Se refletirmos com a lógica filosófica, simplesmente chegaremos à conclusão: o tempo não existe. Não é um ser. É um conceito relativo ao ser existente. Sempre está associado às mudanças e transformações dos seres. "O tempo é a medida do movimento",como afirmava o grande filósofo Aristóteles. E o movimento é a característica da imperfeição. Não no sentido negativo, mas na dimensão da incompleição. É a medida do que ainda não perfez a sua potencialidade e para transformá-la em ato, precisa mudar, mover-se. Assim, o movimento é a mudança da potência para o ato.
Se não mudarmos nós, não há um "tempo místico" que trará tudo magicamente. Se não formos bons para fazer o ano, ele continuará velho e mau. Se não formos novos para construir o futuro, renovação será apenas uma palavra sem sentido, repetida como um clichê. E 2018? Apenas um algarismo inócuo se não tiver a rocha dos valores e das virtudes, com o crescer na Verdade de 2017!
Outro grande filósofo, Agostinho , dizia que o tempo era interior, existindo apenas na mente, fixando os três presentes: o presente do passado que é a memória; o presente do presente - a intuição e o presente do futuro - a espera.
Podemos , então, dizer que o tempo é um ser de razão, não é real. O que existe é a mudança, nos fatos,estruturas e pessoas que são registrados numa linha convencional , armazenados na memória, definindo uma identidade.Isto se chama passado.Mas não é , "já foi" .Existe apenas no sujeito como experiência ou conhecimento. O presente também não é , porque é fluídico, "está sendo" e deve ser vivido na sua dinamicidade a partir da consciência e escolhas. O futuro " ainda não é ", é uma prospecção a partir do que se constrói no agora. Logo o que há é o nosso eu consciente e livre, desenvolvendo-se e definindo-se na história, mutando-se , em geral positivamente numa evolução. Mas , também, muitas vezes, involuindo, num movimento de perdas , oposições ao ser , destruições e decrepitude.
O fluxo contínuo e irrefreável da existência humana no horizonte histórico apresenta uma dialética de crescimento-limitação, namorando com a sabedoria. Se alguém souber desenvolver o seu potencial espiritual, de conhecimento , amor e arte, aliado a uma dosagem-despojamento corporal, conseguirá uma síntese adequada a cada fase da vida, sem os excessos ,nem as carências. Tudo num "tempo" certo, ou seja , com as escolhas certas , amadurecidas, num discernimento de serena progressividade.
Feliz,então, o Novo que a cada ano bonifica o presente com um passado de futuro-luz, sem propósito vazio, mas com alicerce sólido de aperfeiçoamento pessoal. Feliz o ano "velho" que é base segura,plantada com dedicação e Graça. E é preciso agradecer pelas lutas e conquistas que, semeadas entre risos e lágrimas, são frutos que qualificam, são provas que purificam, bençãos que iluminam, flores que perfumam o ciclo que virá!
Projeções, promessas, votos e desejos são manifestações ocas e sem nexo, sem a âncora dos princípios, sem o trabalho e o espírito fraterno, sem o foco e a perseguição do Bem Maior. O místico repousa no humano, plenamente humano, suado, plantado, lutado, na partilha dos dons e talentos, na construção comum para o crescimento de todos.
Boas festas serão sempre aquelas em que o homem seja o principal valor, inegociável, celebrado. A dignidade humana resgatada em fogos, espocando a igualdade e a liberdade, num espetáculo de amor e solidariedade - a comunhão dos corações irmanados - onde a comida e a bebida e outros elementos materiais sejam apenas o cenário e nunca os protagonistas do encontro, o centro das buscas, o pálido norte vital.
Que esta passagem entusiasta seja feita sobre a firme entrega e mergulho no horizonte divino, em que a doação e a gratuidade derrotem a ambição e a usura, em que a razão vença a loucura, em que a humildade desconcerte a soberba, na qual todo egoísmo se dissolva ante a partilha do Amor!
Então toda Vida será nova! Todo número será feliz , sem nenhuma discriminação ou gematria. Toda expectativa estará grávida de um filho bem gerado na intimidade do que se semeou.
Feliz Você Novo - 2018! Com muita saúde, paz e frutos!
Pe Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça
Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar e da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo
Membro da Academia Friburguense de Letras e da Academia Marial de Aparecida
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