Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H43

A verdadeira justiça: vencer o mal com o bem!

Dar a face esquerda

7º Domingo do tempo Comum/A  Mateus 5,38-48

Partilhamos na Eucaristia o anseio comum aos filhos e filhas atentos à Palavra que vem de um Deus Pai e Mãe. Lendo, ouvindo, refletindo e rezando a sabedoria da Palavra, ela nos qualifica para promover a paz. Os povos da terra em suas diversas culturas ainda estão à procura de garantias, leis e códigos que ao menos mantenham a paz. Que punam os criminosos sem ofender o respeito à justiça. Sempre surgem problemas morais quando se trata da proporção justa entre a culpa e a punição legal. O equilíbrio jurídico-moral não tem sido isento de interferências violentas ou de omissões da ação policial, ora criticada, ora cobrada de inação pela mídia. É frequente nas instituições civis, estatais ou de poder a chamada operação tartaruga que não passa de greve disfarçada. (Ainda está em curso no Espírito Santo a paralisação de policiais militares, já denominada de ‘motim’...). Muitas vezes cometem-se excessos e abusos de poder; outras vezes os atores criminosos ficam impunes, apesar da lisura da ação policial. Há o chavão que diz: a polícia prende; a justiça solta o bandido. Tem havido nos grandes centros ondas de violência, quebra-quebra, baderna, vandalismo acompanhando greves ou manifestações organizadas para reclamar direitos legais. Por um lado há o anseio legítimo. Por outro, a aglomeração facilita a agitação explosiva de piquetes grevistas ou simples baderneiros que mostram prazer em destruir o patrimônio público ou privado. Ser policial nas múltiplas tensões da cidade populosa, dosando a ação repressiva e defensiva, sujeito à crítica da imprensa e às armadilhas ideológicas, não é vocação fácil hoje.

 

É uma convicção que vem da fé na pessoa de Cristo. Nasce do seu jeito, ensino e prática de vida. Em reação à violência e a agressão, propõe “perdoar”!

Mas, não é só questão de polícia o equilíbrio do uso da força e a aplicação da lei. Em qualquer época e sob qualquer legislação a justiça humana é insuficiente, é incapaz, é limitada, está sujeita ao vai e vem político e social, aos avanços e recuos morais de um tempo. A busca da segurança e da paz na convivência diária é anseio face à crescente insensibilidade ao valor da vida humana como tal. Vida do trabalhador, a da criança, a do doente, a do preso, a do feto no seio materno! Diante de tantos crimes impunes, inclusive os praticados no trânsito por pessoas alcoolizadas, na consciência coletiva acalenta-se o espírito de revolta e a tendência à vingança. Não houvesse a cultura religiosa trabalhada pela Igreja desde a colonização, haveria no Brasil a pena de morte. Hoje a barbárie do “olho por olho, dente por dente”: a antiga Lei do talião, não existe como punição legal, mas está disfarçada de um modo ou outro em resquícios cruéis por aí. Exemplo: crimes do tráfico e o linchamento. Nesse quadro social real fica bem ler e comentar o texto-base do Evangelho, uma parte do Sermão da montanha, o discurso de Jesus sobre as Bem aventuranças, Mateus, 5, 38-48.    

Nesse trecho final do capítulo 5º de São Mateus a justiça do Reino de Deus proclamada por Jesus impulsiona o amor humano ao seu mais alto nível. A proposta é esta: amar é a fórmula mais perfeita de se fazer justiça. Essa é a convicção cristã, é a da lei de Cristo que supera tudo o que o homem pode alcançar em nobreza, em benevolência, em acolhida ao próximo. É uma convicção que vem da fé na pessoa de Cristo. Nasce do seu jeito, ensino e prática de vida. Em reação à violência e a agressão, propõe “perdoar”! O mal será vencido com o perdão, mais do que com a justiça e todo aparato legal. Jamais a maldade humana será vencida com outra, mesmo que haja a lei penal. Em qualquer época a legislação que estatui e aplica a justiça humana será sempre insuficiente, limitada e mal adaptada quanto à ética. Jesus exemplifica com três ou quatro situações concretas onde seria possível vencer o mal com o bem: a violência do malvado, o processo injusto, o amor aos próprios inimigos e a oração pelos perseguidores.

“Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Mas, eu vos digo: amai vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem para que sejais filhos do vosso Pai celeste...”

É taxativa a sentença: “Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Mas, eu vos digo: amai vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem para que sejais filhos do vosso Pai celeste...” (Mt 5, 43-45). Na época de Jesus, o conceito de “próximo” equivalia ao de “concidadão”. Este era o próximo que devia ser amado. Não seria preciso amar um inimigo. Jesus amplia a lei do AT e a leva à perfeição do amor. Levou o amor ao ‘próximo’ até o limite extremo: o inimigo! Rezar para convertê-lo. Pedir a misericórdia divina para ele. A partir do sermão da montanha ou das bem aventuranças o discípulo-missionário fiel ao ensino de Jesus Cristo sabe que a fórmula para repelir a injustiça praticada não é o rigor da lei, mas é a resistência pacífica. É sofrer e suportar o mal não fora, mas dentro do coração. A força do mal é quebrada se for quebrada dentro de nós. Essa justiça maior é o único jeito que nos faz capazes de amar como Deus ama.

O que Jesus nos propõe não seria tanto recusara justiça das leis, mas a nossa natureza corrompida e egoísta. Se recebermos misericórdia, temos que a partilhar com todos. Lembremo-nos da Virgem do Calvário: Maria, mãe dolorosa! Sem jamais ser vencida por qualquer violência ela com-padeceu com o Filho crucificado. Na verdade, desde a consagração dele ainda bebezinho no Templo, aceitara todo com-padecimento, advertida por Simeão: “por causa dele uma espada de dor te traspassará a alma”. (Lucas 2,35). Que seu poder na glória guie e ilumine nosso coração para termos os mesmos sentimentos do Filho! 

Pe. Antonio Clayton Sant’Anna - CSsR

 

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