Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 02 OUT 2017 - 12H18

A fé libertadora: faz ouvir, falar, reintegra e dá testemunho do amor

                                                                                                      

             Bíblia Sagrada

A fé libertadora: faz ouvir, falar, reintegra e dá testemunho do amor

Mc. 7, 31-37

A leitura da Bíblia Sagrada reanima em nós os anseios por justiça, liberdade e vida plena. Conhecer e viver a Palavra libertadora de Deus, sempre viva e atual! Ela nos une e santifica principalmente aos domingos no altar de Jesus. E daí nos mobiliza e apoia numa luta que parece inglória e utópica: criar uma sociedade capaz de amar e promover a paz contra a política da corrupção e da violência. Dinheiro, fama, prazer, vantagens materiais e benesses que são frutos da ambição contumaz nada garantem em definitivo. Não nos protegem contra as mentiras, fraudes e espertezas. A espiritualidade dominical é garantia de paz e progresso na cidade e na família. No Dia do Senhor temos o encontro fraterno nas missas, cultos, reuniões pastorais. Quanta coisa boa acontece então! É uma verdadeira sabedoria valorizar o domingo de modo cristão! É um dia a degustar, saborear como um banquete do espírito!

Na perspectiva da sociedade civil o domingo é um dia cada vez mais “profano”, isto é, alheio a religião, à experiência da fé, ao sagrado. Privilegiam-se as relações de diversão, competição, lazer e consumo na comida e bebida. Quantas pessoas cansam mais ainda o corpo e sufocam o espírito com alegrias extravagantes. Na TV há um ring de programas fúteis disputando a qualquer preço a audiência. Sacrificam-se a arte, o bom senso, a cultura, a moral e o bom gosto com programas apelativos e ousados. O cristão vive o domingo no seu sentido original. Não despreza o descanso, o lazer, a pausa restauradora do corpo, mas a primazia é do espiritual. Cuidar em primeiro lugar do Reino de Deus e da sua justiça!

 

A Palavra de Deus, proclamada, nos reintegra na dignidade perante Ele.

Assim, a comunidade cristã reavalia seu compromisso com a Palavra de Deus, com a vivência da caridade fraterna e com os seus trabalhos pastorais. De domingo em domingo o culto, as celebrações, nos conscientizam e purificam da mentalidade egoísta. Adentramos mais e mais no mistério de Cristo assumindo seu jeito de ser e sua prática de vida. A Palavra de Deus, proclamada, nos reintegra na dignidade perante Ele. E nos ensina a ver, ouvir, falar e andar como seus filhos e filhas, no respeito à vida humana digna para todos, de modo especial para os excluídos. Assim nos ensina: Mc. 7,31-37, no 23º domingo do tempo comum B.

Nenhum milagre está narrado no Evangelho só para provocar a admiração por Jesus. Os milagres indicam os gestos libertadores que devem ser praticados também por seus discípulos na comunidade. Ao curar o surdo-gago Jesus quer levar a Igreja e a nós todos a um convívio social digno e justo. Aponta caminhos, valores e as propostas de uma nova ordem social sem excluídos.

Em qualquer tempo e cultura a prática da fé em Cristo será para nós um exercício da capacidade de ver, ouvir, proclamar e fazer acontecer o mistério do Reino de Deus, a esperança da sua justiça. A Igreja não é especialista em economia nem em política. Não por isso a fé em Jesus Cristo, seu fundador, servirá apenas para atender os fiéis nas celebrações religiosas, sem direito a ser proclamada, vivida e testemunhada em público num estado laico. Os gestos e as ações de Jesus na sensibilidade, na solicitude, na cura do surdo que gaguejava salientam sua rejeição ao sistema político dominante. Jesus adentrara num território pagão bem definido: Tiro, Sidônia, Decápole. Isso era proibido aos judeus que deviam se afastar dos pagãos evitando a contaminação ou “impureza legal”. Ele contrariou as instituições judaicas dominantes. E foi além: tocou o surdo-gago dando toda atenção àquele que era um excluído social. Logo, impedido de usufruir a convivência humana digna. Tocou-lhe as orelhas. Cuspiu saliva e com ela tocou-lhe a língua. Havia a crença de que a saliva tinha um poder curativo. Olhou para o céu, isto é, rezou ao Pai compadecendo-se pelo sofrimento alheio. E desse modo Jesus, que havia se afastado do povo, e violado os costumes legais, reintegrou o surdo-gago na cidadania, no ambiente social que o havia excluído.

Assim devemos proceder nas comunidades. Aplicar os gestos libertadores de Jesus nas instituições políticas e nas leis econômicas do nosso tempo. Tocar! Sentir! Reagir com indignação ética contra as injustiças produzidas no âmbito dos três poderes republicanos do País. Legislativo, Executivo, Judiciário. Fatos revoltantes de corrupção, manipulação escandalosa do dinheiro público tem sido denunciados todos os dias pela mídia. Quando lá em cima, os poderes maiores cedem à corrupção, nosso povo sofre as limitações do surdo-gago libertado por Jesus. Não pode ouvir a verdade. Não pode falar cobrando seus direitos. Não pode participar. É um povo sugado vorazmente por governantes surdos à voz de Deus e mudos em relação às agruras dos mais humildes. Neste mês da Bíblia abramos nossos ouvidos à Palavra que ilumina o caminho justo e produz a fraternidade e não a mera disputa entre governo e oposição.

Um olhar para Maria

Muitos títulos devocionais dados a Nossa Senhora surgiram desde os primeiros séculos inspirados na confiança em sua intervenção libertadora. Por exemplo: Perpétuo Socorro. Piedade. Ajuda. Auxiliadora. Desatadora de nós. Nossa Senhora das Graças. E outros mais mesmo sem expressar nominalmente essa característica representam uma história de libertação continuada. Este é o caso do título Nossa Senhora Aparecida. Por meio dele os três pescadores que recolheram a imagem veneranda em suas redes logo abriram o coração para rezar o terço. Depois, fizeram como no caso da cura do surdo e mudo: começaram a divulgar o fato. Hoje, quase 300 anos após a pesca da imagem, ela é muda como objeto de veneração. Mas, proclama as maravilhas de Deus através dos romeiros que testemunham as graças recebidas. Ela, a imagem é surda como objeto, mas representa a mulher bendita que tendo acreditado, proclamou: Todas as gerações me chamarão bem-aventurada. O Senhor fez em mim maravilhas: santo é seu nome! Que ela dos ajude a ser todo ouvidos à Palavra neste mês da Bíblia!

                                                                                                                   

                                                                                              

2 Comentários

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R., em Grão de Trigo

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...