“Plantar uma árvore, é como você ter um filho”, disse Sebastião Salgado em certa ocasião ao colega escritor Afonso Borges, um outro mineiro bom de conversa. Salgado, ao lado de sua esposa Lélia Wanick, plantou três milhões de árvores, recuperando a Mata Atlântica e toda sua biodiversidade, na Bacia do Rio Doce. Juntos fundaram o Instituto Terra.
Tal prática e tamanho legado surgiram em letras discretas, nas tantas páginas recém-escritas sobre este ícone da fotografia, disponíveis nos últimos tempos por ocasião de sua morte, em 23 de maio deste 2025, aos 81 anos. Segundo a família, Sebastião Salgado morreu em decorrência de uma leucemia.
Mineiro de Aimorés, Salgado “plantou” mais, e as sementes germinam pelos mais de 120 países que percorreu ao longo de sua vida. Sob o nosso olhar, impressos em papel fotográfico, em exposições ou em frames de dispositivos eletrônicos, estão suas imagens e, com elas, provocações e contemplações acerca da grandiosidade da criação divina e de ataques à dignidade da pessoa humana.
Ouso dizer, e os provoco a refletir sobre o diálogo existente entre as imagens produzidas por Sebastião Salgado e o trabalho de Claudio Pastro, o artista-sacro responsável pela concepção artística do interior do Santuário de Aparecida. Guardadas as especificidades de cada um deles, ambos se fizeram ponte para a contemplação da criação divina.
Na série Gênesis, por exemplo, “Salgado traz imagens capturadas em alguns dos cantos mais distantes e selvagens do nosso planeta, retratando as comunidades indígenas que continuam a viver de acordo com suas tradições ancestrais, animais em extinção, além de florestas tropicais exuberantes, desertos e geleiras monumentais”, registra a curadoria.
Já Claudio Pastro, no Santuário, por exemplo, vai conduzindo os peregrinos de arco em arco, entre luzes e sombras, até a diversidade dos biomas que florescem em torno do presbitério sob a cúpula que nos convida a olhar para os céus.
Ambos artistas ensinam e formam, sensibilizam. Fazem ecoar a voz do Criador, do seu capricho ao detalhar a luz, a profundidade, a natureza, o ser. Ambos arquitetaram o bom uso da luz para comunicar a beleza, a natureza e a esperança.
“A arte é como um sacramento, sinal eficaz que favorece a Graça, matéria e forma de acesso ao mistério. A beleza nos aproxima da beleza de Jesus Cristo. E esse encontro é decisivo para a fé, pois, tocados pela beleza de Cristo, sentimo-nos atraídos a segui-Lo, fazemo-nos discípulos missionários”, escreveram no livro Aparecida (Ed. Santuário) dom Raymundo Damasceno Assis, cardeal-arcebispo emérito de Aparecida, e dom Darci José Nicioli, C.Ss.R., então bispo-auxiliar de Aparecida.
Fica aqui um convite às imagens de Sebastião Salgado, e um vagar tranquilo pelos arcos da Basílica de Aparecida olhando para os lados, para o caminhar, para as paredes e cúpula. Didaticamente, ali tudo fala, ensina, alimenta a alma.
Com sua fotografia documental, de um preto e branco puríssimo, Sebastião Salgado fotografava com reverência às pessoas e às circunstâncias, aos espaços, e seus tempos. Convivia com seus fotografados, os respeitava. Sabia do peso e do alcance de suas imagens. Registrou e denunciou mazelas humanas.
“Constatamos que o mundo está dividido em duas partes: de um lado a liberdade para aqueles que têm tudo, do outro a privação de tudo para aqueles que não têm nada”, disse.
Para o diácono Renan Dantas, da Diocese de Juína, “a imagem se torna evangelho encarnado nas dores e esperanças do povo. Sebastião Salgado fez da câmera um instrumento de comunicação a serviço da dignidade humana — e suas imagens, mensagens visuais que falam ao coração e à consciência”.
Elas gritam. Foram 50 anos de carreira, iniciada perto dos 40 de idade, com uma máquina fotográfica que recebera de presente da esposa. Já era economista formando, mestrando, e guardava em si a experiência de um jovem brasileiro que fugia da ditadura brasileira em Paris.
“Éramos altamente ligados aos grupos que lutavam contra a ditadura. Tivemos que sair rápido do país, senão seríamos presos e torturados”, disse Salgado em entrevista à Agência Brasil.
Projetos marcantes como Trabalhadores, Exôdos e Gênesis mostram a visão profunda de Salgado sobre as mudanças na sociedade, as migrações globais e a natureza intocada. “Minha maior esperança é provocar um debate sobre a condição humana do ponto de vista dos povos em êxodo de todo o mundo”, disse em outra ocasião.
As imagens de Salgado compõem o imaginário, a memória coletiva de nosso tempo, como em setembro de 1986, quando passou 33 dias nas minas de Serra Pelada, no Estado do Pará, onde estava instalada a maior mina de ouro ao céu aberto do planeta. E pôde ali, registrar um importante traço do desenvolvimento econômico e impacto social na população.
No livro “Amazônia”, publicado em 2021, Sebastião Salgado fez um convite à reflexão sobre a importância da sustentabilidade e da preservação da natureza para o futuro. Por meio de fotografias, o livro traçou o perfil das comunidades indígenas da floresta e ofereceu novas perspectivas sobre ela.
Ainda para o diácono Renan Dantas, a lente de Salgado se afinou à Doutrina Social da Igreja, porque “denunciou a desigualdade, exaltou a dignidade dos pobres, expôs a exploração do trabalho e da terra. Suas séries fotográficas — como eu, Êxodos, Trabalhadores e Terra — são um testemunho vivo do princípio do bem comum, da opção preferencial pelos pobres e do valor sagrado da vida humana”.
Para a produção de seu livro Amazônia, publicado em 2021, Salgado passou nove anos e fez 48 viagens pela floresta, por semanas, às vezes meses de cada vez, voltando com novas histórias e sentimentos de comunhão. Todas as suas obras revelam o olhar que Salgado teve da humanidade.
Vale a pena conferir e reverenciar:
•Outras Américas (1986)
•Sahel: O Homem em Agonia (1986)
•Shael: O Fim do Caminho (1988)
•Trabalhadores (1993)
•Terra (1997)
•Serra Pelada (1999)
•Êxodos (2000)
•O Fim da Pólio (2003)
•Um Incerto Estado de Graça (2004)
•O Berço da Desigualdade (2005)
•África (2007)
•Gênesis (2013)
•Perfume de Sonho (2015)
•Um Deserto em Chamas (2016)
•Gold (2019)
•Amazônia (2021)
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