Não era autoridade, nem juiz, nem político, nem empresário, nem famoso. Era apenas um entre milhões de brasileiros. Nasceu num país cheio de questões históricas, que impedem uma vida plena e confortável da população: falta de emprego, baixos salários, serviços públicos precários.
Não teve educação superior. Precisou começar a trabalhar com 13 anos; era carpinteiro e ajudava seu pai. Fazia mesas, cadeiras, armários etc. Vivia do seu trabalho, ganhava pouco. A prioridade era alimentar sua família. Na venda da esquina, os alimentos estavam cada dia mais caros. Ele, então, começou a diminuir a quantidade que comprava.
Tinha três filhos pequenos. Sua mulher tinha uma doença e, por conta disso, não podia trabalhar. Certa vez, agentes do Estado vieram à sua casa e, como não havia recebido ainda por seu trabalho, não pôde pagar os impostos daquele mês. Os cobradores de impostos, num ataque de fúria, quebraram os produtos que ele havia fabricado, deixando-o sem meios pra sobreviver.
Ele era como eu e você, um brasileiro. Mas não era rico e tinha como único meio de vida o trabalho, para poder comer e comprar alguma coisa para sua família.
Ele poderia ser muitos: aquele senhor cadeirante, que vendia balas baianas em Taubaté, ou aquele pai que morreu soterrado com a família, mulher e mais três filhos em Várzea Paulista. Poderia ser também aquele imigrante do Congo, que trabalhava no Rio de Janeiro e foi espancado até a morte.
A história de milhões de brasileiros é também parecida com a de Jesus. Teve uma vida pobre, precisava trabalhar e sofria das inúmeras injustiças que acometiam o tempo em que viveu. Procurou alimentar seus irmãos que passavam fome e curou aqueles doentes que não tinham o atendimento que mereciam.
Jesus viveu num tempo em que as palavras “direitos” e “cidadania” não existiam. O que havia era apenas violência, fome e morte. Porém, indicou o caminho para a mudança.
Mas por que sofremos tanto?
Uma sociedade é feita a partir das decisões políticas que toma. Se alguns comem bem e outros passam fome, essa também é uma decisão política.
Portanto, as chaves dessas questões estão nas mãos daqueles que tomam as decisões. Se não forem pensadas para atender a população, que paga os impostos e sustenta o Estado, todos os dias continuaremos a assistir tragédias absurdas como essas e tantas outras.
Não é normal morrer soterrado.
Não é normal morrer sem atendimento médico.
Não é normal morrer esperando sair a aposentadoria.
Não é normal morrer por não poder pagar os remédios.
Não é normal morrer espancado até a morte.
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