancos, ao que uma pessoa me cutucou, olhei para ela com cara feia e ainda assim, ela me deu uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças. Minha cara feia saiu, fiquei toda feliz com aquela medalhinha. E mal sabia eu que já era o primeiro contato da Virgem Maria na minha vida. Essa mulher que me deu a medalhinha é uma de nossas irmãs, a irmã Cleide."

Mas a infância de Ir. Carla também foi marcada por lutas internas.

“Na época, ninguém falava sobre TDAH e autismo. Eu era aquela criança nervosa, incompreendida, que explodia. Minha avó era meu ponto de equilíbrio. Quando ela faleceu, tudo desmoronou". Foi na dor que nasceu uma busca. E foi num encontro de adolescentes com as irmãs gracianas que Carla sentiu um chamado real à vocação religiosa.



Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal Ir. Carla Maria (ao centro) com as Irmãs Missionárias de Nossa Senhora das Graças

💜 Se você estava esperando onde o BTS entrava na história da Carla, chegou a hora!

Boas-vindas, é sua primeira vez com o BTS? 


Em uma aula de Teologia sobre música litúrgica, Ir. Carla conheceu o grupo coreano Forestella. Isso abriu as portas para algo novo.

“Logo depois o BTS apareceu. No começo, eu ignorei. Mas os fãs sempre dizem: o BTS entra na sua vida quando você mais precisa. E comigo foi exatamente assim.”

Em dado momento, Ir. Carla viveu uma fase intensa de dor e autoconhecimento. E foi nas músicas do BTS que encontrou consolo.

"Além do BTS surgir para expressar um sacramento, ele ajudou em minha própria vivência pessoal enquanto religiosa. Na convivência fraterna, na forma de olhar as pessoas ao redor. Mas sempre, conduzindo meu olhar para Deus. Sendo a música 'For Youth' um ponto forte para o autoconhecimento e depois 'Epilogue: Young Forever', cuja tradução é 'Para sempre nós seremos jovens'. Eu peguei o refrão daquela música e fiz uma adoração ao Santíssimo Sacramento uma manhã inteira. E eu pude me colocar nos braços de Jesus para ele tomar conta enquanto eu me redescobria."

“Forever, we are young / Even if I fall, get wounded, and it aches, I run endlessly to my dream”

(“Para sempre, somos jovens / Mesmo que eu caia, me machuque e sinta dor, corro incansavelmente em direção ao meu sonho”)


Fé e BTS: portas que se abrem


Na crisma de um grupo de jovens, Ir. Carla usou o logo do BTS e do ARMY, duas portas se abrindo, para explicar o Sacramento da Confirmação. A imagem fez sentido.


Reprodução Reprodução


“Como a logo do BTS e do ARMY são portas, de um lado a gente tem portas se abrindo, onde é a nossa saída do sacramento de iniciação. A saída dessa dependência na espiritualidade de um catequista, de um padrinho. Do outro lado a gente vê as portas se abrindo, então é a porta da maturidade da fé que o Sacramento da Confirmação nos confere. É um momento onde a gente vai caminhar sozinho na fé. Não precisa mais do pai ou mãe mandar a gente para catequese e para escola.”

Ela se aprofundou ainda mais no universo do BTS, estudou os significados das músicas, o BU (Bangtan Universe), e encontrou mensagens que tocam profundamente no coração: superação, amor-próprio, recomeço.

“Não é só música pop. É arte com propósito. A Era Love Yourself (de 2017 a 2018 com dois EPs e um álbum), por exemplo, tem tudo a ver com o caminho espiritual. Quem não se ama, não consegue amar a Deus e aos outros.”

"You’ve shown me I have reasons I should love myself/I answer with all my breath and all the path I’ve walked along/Yesterday’s me, today’s me, tomorrow’s me (I’m learning how to love myself)/Without exception, all together, they are all me"

(Você me mostrou que tenho razões para me amar/Eu respondo com todo o meu fôlego e com todo o caminho que percorri/Sou eu de ontem, sou eu de hoje, sou eu de amanhã (Estou aprendendo a me amar)/Sem exceção, todos juntos, são eu)



BIGHIT MUSIC/Hybe Corporation BIGHIT MUSIC/Hybe Corporation RM, Jin, Suga, j-hope, Jimin, V e Jungkook, membros do BTS

Por fim, Ir. Clara refletiu sobre seu trabalho com os jovens a partir da importância de viver uma mistagogia real, com linguagem acessível, sem perder o sagrado.

Mas o que é mistagogia?


Reprodução/IA Reprodução/IA


E ela usou isso a seu favor:

“Tenho esse jeito próprio de olhar para as coisas para um lado mais mistagógico, de espiritualidade, para ver a beleza de tudo aquilo que Deus deixou a nosso favor. O humano, às vezes, deturpa com tanta facilidade, mas igual ao caso do BTS, se é algo que está impregnado no contexto social, eu não posso ignorar isso. Então, como eu posso usar ele a meu favor?”

Suas inspirações na Igreja para continuar sua vocação e forma de evangelizar vem da Exortação Evangelii Gaudium, escrita pelo Papa Francisco, que diz “como é doce permanecer diante dum crucifixo ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente dos seus olhos”. (Evangelii Gaudium, 264).

“Eu não preciso ser uma beata de joelhos no chão da Igreja todos os dias, claro que devemos estar diante do Santíssimo Sacramento e não estou excluindo essa dimensão belíssima da oração, mas sim agregar a ela a capacidade de, em vez de olhar as coisas com olhar tão mundano, igual está muito hoje em dia, mas ter um olhar um pouco mais transcendente nas pequenas coisas do dia a dia, inclusive daquilo que está mais presente na sociedade. Eu vou usar isso no meu favor, para a minha oração, para o meu crescimento, e assim aplicá-lo na evangelização diária.”


Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal Momento de formação no Instituto Nossa Senhora das Graças em que a Ir. Carla Maria introduz o BTS como meio de evangelização


E ela deixou um recado:

Quero dizer que acompanhar um grupo de K-pop, ouvir suas canções e falar sobre elas, não significa trocar Jesus por eles, não significa abandonar a espiritualidade religiosa e seu modo de ser para entrar em uma cultura diferente. Significa admirar o trabalho e talento destes sete jovens que se esforçam para transmitir uma mensagem tão bonita.”


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