Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Homilias Atualizada em 26 MAR 2019 - 13H18

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Homilia 30º Domingo tempo comum A

Mt 22,34-40

A unidade entre fé e vida: os dois mandamentos são um só!

A “armadilha” da lei

O episódio é mais uma das várias armadilhas que os guias religiosos do tempo armaram contra Jesus. Queriam a opinião dele sobre uma questão ao mesmo tempo teórica e prática e a qual não se podia fugir. Perguntaram-lhe qual seria o maior mandamento da Lei de Moisés. Atribuir a prioridade a um ou outro, corresponderia diminuir os demais e, logo, “obedecer menos” a Deus. Ora, todo o mundo já sabia o que estava escrito no livro Deuteronômio, 6,4: “Ouve, ó Israel: …amarás a Javé teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a sua força”. O povo recitava essa fórmula todos os dias. Mas o espírito legalista dos fariseus tinha levantado um total de 613 mandamentos, dos quais 365 eram proibições e 248 eram prescrições. A partir daí gostavam de exibir sabedoria e argumentos sobre qual seria mesmo o mandamento mais profundo da Lei do Senhor. Qual dentre todos traduziria o núcleo, o espírito da sua observância. Muita discussão estéril e nenhum acordo! Com a intenção de enredar Jesus, confundi-lo e disputar espaço com ele perante o público levaram-lhe a questão. Jesus relembrou o que eles já conheciam, mas acrescentou duas novidades inesperadas. A primeira foi unir dois mandamentos antes separados na Lei. Fez do amor a Deus e do amor ao próximo um único e mesmo mandamento. Uniu um ao outro de tal modo que um não pode existir sem o outro. A segunda novidade introduzida por Jesus em sua resposta aos líderes foi esclarecer que não só a Lei, mas tudo o que os profetas tinham ensinado dependia dos dois mandamentos. Os “dois amores inseparáveis” resumiam toda a prática religiosa.

 

O amor a Deus é incondicional, é absoluto. 

Jesus unificou o amor a Deus e o amor ao próximo por uma semelhança íntima que os faz inseparáveis. O amor a Deus é a raiz de todo verdadeiro amor: nós só temos a capacidade de amar a partir de Deus. Na verdade nem dá para amar a Deus “muito” ou “pouco”. Ou dedicar a Deus um amor menor que os outros amores. O amor a Deus é incondicional, é absoluto. Todos os outros ‘amores’ são condicionados, isto é, são vividos limitados a uma ou várias condições. Mas, a Deus nós só amamos de fato quando fizermos a entrega total de nós mesmos, de todo o nosso ser a Ele. Amá-lo de todo coração, refere-se à área da afetividade. Amá-lo com toda a alma: refere-se à área racional do ser. Amá-lo com entendimento: refere-se à área da intimidade espiritual. No mesmo instante em que Deus, não for prioridade absoluta em todas as circunstâncias do meu viver, aí também o amor ao próximo começa a ser falso, incoerente e interesseiro. E de fato não estaríamos amando a Deus.

Fé e vida: inseparáveis!

A teoria é incontestável: fé e vida não se separam! Vivê-la na prática é complicado! Nós forjamos nossa personalidade e maturidade trabalhando ao mesmo tempo em nosso íntimo e em todas as relações humanas os dois amores: o amor a Deus e o amor ao próximo. Passando de Deus aos irmãos e passando dos irmãos a Deus. Nem sempre acertamos a passagem. Nem sempre haverá o equilíbrio. Ora achamos que para nos refugiar em Deus precisamos descuidar dos deveres para com o próximo e com o social. Aí rezamos tranquilamente na Igreja sem preocupação com a caridade, com a penúria dos pobres, o desrespeito à vida e os problemas éticos. Ora acontece o contrário: achamos que por causa da busca da justiça e do bom relacionamento com os outros é preciso deixar de lado a religião, o culto, a entrega de si a Deus, a submissão à ética cristã! Quando Deus não é o absoluto para o coração humano qualquer amor a Ele ou ao próximo será manchado por algum tipo de egoísmo.

Se os dois mandamentos são semelhantes e um supõe o outro, não dá para selecionar ou escolher as práticas religiosas e a caridade conforme meu gosto. Por exemplo: a missa eu vou, mas confessar eu não me confesso (afinal, o padre é igual a mim…). Todo ato é bom, toda ação é justa, todo comportamento é digno se forem “encaixados” no amor incondicional a Deus. Se forem inspirados por Ele no próximo. Não se lhe pode fazer nenhuma reserva em nenhuma situação. A mínima reserva invalida a entrega e a união com Deus. Dito isso, compreende-se que o “amar” é da vontade. As mágoas vêm do sentimento. Quem realmente ama vai procurar não guardar mágoas das ofensas recebidas. Nem sempre vai conseguir, pois os sentimentos e as emoções humanas não estão sob o domínio completo da vontade de amar. É bom lembrar que quando amamos alguém por amor a Deus estamos amando a imagem d’Ele, nos outros: nossos irmãos e irmãs, ou os filhos e filhas do mesmo Pai! O Pai nosso! A Eucaristia é a mesa dos dois amores inseparáveis. É a expressão mais sublime de que nos amamos no amor de Cristo. –

Concluindo: sob o olhar de Maria.

No dia 19-10-2014 o Papa Francisco beatificou em Roma o Papa Paulo VI. Lembrou então a profunda devoção mariana de Paulo VI, o autor da exortação apostólica “Marialis Cultus’ sobre a reta ordenação e o desenvolvimento do culto de veneração a Nossa Senhora. “A devoção mariana é elemento qualificador da genuína piedade da Igreja. Tem origem e eficácia em Cristo, nele acha plena expressão e por meio de Cristo conduz no Espírito ao Pai.” . É do beato Paulo VI a afirmação: “Não se pode ser cristão sem ser mariano”.

Maria viveu unindo os dois amores. Amava Deus em Jesus seu Filho antes de conhecê-lo. A entrega absoluta a Ele pela fé a fez reconhecer e proclamar as maravilhas e bênçãos de Deus na história do seu povo e dela própria. Deixou-se mover pela prática vivíssima da caridade (Visitação; bodas de Caná; Calvário). Assumiu na simplicidade do amor materno a educação do Filho ajudando-o e ensinando-o enquanto ele crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Que ela lá do céu faça isso conosco também. E nos ajude a viver de fato no amor! Amém!

 

 

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