Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 02 OUT 2017 - 12H41

Junto a Jesus não há espaço para ‘1º lugar nem carreirismos’

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 Homilia 25º Domingo Comum - Ano B       

 Mc.9,30-37 

Junto a Jesus não há espaço para ‘1º lugar nem carreirismos’

 

O domingo é o dia especial de formação para sermos discípulos do Mestre reunidos à mesa do altar. Suportamos ao longo da semana a pressão da rivalidade social em contínua disputa de poder, prestígio, dinheiro, benesses e outras competições. Quando partilhamos o pão da Palavra, no altar da missa, nos cultos e reuniões de grupos, temos um momento privilegiado e rico que nos defende do esquema diário da convivência egoísta. Podemos então nos libertar das armadilhas como: orgulho, conflitos, inveja e rivalidades por ambições de todo o tipo.

Já no começo da Igreja, a carta de São Tiago avisava os cristãos “Caríssimos: onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más. Por outra parte, a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura; depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. O fruto da justiça é semeado na paz para quem promove a paz.” (Tg 3, 16-17). O trecho integra a liturgia da Palavra neste domingo. E retrata bem a formação espiritual e a capacitação moral passadas a nós nas celebrações dominicais. São Tiago aplica em sua catequese o ensino de Jesus em Marcos, falando sobre amar a Deus e servir aos outros com humildade. Para Deus é importante quem serve, fazendo-se o último na comunidade. A carta de São Tiago teria sido considerada parte do cânone do Novo Testamento somente no século IV. Mas, ainda assim conhecido, a exigência de suas palavras sobre as obras do amor continua, até hoje, incomodando muito o comodismo e a ambição de poder e conforto dos cristãos e de suas instituições com o mundo.   Leia: Mc 9, 30-37.

O ambiente narrativo montado pelo evangelista coloca Jesus a caminho de Jerusalém através da Galiléia com seus discípulos. A Galiléia era a periferia desprezada do País judeu. As autoridades de Jerusalém marginalizavam os galileus, considerados não observantes da Lei até mesmo porque se misturavam aos estrangeiros. Logo, o povo ali vivia em pobreza e ali havia uma grande expectativa sobre a vinda do Messias prometido. Ele mudaria a situação e devolveria aos pobres a dignidade, a liberdade e os bens materiais. Os apóstolos compartilhavam essa esperança popular. Já em casa, isto é, na intimidade, Jesus os instrui sobre as exigências do discipulado missionário. Lembra-os das profecias. Elas falavam do Messias libertador sim, mas não igual aos dominadores. Ele seria um justo perseguido e sofredor. Seria um “filho de homem”, isto é, alguém sem poder e força política. “O Filho do Homem, isto é, o Messias vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após a sua morte, ele ressuscitará” (Mc. 9,31).

Sempre que Jesus falava de morte ligada à ressurreição não era compreendido. Também aqui não o foi e os discípulos tiveram medo de perguntar. Por que o medo? Porque seguiam o Mestre sonhando com vantagens humanas e o prestígio sobre os outros. Discutiam entre eles a quem caberia o primeiro lugar quando Jesus triunfasse de seus inimigos lá na capital. Movia-os o espírito de competição e concorrência, entregando-se às rivalidades. Esperavam ter o seu quinhão de poder e glória na cidade símbolo da Aliança com Deus. O mesmo caminho, a mesma direção! Mas, dois horizontes e estilos bem diferentes na caminhada. O pensamento de Jesus era o da solidariedade ou o do serviço por amor, sem qualquer outra pretensão. Nada de cargos e honrarias; nada de posição social e prestígio. Quanto aos discípulos “quem quisesse ser o primeiro deveria ser o último de todos e aquele que serve a todos (v.35)”. A cena fala de uma criança introduzida por Jesus que finaliza o ensino. Por que a criança? Porque a cultura da época não lhe dava valor. Com Jesus ela se torna símbolo da simplicidade e da acolhida por amor. Acolher os outros sem pretensões. Assim deverá portar-se o discípulo dentro da comunidade. Uma comunidade cristã estará tanto mais próxima do Senhor e Mestre, quanto mais dedicada a acolher e servir os mais simples e humildes, sem competições, ambições e louvores.

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         Com o olhar para Maria, discípula modelo de humildade.

Alguém escreveu: “A Igreja não pode ser só a comunidade do ‘pluvial’, da mitra, das honras, dos privilégios, mas é chamada a ser comunidade da toalha, na qual o primeiro lugar é ocupado por quem serve. Melhor ainda: quem ocupa o primeiro lugar é destinado a servir”. (1) Ora, Maria antecipa o perfil do que deveria ser uma “igreja servidora e pobre”. Ciente da encarnação do Messias em seu seio ela se colocou ao serviço da Palavra como serva: eis aqui a serva do Senhor! O amor fiel exigido para seguir Jesus até o fim começou e atingiu sua plenitude no modo de ser de Maria, em sua total união com o projeto messiânico que a sacrificou com o Filho no Calvário. Que sua intercessão nos faça perseverar até a Jerusalém celeste!                       

 

 

 

 

[1] TOMASI, Flávio L. M. Entre vós não seja assim: Guia ao serviço de liderança. São Paulo: Paulinas.              2014. p. 214.

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