Por Pe. Jonas Eduardo G. C. Silva Em Artigos Atualizada em 26 MAR 2019 - 11H29

Encíclica da Papa Francisco

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Como fruto do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, realizado em outubro/2012, foi publicada no dia 24/11/2013 a Encíclica A alegria do Evangelho, coincidindo com o encerramento do Ano da Fé. É a primeira Encíclica redigida em sua totalidade pelo Papa Francisco, cujo testemunho de fé tem contagiado o mundo. Recentemente (17/4) o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao recordar a sua visita ao Papa, citou esta Encíclica que recebeu de presente, sublinhando que Francisco “nos implora a enxergar a dignidade inerente a cada ser humano”.

O tema da alegria cristã – sobre o qual o Papa Paulo VI escreveu em 1975 – não é definido apenas pelas primeiras palavras do documento: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (n. 1). Há uma bela reflexão sobre os seus fundamentos, e o substantivo “alegria” (e o adjetivo e verbo correlatos) ocorrem umas 110 vezes, além do uso de expressões engraçadas, como “cara de vinagre” (n. 85) e “cara de funeral” (n. 10) – o que não podemos ter!

Será esta alegria uma mera euforia, humana ou religiosa, subjetiva e passageira? A que está relacionada? O Papa Francisco deixa claro que não pode haver alegria verdadeira sem o amor, a justiça, a verdade, tanto na vida pessoa como social. Eis algumas ideias fortes que nos apresenta:

  • Um dos problemas contemporâneos apontados pelo Papa é o da “consciência isolada” (nn. 2; 8; 282), pela qual o indivíduo se considera como a única referência; ou seja, “cada um pretende ser portador duma verdade subjetiva própria” (n. 61). É uma ilusão pensar que podemos nos salvar como indivíduos isolados (cf. 113; 173).
  • Só teremos uma “maior sensibilidade” diante das necessidades dos outros quando vivermos uma experiência pessoal de “libertação profunda” (n. 9). Sem “intensificar a sensibilidade” (n. 155) não vamos perceber as necessidades do povo, num mundo marcado pela “globalização da indiferença” (n. 54; cf. 61; 203) – ou seja, não se incomodar com o sofrimento alheio. Exemplo disso é a grave situação dos países africanos, meras peças em um mecanismo de exploração (n. 62).
  • O Papa Francisco destaca o ensinamento de Santo Tomás de Aquino a respeito da misericórdia como “a maior de todas as virtudes” em nosso agir concreto. É uma força que leva a “remediar as misérias alheias” (n. 37), promovendo-os em suas capacidades. Com isso não deixa de insistir sobre o compromisso em prol da justiça (n. 203), ambos temas bem recorrentes no documento.
  • Os pobres e doentes precisam de nossa maior atenção (n. 48). Assim, tomar decisões (na vida pública etc.) como se eles não existissem é uma forma de “relativismo prático” (n. 80); ou, igualmente reprovável, usá-los principalmente para “interesses pessoais ou políticos” (n. 199).
  • É preciso “estudar os sinais dos tempos”, como dizia o Papa Paulo VI em 1964. Estamos assistindo em nosso mundo a “processos de desumanização” quase irreversíveis, o que requer de todos nós uma postura mais responsável (n. 51). Infelizmente a “desigualdade social se torna cada vez mais patente” (nn. 52; cf. 53), fruto de uma “economia sem rosto”, “desumana” (n. 55).
  • O anúncio alegre é acompanhado da denúncia profética. Em nome dos valores morais, o Papa condena a “especulação financeira”, a omissão do Estado, os altos preços, a “corrupção ramificada” e assim por diante (n. 56; cf. 60; 206). Como Bispo de Buenos Aires, Francisco várias vezes denunciou as injustiças.
  • Surpreende a sintonia do Papa Francisco com o recente anseio dos oprimidos: “Em muitas partes do mundo, as cidades são cenário de protestos em massa, onde milhares de habitantes reclamam liberdade, participação, justiça e várias reivindicações que, se não forem adequadamente interpretadas, nem pela força poderão ser silenciadas” (n. 74; cf. 218).
  • Enfim, o Papa é taxativo: a inclusão social dos pobres e a paz e diálogo social são duas questões que “irão determinar o futuro da humanidade” (n. 185) – pois a desigualdade é a raiz dos males sociais (n. 202); assim, a falta de igualdade de oportunidades gera a violência (n. 59). Porém, um alerta: não há mudança nas estruturas sem que haja novas convicções e atitudes (n. 189).

Que os inspirados e provocadores pensamentos do Papa Francisco sejam levados a sério por todos os homens e mulheres de boa vontade do nosso planeta Terra, para que nossa alegria seja sólida e duradoura!

 

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