Por Academia Marial Em Catequese Atualizada em 02 OUT 2017 - 10H32

Maria na Liturgia: rezando na Igreja entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem Maria

MARIA NA LITURGIA: rezando na Igreja entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem MariaLino Rampazzo 

1. A lei da oração é a lei da fé

Há um “princípio” muito importante a ser seguido no caminho da nossa fé, expresso pelo axioma “Lex orandi, lex credendi”, a saber, “A lei da oração é a  lei da fé”. Isso significa que a oração expressa a nossa fé.

Tal princípio se aplica particularmente na oração pública da Igreja: a Liturgia. A palavra “Liturgia” vem do grego – “leiton ergon” e significa, ao pé da letra, “obra pública”. Para nós, refere-se à oração pública e oficialda Igreja. A “Liturgia” é definida pelo Concílio Vaticano II como “o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo” e “obra de Cristo Sacerdote e do seu corpo que é a Igreja” (Documento sobre a Liturgia,Sacrossanctum Concilium, n. 7).

A Liturgia se expressa, de maneira eminente, na celebração da Eucaristia que é “fonte e cume de toda a vida cristã” (Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 11).

A partir disso, podemos afirmar que, quando participamos da celebração eucarística, vamos  entender, expressar  e aprofundar a nossa fé. No fundo a Liturgia é a grande escola da fé do povo cristão. Nesta “escola” precisamos aprender a ser “bons alunos”. 

2. O lugar de Maria na vida cristã, a partir da Liturgia

O título deste artigo é expresso com a frase “Maria na Liturgia”. Isso, pois, significa que, para entendermos o lugar de Maria na vida cristã, é fundamental partir das celebrações da Igreja que faz solene memória da mãe de Cristo.

As três celebrações marianas mais importantes do ano litúrgico apontam para os quatro dogmas marianos: Maria  Mãe de Deus, sempre Virgem (1º de janeiro); Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (15 de agosto).

A Igreja definiu estas quatro verdades sobre Nossa Senhora, a saber:

- Maternidade Divina de Maria. Foi definida no Concílio de Éfeso (ano 431).

- Virgindade Perpétua de Maria. Foi definida no II Concílio de Constantinopla (ano 553).

- Imaculada Conceição de Maria.  Foi definida pelo Papa Pio IX na Bula Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854).

- Assunção de Maria. Foi definida pelo Papa Pio XII na Bula Munificentissimus Deus (1º de novembro de 1950).

Estas verdades são expressas na Liturgia. E, a título de exemplo, podem-se considerar algumas orações da Solenidade de “Maria Mãe de Deus”.

No dia 1º de Janeiro – Solenidade de “Maria Mãe de Deus”, a Igreja proclama, ao mesmo tempo, a “Maternidade Divina” de Maria e sua “Virgindade Perpétua”.

Eis, pois, como expressa isso:

a) Na Coleta: Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o autor da vida.

b) Na Oração sobre as oferendas: Ó Deus, que levais à perfeição os vossos dons, concedei aos vossos filhos, na festa da Mãe de Deus, que, alegrando-se com as primícias da vossa graça, possam alcançar a sua plenitude.

c) No Prefácio: Na verdade, ó Pai, Deus eterno e todo-poderoso, é nosso dever dar-vos graças, é nossa salvação dar-vos glória, em todo tempo e lugar, e na Maternidade de Maria, sempre Virgem, celebrar os vossos louvores…

d) Oração depois da Comunhão: Ó Deus de bondade, cheios de júbilo, recebemos os sacramentos celestes; concedei que eles nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos a Virgem Maria, Mâe de Deus e Mãe da Igreja.

As partes grifadas destas orações apontam para a fé da Igreja na “Maternidade Divina” e na “Virgindade Perpétua” de Nossa Senhora.

Este mesmo “exercício” pode ser feito para as outras solenidades marianas; e, no fundo, para cada celebração cristã. 

3. O sentido da fé dos fiéis e os dogmas marianos

Voltando ao princípio “a lei da oração é a lei da fé”, pode-se observar que as definições dos Concílios, ou dos Papas, acima indicadas, são todas posteriores à fé do povo.

No mês de junho de 2014, a Comissão Teológica Internacional publicou um interessante documento intituladoSensus fidelium, que significa o sentido dos fiéis. Eis como o define:

“O sensus fidei fidelis [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica.” (N. 49).

Esta afirmação tem uma significativa confirmação quanto à fé da Igreja sobre Maria. A título de exemplo, os dogmas da Imaculada e da Assunção foram definidos recentemente, como foi visto acima: mas o povo de Deus celebrava, fazia séculos, a Imaculada Conceição e  a Assunção de Maria: e, particularmente, na  Liturgia. Em outras palavras, já havia as festas da “Imaculada Conceição” e de “Nossa Senhora da Glória”.

