Santuário Nacional de Aparecida – SP
Novena da Padroeira
Maria, Senhora da Esperança e da Vida
Nossa Senhora Medianeira
O evangelista João é sóbrio em relação à “Mãe de Jesus”, nunca designada pelo seu próprio nome. Ele a menciona em duas cenas apenas, porém, extremamente significativas: no primeiro dos “sinais” em Caná da Galiléia (2,1-5) e ao pé da cruz (19,25-27). Maria é a referência de Jesus ao entrar e ao sair da sua atividade pública e é na qualidade de referência de Jesus que ela é acolhida pelo Discípulo Amado “no que era seu”, a comunidade (19,27).
A parábola do Pastor se move sobre um fundo familiar à vida palestinense. Á tardinha os pastores reúnem o rebanho num recinto para a noite. Normalmente um só recinto serve para diversos rebanhos. De manhã cada pastor grita a sua senha, e as ovelhas, as suas, que lhe conhecem a voz, seguem-no. Mas além da cena campestre à qual Jesus se refere, existe um tema bíblico que perpassa o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Sobretudo três textos merecem ser lidos sobre isso: Sl 23; Ez 34,24-31 e Jr 23. Nesses textos veterotestamentários os motivos mais acentuados são: o tamanho do amor de Deus, a eleição, o mútuo conhecimento, a comunhão de vida, a preocupação de Deus para com o seu povo, a condenação dos falsos pastores, o empenho de Deus em tirar seu povo do exílio e em reuni-lo na dispersão.
Observemos logo que nesta parábola João não descreve apenas o pastor, mas também as ovelhas: Enquanto o pastor conhece suas ovelhas e dá a vida por elas, a ovelha, conhece a voz do pastor e o segue. Volta aqui o tema do seguimento. O seguimento supõe um chamado, ou melhor, uma posse da parte de Jesus. Da parte dos discípulos implica a recusa de todos os outros pastores: Cristo é o único e exclusivo pastor. O seguimento consiste enfim no conhecimento recíproco, na comunhão, não só de pensamento, mas também de existência: este é, de fato, o rico sentido do verbo “conhecer”.
Os versículos 7 a 10 são uma meditação sobre a parábola e ao mesmo tempo um passo à frente, um pensamento a mais. Na parábola a porta era um elemento descritivo; aqui, assume um preciso significado cristológico. Eu sou a porta pode ter um duplo significado, referente aos chefes e referente aos fiéis: 1.º Jesus é a porta pela qual é preciso passar para ser legítimo pastor. 2.º Jesus é a porta pela qual se entra e se alcança a salvação. Afirma-se o lugar central de Cristo. Tudo depende dele. Nele encontramos a salvação e a vida.
Quando se trata de discipulado Maria é sempre modelo. “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 25). Maria mulher modelo de fé é que assim diz. Não há outro encargo ou significado para Maria, para a Igreja, para o crente a não ser um convite em direção a Jesus.
Chamamos Maria a Senhora da Esperança: Conta-nos São Lucas, no Evangelho, que no dia da Visitação, Santa Isabel, movida pelo Espírito Santo, louvou Nossa Senhora com estas palavras: Feliz a que acreditou, porque se cumprirão todas as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor (Lc 1,45). Maria acreditou e, do solo fecundo da sua fé, brotou a esperança como uma planta viçosa, como uma fonte cristalina, como um diamante único, indestrutível. Por isso a Igreja a chama Mãe da santa esperança, e por isso nós a invocamos como Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa... Não são apenas belas palavras. Tem um conteúdo profundo. Descrevem a missão que Jesus lhe confiou em relação aos seus irmãos – a nós, que somos todos irmãos de Jesus (cfr. Rm 8,29) e filhos de Maria (Jo 19,26).
Mas Ele deu-nos uma Mãe - a sua Mãe – para que, com o calor de seu coração, nos ensinasse a confiar
Quando Jesus nos deu Maria como Mãe, no momento solene da agonia na Cruz, quis garantir-nos a esperança. É verdade que a nossa esperança deve estar, toda ela, colocada em Deus. Deus, e só Deus, é o motivo e a fonte radical da esperança. Mas Ele deu-nos uma Mãe - a sua Mãe – para que, com o calor de seu coração, nos ensinasse a confiar; para que estendesse a mão a estas pobres crianças suas que somos nós, para que as guiasse e as introduzisse no mundo maravilhoso da esperança.
Nossa Senhora é a Medianeira como caminho para chegar ao Mediador. Portanto, a Palavra de Deus, a Tradição da Igreja sempre consideraram a mediação humana junto a Jesus Cristo, o único Mediador, pois a Santíssima Trindade não quis salvar a humanidade sem a cooperação dos homens. Na História da Salvação, desde a Antiga Aliança, muitas foram as mediações humanas como Abraão, Moisés, os reis, os profetas, as santas mulheres, os apóstolos e discípulos de Jesus Cristo. Mas, na plenitude dos tempos, Deus suscitou a mediação singular da Virgem Maria para o desígnio da Salvação da humanidade.
Nossa Senhora esteve presente em toda a vida terrena de Seu Filho Jesus Cristo, desde o Mistério da Encarnação do Verbo, passando pela Sua Vida oculta em Nazaré e a sua vida pública, até a consumação do Mistério Pascal. Como que para simbolizar a sua mediação, depois da Ascensão do Senhor aos Céus, a Santíssima Virgem permaneceu com os apóstolos e discípulos. Essa mediação de Maria, que permanece pelos séculos até a consumação eterna de todos os eleitos, não exclui a mediação de Cristo, mas antes é um caminho mais fácil para chegar até o Filho, nosso único Mediador junto ao Pai. No entanto, essa mediação da Mãe da Igreja se diferencia radicalmente das outras mediações humanas por seu caráter materno.
A virgem de Nazaré não somente gerou o Filho de Deus, mas também o alimentou, educou e acompanhou durante toda sua vida, até o momento supremo de sua existência terrena, a sua doação no sacrifício da Cruz. Isso significa que a Virgem Maria é medianeira universal, pois ao entregar-se inteiramente ao seu Filho Jesus, ela cooperou na obra da salvação de toda a humanidade. Dessa forma, a Virgem Maria é medianeira de todas as graças, pois ela nos deu Jesus Cristo e nos dá todas as graças necessárias para a nossa salvação, que nos foi alcançada pelo sacrifício único e definitivo de seu Filho no alto da cruz.
Dom Geremias Steinmetz – Bispo de Paranavaí/PR
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