Por Fr. Gil Filipe, op (Angola) Em Artigos Atualizada em 01 MAR 2019 - 12H02

Quaresma: «Fazei tudo o que Ele (Cristo) vos disser»





A Virgem Maria na Quaresma

No plano salvífico de Deus (Lc 2,34-35) estão associados Cristo crucificado e a Virgem dolorosa. Como Cristo é o “homem de dores” (Is 53,3), por meio do qual se agradou Deus em “reconciliar consigo todos os seres: os do céu e os da terra, fazendo a paz pelo sangue de sua cruz” (Col 1,20), assim Maria é a “mulher da dor”, que Deus quis associar a seu Filho, como mãe e partícipe de sua Paixão. Dos dias da infância de Cristo, toda a vida da Virgem, participando do rechaço de que era objeto seu Filho, transcorreu sob o sinal da espada (Lc 2,35).

Por isso a Quaresma é também tempo oportuno para crescer em nosso amor filial Àquela que ao pé da Cruz entregou a seu Filho, e se entregou Ela mesma com Ele, por nossa salvação. Este amor filial podemos expressar durante a Quaresma impulsionando certas devoções marianas próprias deste tempo: “As sete dores de Santa Maria Virgem”; a devoção a “Nossa Senhora, a Virgem das Dores” (cuja memória litúrgico se pode celebrar na sexta-feira da V semana de Quaresma; e a reza do Santo Rosário, especialmente os mistérios de dor.

Também podemos impulsionar o culto da Virgem Maria através de Missas da Bem-aventurada Virgem Maria, cujos formulários de Quaresma podem ser usados no sábado.

Vivendo a Quaresma

Durante esse tempo especial de purificação e santificação, contamos com diversos meios propostos pela Igreja que nos ajudam a viver a dinâmica quaresmal.

Antes de tudo, a vida de oração é condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, quando o cristão inicia um diálogo íntimo com o Senhor, a graça divina penetra em seu coração e, a semelhança da Virgem Maria, se abra à ação do Espírito cooperando com ela com sua resposta livre e generosa (Lc 1,38).

Como também devemos intensificar a escuta e a meditação atenta à Palavra de Deus, a assistência frequente ao sacramento da reconciliação e a Eucaristia, e mesmo a prática do jejum, segundo as possibilidades de cada um.

Assim nos recorda São Leão Magno: “Estes dias de Quaresma nos convidam de maneira imperiosa ao exercício da caridade; se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos por um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados”.

Esta vivência da caridade deve ser vivida de maneira especial com aqueles a quem temos mais próximos, no ambiente concreto em que nos movemos. Assim, vamos construindo no outro “o bem mais precioso e efetivo, que é o da coerência com a própria vocação cristã” (João Paulo II)

Com Maria Viver a Quaresma

A Quaresma é tudo isto: tempo de revisão de vida, de ascese purificadora e de especial atenção à Palavra de Deus, e, por via de consequência, é também tempo de solidariedade, isto é amor de Deus traduzido em obras.

Para participarem mais frutuosamente no mistério da Páscoa – Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo – a Igreja todos os anos faz a seus filhos a proposta de se exercitarem naqueles diversos aspectos ao longo dos 40 dias que antecedem a festa principal do ano litúrgico. E a secundar esta proposta maternal da, Igreja deparamos com as palavras, atitudes e recomendações da Virgem Maria, consagradas no Evangelho! Ou acontecidas em aparições que a autoridade eclesiástica já reconheceu. Não ajudará, porventura, a utilizar o tempo da Quaresma para fazer uma revisão de vida a presença d’Aquela que continua a recomendar, com suma discrição e insistência como em Caná: «Fazei tudo o que Ele (Cristo) vos disser»?

O exemplo de Maria que viveu pobre e conheceu as agruras do viver fora da sua terra e que também se submeteu, sem «precisar», ao rito da purificação pelo nascimento do Seu Filho, não será proveitoso para encorajar a fazer da Quaresma tempo de penitência, de ascese purificadora? Quem poderá melhor transmitir o gosto de privar com a Palavra de Deus, de A saborear e encarnar na vida senão a Virgem Maria, a Mãe da Palavra feita Pessoa, que A acolheu no Seu seio porque já antes A acolhera no seu espírito? E não será estímulo grande para fazer da Quaresma tempo de partilha e solidariedade o exemplo de Maria Santíssima pronta em se pôr a caminho da casa de Israel para Lhe oferecer os Seus préstimos?

Como se não bastasse isto para fazer de Maria companhia preciosa para viver uma Quaresma de verdade, temos ainda as Suas advertências, feitas em várias manifestações sobrenaturais. Lembremos tão-somente as de Fátima. Na última aparição exprimia-se assim a Senhora do Rosário: «Quero que continuem sempre a rezar o terço todos os dias… é preciso que se emendem que peçam perdão dos seus pecados… Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido».
Salta aos olhos a consonância entre o teor da mensagem de Nossa Senhora em Fátima e a mística do tempo de preparação da Páscoa: aquela insiste precisamente, nos valores que a igreja propõe para se fazer uma santa Quaresma como sejam a penitência (conversão) e a oração (o homem a falar a Deus e Deus a falar ao homem).

 

Maria ensina-nos a tomar consciência

No fim de contas a Quaresma existe porque existe o pecado. E Maria ensina-nos a tomar consciência de que a única realidade verdadeiramente trágica é essa, a da desobediência a Deus, a da recusa do Seu amor. Pecado individual e coletivo. Pecado que introduz desarmonia no plano de Deus e que exige reparação individual e coletiva. Pecado que leva à perdição eterna, mas que pode ser superado pela penitência, pela conversão. Vivendo a Quaresma com Maria, na escola do Seu Coração Materno, vivê-la-emos em profundidade: uma Quaresma de interioridade mas também de partilha fraterna, onde cabe o apelo do Papa João Paulo:  “Deixai-vos impregnar do espírito de penitência e de conversão que é, aliás, o espírito de amor e de partilha; à imitação de Cristo, tornai-vos próximos dos despojados e dos feridos daqueles que o mundo ignora ou rejeita.”

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