Por Dom Eduardo Miled Koaik Em Artigos

Aparecida – Grandeza e Pequenez

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Em homenagem à Dom Eduardo Koaik, Bipo Emérito de Piracicaba, falecido no dia 25 de agosto de 2012, compartilhamos um artigo de sua autoria que foi publicado na Revista de Aparecida, Ano 1, nº 9. Que o Senhor da vida lhe dê a plenitude da sua glória!

Foi uma aparição diferente das demais que entraram no culto público da Igreja. O sinal do prodígio: uma pequenina Imagem de Nossa Senhora da Conceição retirada do fundo das águas do rio Paraíba, outubro de 1717, junto ao porto de Itaguaçu, próximo à Vila de Guaratinguetá. Ela foi recolhida pela rede de rasto,  lançada pelo pescador João Alves. Em sua companhia estavam outros dois amigos de profissão: Domingos Martins Garcia e Filipe Pedroso. Os três, homens simples, dedicados ao trabalho e religiosos, haviam sido convocados a apanhar boa quantidade de peixes para a refeição do Governador, o Conde de Assumar e sua comitiva, de passagem por esta Vila em demanda das Minas Gerais.

Como a imagem foi parar no fundo do rio é uma história cercada de lendas. De sua origem, no entanto, sabe-se tudo. Segundo estudiosos da imaginárias brasileira do período seiscentista, século XVII, a Imagem é moldada em barro paulista, que depois de cozido, se torna cinza claro. Pelo fato de ter permanecido, por muitos anos, no lodo das águas, adquiriu a cor castanho brilhante que, até hoje, conserva. Sabe-se, também, que foi esculpida pelo ceramista monge beneditino carioca, Agostinho de Jesus, pelo ano de 1650. Entre os detalhes determinantes, destacados por peritos estão a forma sorridente dos lábios, “a perfeição das mãos postas, pequeninas e afiladas como as de uma menina, as mangas simples e justas, de muito requinte terminando no punho esquerdo dobrado”.

O que mais nos interessa nessa exposição é poder dizer, com fatos comprovados por documentos, que se sabe tudo, também, de como foi achada a Imagem. Nas circunstâncias acima referidas, os três pescadores iniciaram a pescaria seis quilômetros antes do porto de Itaguaçu. Vinham, rio abaixo, sem tirar peixe algum. “João Alves lançando a rede neste ponto tirou o corpo da Senhora, sem cabeça; lançando mais abaixo outra vez a rede tirou a cabeça da mesma Senhora”. A narrativa singela e curta, em estilo agradável e fluente, redigida pelo Padre João Morais de Aguiar, encontra-se no Livro do Tombo da Paróquia de Santo Antônio de Guaratinguetá, agosto de 1757, conservado no Arquivo da Cúria de Aparecida. O desfecho da pescaria e do achado da Imagem que o pescador levou em sua canoa, deus-e assim: “não tendo, até então, tomado peixe algum, dali por diante foi tão copiosa a pescaria em poucos lanços, que receoso, os companheiros de naufragarem pelo muito peixe que tinha nas canoas, se retiraram a suas vivendas admirados desse sucesso”.

Estamos diante de um acontecimento envolto em fatos prodigiosos mas despidos de gestos espetaculares. Eles nos revelam os feitos maravilhosos da ação celeste que, ao longo do tempo, foram-se desenhando, pelas mãos maternas de Nossa Senhora, até chegar no que vemos hoje concretizado na imponente Basílica de Aparecida. Tudo é grande nos seus espaços externos e internos para mostrar a grandeza do coração da Mãe que acolhe a multidão de filhos. Só ela é pequenina naquela frágil Imagem de cor morena, achada em pedaços no fundo das águas do rio e entronizada no Altar-Mor do majestoso templo. Nestes sinais temos, mais uma vez, a lição de como Deus exalta a pequenez olhando para a humildade da sua serva e levando todas as gerações a proclamá-la “a bendita entre as mulheres”.

D. Eduardo Koaik – Bispo Emérito de Piracicaba

 

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