É interessante lembrar, a esse respeito, o que Jesus disse aos seus discípulos na última ceia: “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar  agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade completa” (João 16, 12-13). Neste sentido, os apóstolos não receberam uma “revelação completa” de Jesus. O Espírito, dom do Cristo Ressuscitado, “sopra” sobre o povo de Deus, a Igreja, e a leva, aos poucos “à verdade completa”. Nesta “caminhada da fé”, guiados pelo Espírito, entendemos sempre mais quem é Cristo e todos os que a Ele pertencem, a partir da Sua Mãe. 

4. Maria estritamente ligada a Cristo

A esta altura, deve ser colocada uma questão fundamental: porque é importante, para os cristãos, reconhecer o “lugar” de Maria na Igreja? Trata-se, pois, de explicar o subtítulo deste artigo, a saber, “rezando na Igreja entendemos e alimentamos nossa fè Naquele que nasceu da Virgem Maria”.

O Concílio Vaticano II dá a seguinte resposta: “Pensando nela com devoção, a Igreja penetra mais profundamente no mistério da encarnação e se conforma sempre mais ao seu esposo” (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 65). Em outras palavras, a correta devoção a Nossa Senhora nos aproxima mais a Cristo. Vamos ver como isso acontece.

Os dogmas marianos mostram que Cristo é verdadeiro Deus e homem (Dogma da Maternidade Divina de Maria), apontam para a necessidade de encontrar em Cristo a libertação do pecado (Dogma da Imaculada Conceição), garantem a tensão escatológica, quer dizer que estamos caminhando para a ressurreição final (Dogma da Assunção de Maria) e confirmam a fé em Deus criador que intervém livremente na matéria (Dogma da Virgindade de Maria).

Ressalta-se a primeira afirmação: para mostrar que Jesus era, ao mesmo tempo, Deus e homem, “pontífice”, quer dizer, “aquele que faz a ponte” entre Deus e o homem, a “fórmula” mais fácil foi afirmar que “Maria é Mãe de Deus”. No fundo este “dogma mariano” foi mais um “dogma cristológico”. Aqui também, Maria nos leva a Cristo: este, pois, foi o “caminho” que Deus escolheu para nós, como diz o Credo do Concílio de Niceia (ano de 325): “Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.

Mas há uma outra interessante consideração sobre o lugar de Maria na Igreja. A devoção a Maria manifesta a necessária integração entre Bíblia e Tradição: pois estes quatro dogmas têm fundamento na Escritura, como semente que cresce na tradição (liturgia, intuição do povo crente, reflexão teológica sob a guia do Magistério). Falou-se disso, acima, particularmente com referência aos dogmas da Imaculada e da Assunção. Então, na sua pessoa de moça judia, mãe do Messias, Maria liga Antigo Testamento e Novo Testamento: sem essa junção, a fé vai demais para o Antigo Testamento ou se limita no Novo Testamento. Quanto ao Antigo Testamento, eis, por exemplo, o anjo Gabriel anunciando a Maria que “o Senhor  Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará para sempre na casa de Jacó. E seu reino não terá fim” (1, 32-33). O mesmo evangelista relata o cântico do Magnificat, em que Maria fala do cumprimento das promessas de Deus “a Abraão e seus filhos” (1, 55). E, quanto ao Novo Testamento, nas bodas de Caná, o evangelista João nos apresenta uma significativa atuação de Maria que leva os discípulos a “crerem nele” (2,11). 

5. Maria modelo da Igreja

O Concílio Vaticano II apresenta Maria como modelo perfeitíssimo na fé e na caridade” (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 53).  Olhando para este modelo, a Igreja se preserva daquele modelo machista que a reduz a uma ação sócio-política, a uma abstração. E quando vira abstração, não precisa de uma mãe. Ela mostra  “o rosto materno de Deus”, garantindo a convivência da indispensável “razão” com as indispensáveis “razões do coração”.

É interessante verificar que nenhum outro  cristão, exceto Maria, é considerado como “modelo perfeitíssimo da Igreja”. Este modelo nos leva necessariamente ao seu Filho, Jesus Cristo.

A profunda ligação entre Cristo e Maria nos foi lembrada recentemente, na homilia do Papa Francisco, no dia 1º de janeiro deste ano. Eis as suas palavras, com as quais este artigo se conclui: “Cristo e sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe…Tal inseparabilidade é significada também pelo fato de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário”.

Eis por que, rezando na Igreja, entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem Maria.

 

Lino Rampazzo é professor e pesquisador do CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO (U.E. Lorena) e Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova (Cachoeira Paulista). Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em TEOLOGIA, ÉTICA e BIOÉTICA; e em METODOLOGIA CIENTÍFICA.

Membro da Academia Marial desde 1998

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