A Igreja Católica presente nos cinco continentes do mundo, desde dezembro de 2020, motivada pelo Papa Francisco, está vivendo um ano especial, onde a mesma é chamada a contemplar na vida de José, o pai de coração de Jesus, um modelo autêntico de discipulado do Senhor. Um olhar atento pelas páginas dos evangelhos nos conduz a constatação de que José não emitiu nenhuma palavra, entretanto o mesmo é reconhecido como um homem justo, que procurou deixar-se guiar pelo projeto que o Pai desenhou para a sua vida.
Uma das mais belas imagens que encontramos de José é aquela do pai da Sagrada Família. Isto nos ajuda a pensar na figura de um homem atento às necessidades de sua esposa e de seu amado filho Jesus. O carpinteiro de Nazaré acompanha a sua mulher no seu processo gestacional. Na noite fria em que Maria dá à luz, em uma gruta de Belém, é ele que está ao lado da jovem virgem de Nazaré e com ela contempla por primeiro a salvação da humanidade. Com o recém-nascido e sua mãe, ele parte para o Egito, para proteger a vida daquele que veio para oferecer a vida, e oferecê-la em abundância. No Templo com sua esposa, apresentou a oferta dos pobres, um par de rolas, apresentando o pequeno filho ao Senhor. Com Maria, viveu a aflição de ter perdido o menino, quando voltavam de Jerusalém, por ocasião da celebração da Páscoa anual dos judeus. Todavia, com a mãe de Jesus, também se alegrou quando encontraram o filho, que não estava perdido, mas entre os doutores da lei, falando sobre as Escrituras, com autoridade.
A vida deste carpinteiro de Nazaré foi uma contínua entrega, alimentada por uma fé consciente, madura, viva e ativa no seu Senhor. O modo simples de viver de José, ao lado de sua esposa e filho, nos testifica a confiança de um homem, que na sua liberdade, aderiu livremente ao projeto do seu Senhor, que o quis como pai de coração do seu amado Filho e esposo de sua amada esposa Maria.
Vivendo a alegria deste ano josefino, onde comemoramos os 150 anos da declaração de São José como patrono de toda a Igreja, o que intentamos agora é apresentar algumas atitudes baseadas na vida deste homem de Deus, que inspiram a vivência do ministério ordenado, nos seus diversos graus como serviço gratuito e oblativo, pela causa do Reino de Deus. Os santos servem sempre como fonte de inspiração para que vivamos com autenticidade a resposta que damos ao chamado que Deus nos faz. O Papa Francisco na Exortação Pós Sinodal Christus Vivit 50, assim se expressa, sobre a importância da santidade juvenil para a Igreja:
Através da santidade dos jovens, a Igreja pode renovar seu ardor espiritual e seu vigor apostólico. O bálsamo de santidade gerado pela vida boa de tantos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo, devolvendo-nos aquela plenitude do amor para o qual sempre fomos chamados: os jovens santos nos animam a voltar a nosso amor primeiro (Ap 2,4).
Esta palavra inspiradora de Francisco dirigida aos jovens, serve de inspiração àqueles que sentem o chamado, para servir a Deus, através do ministério ordenado, nos seus diversos graus. Estes não podem de maneira alguma serem interpretados como um poder dado pelo Senhor, mas devem ser acolhidos como um serviço a ser realizado, para que o conhecimento da Palavra do Senhor, cresça sempre mais entre nós. Isto porque “a Igreja nasce do Evangelho e tem por missão transmitir o Evangelho. Ora, o Evangelho é sim, mensagem, mas uma mensagem que exige prática dentro de uma realidade concreta” (TABORDA, 2011, p. 142). Olhemos a partir da vida de José, o pai do coração de Jesus, como ele pode nos inspirar a viver santa e profeticamente a vocação que abraçamos.
