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Em entrevista ao A12, Dom Volodemer Koubetch fala sobre a guerra na Ucrânia

Arcebispo é o representante da igreja ucraniana no Brasil

Escrito por Redação A12

04 MAR 2022 - 16H53 (Atualizada em 04 MAR 2022 - 20H30)

Divulgação/ Metropolia São João Batista

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De rito bizantino ucraniano e ligada à Santa Sé, a Metropolia Católica Ucraniana de São João Batista é uma parte da igreja católica ucraniana aqui no Brasil.

Localizada em Curitiba, no Paraná, vinculada canonicamente ao arcebispado maior, com sede em Kiev, na Ucrânia, a Metropolia também está vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

São aproximadamente 600 mil pessoas, das quais mais de 90% são católicas. É o estado do Paraná que abriga a maior comunidade de descendentes de ucranianos do Brasil.

Diante da situação dramática de guerra que a Ucrânia vive, o Portal A12 entrevistou o Arcebispo da Metropolia São João Batista, Dom Volodemer Koubetch, para saber sobre como a Igreja Católica ucraniana no Brasil está se organizando para prestar sua solidariedade e o seu apoio à Ucrânia.

.:: Leia a entrevista exclusiva do A12 na íntegra:

A12: Como acontece essa organização em relação à Igreja Católica de rito bizantino ucraniano aqui no Brasil.

Dom Volodemer Koubetch: Nós, católicos ucranianos, aqui do Brasil, da Argentina, dos Estados Unidos, Canadá e dos demais países, nós pertencemos à Igreja Greco-Católica Ucraniana, que tem se a sua sede em Kiev. Então, a Igreja Católica ucraniana é dividida em arquidioceses. No caso nosso aqui do Brasil, nós temos duas arquidioceses. Em 2014, quando foi criada a nova Diocese, em Prudentópolis (PR), essa sede aqui em Curitiba ela tornou uma sede Arquiepiscopal, uma arquidiocese, tendo um bispo nomeado Arcebispo Metropolita, que é a pessoa que está falando com vocês. Então, nós temos uma paróquia em São Paulo, três paróquias no norte de Santa Catarina, e todas as demais são aqui no Paraná.

A12: 90% deles (os ucranianos) são católicos, certo?

Dom Volodemer Koubetch: 90 a 95% são católicos, geralmente se fala de 5% dos ucranianos que são ortodoxos.

A12: Como essa comunidade está lidando, vivendo esse momento dramático de conflito entre a Ucrânia e a Rússia?

Dom Volodemer Koubetch: É uma situação de grande tensão, de medo, de tristeza, de angústia, de decepção, de dúvida, indignação, e até mesmo de revolta para todo o povo ucraniano, na Ucrânia e fora dela, e para toda a humanidade. Mas nós já estamos chegando a um nível bom de organização para prestar ajuda às pessoas necessitadas, uma ajuda aos que fugiram da Ucrânia. A estimativa de ucranianos que irão fugir é de 4 milhões. Então, as igrejas católicas ucranianas estão se organizando.

A12: A comunidade aqui do Brasil está se organizando, não só no sentido das doações, mas também para receber os ucranianos que pretendem deixar o país?

Dom Volodemer Koubetch: Sim, ontem e hoje foi fechada a questão da formação de um Comitê chamado ‘Humanitas’, que congrega as lideranças ucranianas principalmente do Brasil, instituições religiosas, e outras instituições, inclusive os evangélicos, que formaram um grupo para fazer parte desse Comitê. Então, eu vou apoiar, mas da minha parte eu estou acionando a Caritas do Brasil e da Ucrânia, para fazer um trabalho conjunto de ajuda humanitária. A Ucrânia tem, assim, o quanto necessário e possível, o respaldo, a ajuda e a colaboração da equipe aqui da Metropolia.

photo vvl Shutterstock
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A estimativa de ucranianos que irão fugir da ucrânia é de 4 milhões


A12: Tem chegado informações para o senhor, direto da Ucrânia, de como está a situação por lá? Como está a Igreja Católica no país?

Dom Volodemer Koubetch: A situação geral lá da Igreja é assim: o nosso chefe maior, o nosso arcebispo maior, ele mesmo está recolhido, está refugiado no subsolo da Catedral da Ressureição, em Kiev. Ele determinou que as igrejas lá na Ucrânia permaneçam abertas para ajudar quem vier pedir auxílio e socorro, e também estou sabendo que alguns Bispos têm lugares que já estão sendo sitiados pelo exército russo, e nenhum bispo ou sacerdote se escondeu ou fugiu, mas estão lá para estar junto do povo e ajudar em suas necessidades. Já se sabe que alguns sacerdotes foram assassinados e mortos pelo exército russo. Da parte das congregações, a situação é a mesma: as religiosas estão se escondendo nos porões e nos subsolos de suas casas. Eu achei tão... (se emociona). Elas saem para ajudar, o quanto possível, os militares ucranianos, correndo risco de vida.

A12: A emoção é inevitável, porque a gente sabe do sofrimento, do quanto isso sempre afeta os mais vulneráveis, os mais fragilizados...

Dom Volodemer Koubetch: O que a gente pode dizer, e o que já se falou, é que o povo ucraniano é muito resistente, é batalhador e é exatamente por isso explicando um pouco a situação, porque o exército russo ainda não conseguiu dominar pontos mais estratégicos. Os analistas falaram no sentido de que a invasão seria de um, dois dias, seria rápida, e que o exército russo tomaria conta, e não é isso que aconteceu. E uma das explicações é de que o povo ucraniano é muito resiliente, resistente, muito forte na fé, já sofreu tanto na história, durante a vida. Não sabemos quando isso vai terminar e 'se' vai terminar. Já se fala que essa guerra vai durar mais tempo, e eu vejo assim.

A12: É por isso que a Igreja ao redor do mundo está unida a essas pessoas que estão sofrendo com este conflito tão sério, e por isso também o Papa Francisco tem se pronunciado por várias vezes, deixado claro o quanto a Igreja Católica é contra este e qualquer conflito violento, que vá trazer sofrimento para ser humano. Por isso, somos a favor do diálogo, sempre da paz e nunca da guerra, certo?

Dom Volodemer Koubetch: Exatamente. O ideal é a paz. A guerra, como o próprio Papa diz, é uma loucura. É de uma desumanidade, de uma insensatez, uma loucura mesmo. O momento é de grande dificuldade para todos, mas é um momento em que todos os católicos, todos os cristãos e até membros de outras religiões, pessoas de bem, pessoas de boa vontade se unem nesse bem comum, esse bem mundial. E nesse momento, o maior bem que nós queremos para o mundo, pensando até na sobrevivência da humanidade, é a paz, que essa paz aconteça. É isso que a gente pede, esse apoio, orações... E é isso que a gente espera da parte de todos e da parte do bom Deus.

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