O ícone em Manaus

No sesquicentenário (150 anos) do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro neste 2015, lembro que na Manaus – Infante o que muito nos intrigava era a sandália do Menino Jesus que a Virgem carregava no colo. Uma delas estava “presa apenas por um fio” soltando-se do pé. Para tudo no quadro pintado estilo bizantino tem um significado. Mas esse, o da sandália caindo do pé do Menino, isto deixava-nos interrogativos e inscientes de seu significado. Ora, Manaus à época que os missionários redentoristas aqui aportaram em 1946 (logo após o final da 2ª Guerra Mundial) era uma cidade esquecida no mapa brasileiro. Desde 1912 quando houve a queda da economia da borracha e a derrocada para quem vivia na riqueza ou do trabalho nos seringais, nos aqui nascidos, ficamos perseverantes como lâmpadas que ardem ininterruptamente em santuários. A maioria desertou. Foram para outras plagas. Mas nós os que chamo de 144 mil eleitos. Nós lavamos nossas vestes no sangue das provações e privações tal e qual os justos do Apocalipse, no entanto, mesmo o poder central ignorando-nos, Nós continuamos unos. Unos e indivisíveis. Por que era o espírito do coletivo que nos animava! E dava forças. E nutria de esperanças nosso chão. Mas creiam, nossas sandálias estavam presas por um fio!

Foi então que os missionários redentoristas chegaram. A maioria norte-americanos. A primeira igrejinha doada por Maximino Correa (Cervejaria Miranda Correia) ainda lembro vagamente às novenas à N. S. do Perpétuo Socorro ali celebradas. O bairro ficou conhecido por bairro de N. S. Aparecida até os dias de hoje devido a construção da igreja cinquentenária em 2014 e logo transformada em Santuário porque objeto de peregrinação às terças-feiras nas 15 novenas encetadas durante todo o dia e para onde milhares de devotos veem de bairros e interiores distantes é até de outros estados em romaria. A vinda dos missionários foi como o sopro do Gênesis na Manaus em estática econômica. A nomenclatura do bairro mudou. Era de inicio Bairro das Cornetas (devido a proximidade com o quartel da Marinha). Anos depois bairro das Cajazeiras. Tinha suas ruas repletas de árvores grande e frutíferas. E jocosamente passou-se a chamar dos Tócos. Já que um prefeito resolveu cortá-las, ficando as penas os tocos. Fundaram o Colégio N. S. Aparecida destinado do ensino fundamental ao médio com professores de alto gabarito. Incentivavam os jovens ao esporte. Catequese executada pelas irmãs do Preciossimo Sangue. Os mais famosos arraiais em tempos de pés no chão eram os da Aparecida. Havia o incentivo ao teatro. Lembro que certa vez fomos assistir a dramatização feita pelos alunos da aparição de N. S. da Conceição Aparecida no pequeno teatro do colégio. O sucesso foi tamanho que depois foi encenado no próprio Teatro Amazonas. Uma distinção aos missionários recém-chegados.

Estive na Igreja de Aparecida e lá estava o fac-símile do Ícone de N. S. do Perpétuo Socorro. Veio diretamente da Igreja de Santo Afonso de Ligorio em Roma. Ele fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, e o chamado “Poeta de Maria”. Dia 27 é o dia de N. S. do Perpétuo Socorro, a quem o Papa Pio IX confiou à congregação pedindo. “Façam com que a conheçam em todo o mundo”. Os missionários elevaram a moral de um povo desencorajado. Banharam-nos nas águas lustrais do Ícone da Virgem. Mas ainda assim, eu particularmente digo: “Mãe, se não for pedir muito. Calça de vez minha sandália! O menino em teu colo também reclama”...

Carmen Novoa Silva membro da Academia Amazonense de Letras

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