Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 02 OUT 2017 - 13H08

Corpo de Deus: o Fiat de Maria e o ‘amém’ da comunhão

Corpus Christi

Homilia 'Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo'

(Mc.14,12-16;22-25)

O próprio clima da festa de hoje nos inspira nos anseios por uma sociedade mais justa com todos, principalmente com aqueles milhões que ainda passam fome.

A festa do Corpo de Deus, em suas tão bonitas tradições, eleva o nosso pensamento à adoração. Adoramos o mistério da Palavra que se fez carne. Palavra pão da vida! Deus se encarnou no corpo humano doando-se a nós no homem Jesus de Nazaré. Na palavra falada por Jesus temos a sabedoria, a luz do conhecimento que vem do céu. No seu corpo sacrificado, mas glorificado ele nos dá o pão da vida eterna, alimento espiritual.

Antiquíssima no calendário católico a festa do Corpo de Deus começou no ano 1264, com o papa Urbano IV. Esta celebração parece ser a mais espiritual de todas as festas católicas. Não tem barracas de comes e bebes nem diversões de costume. É verdade, sendo um feriado civil, possibilita fazer a tradicional “ponte” até o domingo para muitas pessoas. As agências de turismo oportunizam aí seus “pacotes” de viagens e passeios. Nem isso introduziu a marca do consumismo no dia do Corpo de Deus. Continua havendo um profundo espírito religioso nos enfeites de ruas, nas ornamentações artísticas das cidades para a procissão do Santíssimo Sacramento. Os enfeites se tornam verdadeiras lições de catequese e retratos de passagens bíblicas. São manifestos o respeito, a fé, a piedade popular!

A Eucaristia, presença de Cristo no pão e vinho consagrados, é um ato de fé inspirador da devoção popular. Na missa é lido o texto de São Marcos sobre a instituição da Eucaristia por Jesus na véspera da Páscoa. No relato de Marcos os preparativos para aquela grande festa não giram em torno do Templo de Jerusalém, símbolo da Aliança com Deus. A narrativa põe em foco a autoridade misteriosa de Jesus. Ele é alguém que sabe o que vai acontecer. Ele é quem faz a verdadeira Páscoa, sinal da aliança libertadora de Deus para todos.

Leia-se: Mc. 14,12-16; 22-25.

Na ceia pascal com os apóstolos Jesus abandonou o ritual judaico de praxe e concentrou em si próprio o sentido simbólico do sacrifício do cordeiro pascal. Jesus primeiro se identificou com o pão. Não de modo simbólico, mas de modo real. O pão em suas mãos e depois o cálice de vinho foram por ele apresentados aos convivas da mesa pascal, como sendo ele -JESUS- em pessoa. No seu corpo e no seu sangue. Os apóstolos comensais da celebração festiva não estavam vendo sinais representativos ou meros símbolos. Jesus exigiu deles esta fé: comiam e bebiam a vida dele, a carne e o sangue misteriosamente ocultos na realidade física do pão e do vinho.

Isto é o que a Igreja acreditou desde o começo. E foi passando adiante às gerações seguintes à época apostólica, no ensino catequético e nas tradições das comunidades cristãs. “Tomai e comei isto é meu corpo” “Tomai e bebei isto é meu sangue. O sangue da aliança, que é derramado em favor de todos” (vv.22-24).

As palavras misteriosas do Mestre expressam aqui uma solidariedade radical conosco. Seu corpo estava sendo preparado para a cruz. E aí sim, a partilha seria o gesto simbólico retratado no pão repartido com todos. O mesmo e único cálice, passado de mão e mão para os convivas, simbolizava uma “nova aliança”. Superior e substitutiva da antiga aliança realizada lá no Êxodo. Naquela o povo firmara um contrato, um pacto de vida com Javé, o Deus libertador e parceiro fiel da sua história de liberdade e vida. Na sua nova páscoa, Jesus fez do seu sangue a ser derramado na cruz a garantia do novo pacto, a nova aliança entre Deus e o homem. Quem se unir a ele e nele crer, é chamado a comungar com ele o seu projeto da justiça, vida e paz, participando da sua própria vida.

Maria, “mulher eucarística”.       

Não seria só um piedoso exagero pensar que a encarnação de Jesus antecipa o mistério da Eucaristia. O seio virginal de Maria abrigou o Verbo como o primeiro e mais sublime sacrário. A missa e comunhão perpetuam no altar o sacrifício da cruz e a vida do ressuscitado. De algum modo a encarnação aponta para o mistério pascal do Senhor.

Existe, pois, uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o amém pronunciado quando recebemos o corpo do Senhor, ensinou-nos este Papa na Encíclica: Maria e a Eucaristia. Façamos da comunhão frequente a garantia da vida de Deus em nós, a fonte do  compromisso com a justiça, a paz, a partilha da vida digna com todos.

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