Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Homilias Atualizada em 26 MAR 2019 - 13H29

Homilia 29º Domingo Comum Ano A – Pe. Antonio Clayton Sant’Anna,CSsR

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A Igreja católica não existe para servir a nenhum Estado.

A Igreja não tem objetivos de política partidária: luta pelo poder. Não age por meio de bancada parlamentar, etc. Os católicos são eleitores de livre opção: partidos e pessoas. Mas, identificada com os valores do Evangelho e a Igreja sempre esteve presente no meio dos homens e na trama das relações sociais, opinando sobre os problemas e se definindo sobre políticas vigentes. O Novo Testamento apresenta situações políticas determinadas que originaram referências explícitas para a vivência concreta da fé cristã. Jesus nunca identificou o ideal religioso do reinado de Deus com as afirmações político-nacionalistas dos líderes judaicos no seu tempo. Ao contrário, ele rejeitou e preveniu os apóstolos contra a tentação do “messianismo político”, a avidez pelo poder. Entretanto quem ousaria ver em suas mensagens e ações um comportamento indiferente aos problemas humanos, alheio às injustiças, abusos de poder? Seu discurso religioso e moral longe de separar ou afastar os discípulos das relações sociais comuns, os forçava a se abrirem a todas as preocupações e problemas. Um exemplo nos vem da famosa questão do tributo cobrado pelo imperador romano. Jesus reconheceu o devido pagamento, mas não dissociado do serviço a Deus. Dar a Deus o que lhe era devido. Com isso não legitimou em tudo a autoridade do governo imperial nem atribuiu supremacia absoluta às leis de Estado. Colocando a obediência a Deus acima da obediência ao Estado, Jesus não atribuiu a nenhuma instituição humana poderes absolutos.

A prática religiosa e pastoral cristãs não acontece sem alguma repercussão política na organização e convivência humana. Sem uma influência moral, ou uma incidência ética, isto é, sem um juízo de valor sobre as leis, os costumes, as ideias e opiniões. Não nos é possível viver a religião de Cristo conforme as propostas do evangelho, à margem da construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Não é de se admirar que as primeiras comunidades cristãs tenham se confrontado com o problema da obediência/desobediência às leis do império romano pagão. Também os judeus convertidos ao cristianismo e orientados por São Mateus, permaneciam ligados à sua gente, às tradições judaicas, ao desejo vivo da liberdade nacional. A dominação romana impunha pesados impostos aos subjugados. A elite judaica acomodava como podia os privilégios e ganhos de suas funções às leis romanas. Veja-se nessa ótica o texto: Mateus, 22,15-21.

 

“Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” 

Os intérpretes concordam que a frase de Jesus: “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” é um ensinamento importante. Está em Mateus, Marcos e Lucas, proferida num contexto de conflito sério entre Jesus e as autoridades judaicas do Templo. O que deve ser entendido? Separação total entre Igreja e Estado? A questão do tributo ao imperador de Roma é uma armadilha das classes dominantes, arquitetada para rejeitar Jesus como Messias. O pivô da cilada está no imposto de guerra extorquido pelos soldados romanos sediados no País ocupado. Um judeu consciente de pertencer ao povo eleito deveria pagar ou não o imposto ao pagão? Além de humilhar o orgulho pátrio havia um problema de ordem religiosa, pois afinal o único soberano era Javé, Deus de Israel. Somente a ele se deveria prestar obediência. Logo, pagar imposto era visto como ofensa e traição ao próprio Deus. Complicava a questão o movimento rebelde dos zelotes, grupo paramilitar de conspiradores desafiando aqui e ali a implacável vigilância romana. Os zelotes não contavam com o apoio das elites submissas, mas, faziam escaramuças e atentados que estimulavam o nacionalismo popular.

Fariseus e herodianos, dois grupos da elite esqueceram suas divergências e se uniram acreditando prejudicar Jesus de qualquer modo. Se ele aprovasse a cobrança do tributo ficaria mal visto pelo povo. Se dissesse que não devia ser pago, corria o risco de ser denunciado como conspirador e seria preso. De todo o jeito Jesus se sairia mal. Os herodianos, lacaios do rei Herodes e colaboracionistas dos romanos, pensavam tirar vantagem política da situação. Os fariseus negociavam com o dinheiro romano usufruindo sem escrúpulos vantagens financeiras e omitindo-se face às revoltas do povo. Ambos os grupos tinham “telhado de vidro”… E sua esperteza malévola caiu diante da sabedoria do justo. Jesus não tinha nem usava a moeda romana. Eles a tinham e usavam. Circulavam a moeda nas trocas, compras e negócios. Desse modo reconheciam a autoridade romana e pagã de Tibério Cesar. Qual era o problema do tributo? Que devolvessem a Cesar o que era dele, sem ofender a Deus e negar-lhe a devida a submissão. Jesus não ficou neutro nem “em cima do muro”, nem se deixou envolver com os entrechoques de herodianos e fariseus.

Aplicação mariana

E uma pena citar a frase com interpretações errôneas. Conforme interesses dos modernos lacaios do poder ou dos que dele usufruem a qualquer custo. Por isso, precisamos vislumbrar aqui a figura silenciosa de Maria. Ninguém mais do que ela percebia e sentia com pesar a rejeição política a seu Filho. Mas, sabia ir guardando tudo no coração, procurando conhecer os caminhos do Verbo salvador. Em todo o Evangelho, “se o Filho é a Palavra, a Mãe é o Silêncio”. (Vittorio Messori, Hipóteses sobre Maria). Ela também não ficou neutra. Ainda grávida assumiu a causa dos oprimidos e proclamou a confiança total no Deus “que derruba do trono os poderosos e exalta os humildes” (Lucas, 1, 52).

 

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