Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 13H14

Seguir Jesus não oferece nenhuma vantagem material

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Lc 9,51-62

Homilia 13º Domingo Comum ano C  

Chegando ao 13º domingo comum, ano C, no calendário litúrgico, nosso horizonte da fé está sempre à vista! A meta é a mesma de Jesus: Jerusalém. Explicando. A cidade santa da Bíblia e o Templo eram inseparáveis para o judeu. O símbolo das esperanças históricas e proféticas do povo escolhido. E também como que a “praça forte” do poder religioso-civil judaico. Escribas, doutores da Lei, fariseus e todas as classes sacerdotais distribuíam entre si a tarefa de zelar pela Lei de Moisés. Esmeravam-se em impor às camadas mais simples do povo pesadas obrigações religiosas e civis, invocando a Aliança com Javé. Na verdade, mais do que zelo pelo Templo e a Lei, a classe dirigente cuidava de seus interesses políticos e de seus privilégios. Nesse ambiente surgiu Jesus. Ele amava profundamente a cidade santa, o Templo. Por isso lamentava que o povo vivesse tão abandonado pelas autoridades político-religiosas, por seus representantes oficiais. E era obrigado a sustentar as mordomias da elite dirigente, também através do culto no Templo.

Ora, toda a missão, todo o ministério de Jesus é descrito no Novo Testamento como: o caminho do Messias! Lucas é o evangelista que mais recorre ao simbolismo dessa palavra. Principalmente quando se refere à etapa decisiva da vida e da pregação de Jesus, ao narrar sua ida a Jerusalém como meta da sua vida, e confronto decisivo contra os poderosos. Entretanto essa viagem para Jerusalém, no roteiro do Evangelho lucano, pode ser imaginária. Um recurso literário. Ela indicaria talvez um caminho espiritual para os discípulos do Mestre, mais do que a descrição de fatos históricos. Quando Jesus se colocou ao serviço do povo oprimido foi porque entendeu ser essa a vontade de Deus para ele, mesmo ao preço da própria vida. Caminhando para Jerusalém Jesus abriu para seus seguidores o caminho da verdadeira libertação: a que nos liberta do pecado. Indo para a cruz, solidário conosco e obediente ao Projeto de Salvação do Pai, Jesus andou também com nossos pés. Seus passos são os nossos. Passos de discípulos! Desse modo, Lucas desenha o seguimento, no capítulo 9,51-62. (Ler).

A própria direção ou a meta para onde Jesus ia, faz um questionamento radical a quem o queira seguir. Está indo para Jerusalém? Segui-lo é arriscado. Será que vale a pena? De todo o modo se alguém quiser mesmo ir com ele deverá antes de tudo refletir seriamente. No contexto do Evangelho haveria rejeição, perseguição e até a morte na cruz. Coisa bem clara primeiro na recusa dos samaritanos. Inimigos políticos dos judeus nem permitiram a passagem de Jesus pela Samaria. Segundo, nas atitudes ilustrativas de três pessoas anônimas as quais poderiam ou não acompanha-lo. Na Bíblia, três é número referente à totalidade. Aqui, representariam discípulos de todos os tempos. No 1º caso, alguém na estrada alcançou os passos do Mestre e lhe afirmou resolutamente: “Eu te seguirei para onde quer que fores” (v.57). Jesus não o desencorajou e nem o animou. Deixou claro que ele não estava preso a nenhum interesse material de segurança. Sua companhia era incômoda e sujeita a perigos como a de um andarilho. “Não tinha onde repousar a cabeça” (v.58). Assim, quem quisesse vir com ele não poderia acalentar sonhos alheios à sua missão.

No 2º caso, Jesus toma a iniciativa de convidar alguém. O convidado anima-se a aceitar, mas pede um prazo, pois gostaria de esperar o velho pai falecer para levá-lo à sepultura. Jesus lhe dá uma resposta cortante: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos, tu, vai anunciar o Reino de Deus” (v.60). Talvez a interpretação melhor dessa palavra seja: o convite a segui-lo é maior que todas as situações legítimas e urgentes porque abre a perspectiva da verdadeira vida. A que vem do Reino de Deus. Importa anunciá-lo mais que tudo!

 O 3º caso é semelhante ao primeiro. É o daquele possível discípulo hesitante: quer e não quer. Desejaria antes uma opinião de seus familiares. Ou curtir ainda um pouco a convivência com eles. De novo, Jesus aponta os valores do Reino de Deus acima de todos, também acima dos valores de família. É preciso optar pelo Reino com firmeza, como o lavrador atento e firme no manejo do arado. Ele não olha para trás: não tem esse tempo para arar direito!

O Evangelho é sempre assim mesmo: é radical nas suas propostas. Surge em nossa mente o exemplo de Maria, a Virgem fidelíssima que abraçou a missão do Filho até o Calvário. Ali, a mãe repetiu o “sim” final com total liberdade interior. E com ele alcançou a vitória, após passar por todos os riscos, sofrimentos e cruzes do caminho. Aplica-se bem a ela a comparação da mão firme no arado: sua intercessão lá do céu nos dá firmeza e constância na peregrinação da fé.

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