Messianismo humilde vence poder corrupto
Homilia Domingo de Ramos – Ano C
O Domingo de Ramos abre a Semana Santa. Embora a secularização descarte o sagrado, a Semana Santa ainda marca a alma religiosa do povo brasileiro. O materialismo e o consumismo bem que gostariam de limitar só dentro das igrejas o espaço das manifestações religiosas, Mas, a Semana Santa resiste e leva suas celebrações até às ruas em muitas cidades. São tradicionais as procissões do Encontro, do Senhor Morto. Persiste a Benção dos Ramos nas matrizes e capelas.
Os dias são iguais aos outros. Nada muda nas expectativas rotineiras dos trabalhos, diversões ou negócios. Muitos talvez vejam na Semana Santa só o feriado prolongado do calendário. Chance de passeio e diversões. Quem sabe a indiferença e descrença da cultura atual possam sufocar a vivência cristã. A santidade vai depender é das convicções interiores e da participação consciente nos atos religiosos da comunidade. É preciso perguntar-se: o que vai ser para mim a Semana Santa? Será um tempo, uma chance de rezar mais, ouvir com mais calma e atenção interior a santa Palavra de Deus? Sim, porque a Semana Santa revive na lembrança e na fé o mistério de Jesus Cristo, o Messias, o Filho de Deus, nosso Salvador que por nós sofreu, morreu e ressuscitou!
De fato é um tempo que provoca a fé! Uma chance preciosa da Graça de Deus que não nos convém desperdiçar! Por que não sentir como é bom espiritualizar as ideias e santificar nossa vida? Vivemos tão bombardeados pela propaganda, distraídos por tantas coisas, aturdidos por novidades, barulho, trabalho etc. Falta-nos tempo para pensar as realidades da nossa fé e aquecer o entusiasmo do coração pelas coisas de Deus! Às vezes, a gente se pergunta se as pessoas ao redor de nós ou nas grandes cidades entendem alguma coisa daquilo que a Igreja Católica professa e celebra! A bênção e procissão dos ramos iniciam a Semana Santa com a celebração litúrgica da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém no final de sua vida. Leia: Lc 19, 28-40.
Havia um tom patriótico misturando-se às expectativas religiosas judaicas em relação à vinda do Messias. O objetivo de Jesus não era o poder. Qual o significado da sua entrada em Jerusalém no texto de Lucas? A intenção de Lucas é teológica e não primeiramente histórica. No seu evangelho há um longo trecho conhecido como a viagem da Paixão ou a viagem messiânica para Jerusalém. Nesse trecho Lucas vai narrando fatos, repassando os ensinamentos e palavras de Jesus sempre imaginando-o a caminho da cidade santa, seguido pelos discípulos. É uma “viagem messiânica”, ou seja, o itinerário do Messias.
Quer esclarecer o projeto do Reino de Deus: salvar a humanidade pelo Messias prometido. Termina às portas da cidade santa onde Jesus é aclamado como o ungido de Deus. “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor. Paz no céu e glória nas alturas” (v. 38). “Aquele que vem” é uma expressão bíblica que os profetas usavam referindo-se ao tempo final da espera quanto à chegada do Messias.
“Exulta de alegria, filha de Sião, rejubila, filha de Jerusalém! Vem a ti teu rei. Ele é justo e vitorioso. Humilde, está montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta (...) e proclamará a paz às nações”.
A entrada é uma cena humilde nas aparências. Mas, estava chegando um vencedor! Pacífico, sem aparato de poder ou violência, ele revela sua autoridade misteriosa. Ele é “o Senhor”, e basta dizer isso para liberar o uso do “jumentinho que nunca ninguém havia montado” (vs. 30.34), Não é um guerreiro que exige um vistoso cavalo. O profeta Zacarias anunciara esse Messias humilde ao escrever: “Exulta de alegria, filha de Sião, rejubila, filha de Jerusalém! Vem a ti teu rei. Ele é justo e vitorioso. Humilde, está montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta (...) e proclamará a paz às nações”.
Todas as instruções de Jesus aos dois discípulos sobre o modo de arrumar esse jumentinho; os mantos colocados à sua passagem, o entusiasmo do povo, enfim tudo é descrito com referências ao AT carregadas de simbolismos. Por exemplo: o jumento novo sinaliza que Jesus está fazendo um ato religioso, pois quando se oferecia o sacrifício de algum animal no Templo, o animal tinha que ser usado só para isso!
Aproximava-se a Páscoa, festa comemorativa da libertação da antiga escravidão. Peregrinos chegavam vindos de todas as partes, também da Galiléia. Muitos já conheciam Jesus. Ajuntaram-se aos discípulos formando o cortejo que atraiu também curiosos e os incorporou na procissão rumo ao Templo. Os romeiros maravilhavam-se com a visão da cidade santa desde a encosta do Monte das Oliveiras. As aclamações surgiam espontâneas, principalmente quando entrava alguém importante. Os vivas dos discípulos e peregrinos incomodaram os fariseus. Politicamente sugerem a Jesus que todo aquele barulho poderia despertar suspeitas entre os soldados romanos. Ou talvez como guardiães e intérpretes oficiais da Lei protestavam contra o título messiânico dado Jesus. “Mestre, repreende teus discípulos... para que se calem” (v39). A resposta de Jesus soa como um aviso profético sobre a destruição de Jerusalém: “se os discípulos não puderem proclamar a condição messiânica do Mestre, as pedras da cidade destruída a proclamarão um dia!” (v.40).
Que papel atribuir a Maria nesse quadro bíblico? Quais seus sentimentos em relação à cidade símbolo da Aliança com Deus, mas sede do poder insaciável e desumano que a comprometia? À luz do discipulado que inegavelmente uniu a Igreja ao sentido da Mãe desde o início, podemos venerá-la e invocar sua proteção como Nossa Senhora das Dores.
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