Cuidado para com Palavra
Em sua carpintaria, certamente José por muitas vezes recordou com Jesus as palavras das Sagradas Escrituras. Com o Filho do Homem refletiu muitas vezes sobre a ação amorosa do Pai, na vida de seu povo. Como homem de fé certamente enquanto esteve ao lado de Jesus, pode mesmo que não plenamente, tomar consciência de que em Jesus, a Palavra Viva e encarnada do Pai, o Senhor se revelou ao mundo inteiro, como amor e misericórdia.
Com certeza, em seu coração, assim como sua esposa, guardava cada uma das coisas que o Senhor desejava-lhe ensinar, por meio da presença de Jesus no seio de sua família. Como homem de Deus, José buscou viver da Palavra e na Palavra, e por isso, foi uma pessoa justa. Remando contra todos os preconceitos do seu tempo, esteve ao lado de Maria, assumindo com amor o cuidado de Jesus, a Palavra viva e eterna do Pai.
O cuidado de José para com a Palavra do Pai, que é o Cristo, nos ensina e inspira a ter o Cristo como o referencial em nossas vidas.
Cuidado com a Família
A presença de José na casa da Sagrada Família foi sempre a presença de um pai disposto a cuidar. Tanto é que São João Paulo II até afirmou que Deus entregou a ele dois dos seus maiores tesouros: Jesus e Maria. O testemunho dos cuidados do carpinteiro de Nazaré para com a sua família pode ser contemplado na sua presença generosa junto ao Filho e a sua mãe.
Com Maria, antes de sua morte, José procurou fazer se presente e todos os momentos da vida de Jesus. Ao lado de sua esposa contemplou o Filho, que crescia em idade, sabedoria e graça diante do Senhor e dos homens. No seio de sua casa José é sinal de amor e atenção generosa e oblativa para com a sua família.
José nos ensina a cuidar da família, por meio do anúncio e vivência da Palavra, para a fé e compromisso com a transformação do mundo. O grande exemplo que o pai da Sagrada Família nos dá é de que Deus é amor.
Cuidado da Casa Comum
José também nos motiva, em tempos de ecoespiritualidade, a um cuidado com a casa comum. Pois é neste ambiente que devemos nos sentir todos irmãos. Reconhecendo que esta casa é dom de Deus, entregue a todos os seus filhos. Por isso, dela devemos cuidar, para que todos possam desfrutar deste espaço, como um lugar propício para se gerar vida e comunhão entre os irmãos.
O modo que nos amamos é o modo que nos ajuda a ser identificados como cristãos neste mundo. O modo que cuidamos do cosmo é também expressão da fé que vivemos. Em José, encontramos um modelo seguro, de quem soube cuidar da vida. De quem soube fazer da casa comum um espaço frutuoso de geração de fraternidade.
A vida deste homem de Deus deve nos inspirar a viver e a cuidar do cosmo como um terreno fértil, para já se viver antecipadamente o que nos reserva a eternidade. O Senhor enviou o seu Filho, a fim de que todos nele, possam ser acolhidos no coração do Pai.
Olhando sempre em frente
Recordar e celebrar a vocação é trazer em nosso coração a certeza de que somos um grande corpo. Neste corpo cada um é chamado a exercer um ministério. A servir o Senhor com generosidade de coração, tendo sempre a consciência de que toda vocação só tem sentido, quando é capaz de gerar outras vocações. De trabalhar incansavelmente para que surja cada vez mais no seio da comunidade eclesial discípulos-missionários do Senhor.
Pe. Rodrigo Arnoso, C.Ss.R.
Para refletir:
1) Sabemos que vocação é chamado, e Maria também foi chamada para uma missão. Assim, como podemos explicar o seu protagonismo em relação às vocações?
2) A Igreja nos ensina que, pelo Sacramento do batismo, todo batizado possui uma identidade única que fica gravada para sempre: é sacerdote, profeta e rei. Como fazer valer esta identidade em nossa vocação de batizados?
3) A presença de José na casa da Sagrada Família foi sempre a presença de um pai disposto a cuidar. Família que é berço das vocações! Assim, olhando sua vida e missão: que testemunho este homem justo nos dá no cuidado com a família?
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