Nossa Senhora da Madrugada (ou Nossa Senhora dos Portões da Madrugada), é uma devoção mariana originária de Vilnius, na Lituânia, no século XVII. Está diretamente relacionada a uma pintura de autor desconhecido e provavelmente terminada em torno de 1630, considerada milagrosa.

Na época, era uso colocar esculturas ou pinturas de santos em nichos nas paredes, na confiança de que defenderiam os prédios e abençoariam os passantes.

O governador de Vilnius encomendou este quadro da Virgem Maria (junto com outro, de Cristo Salvador do Mundo) para decorar um portão dos muros da cidade, que era uma construção de defesa. Em meados deste século, os Carmelitas Descalços construíram seu mosteiro e a igreja de Santa Teresa próximos ao portão.

A partir de 1655, ficaram responsáveis pela manutenção das pinturas e do portão, pois, neste ano, aparentemente o governo da cidade, em consequência da Batalha de Vilnius durante a guerra russo-polonesa, não mais teve condições de fazê-lo, após Vilnius ser capturada, saqueada e despopulada.

Por volta de 1671, a pintura começou a ser recoberta com caríssimas peças de roupa em prata e ouro, deixando visíveis apenas o rosto e as mãos, provavelmente seguindo uma tradição da Igreja Ortodoxa Oriental.

Em 1761, foi publicado um livro do monge Hilarion enumerando 17 milagres atribuídos à pintura da Virgem; o principal deles está relacionado ao nome “Portões da Madrugada”: em 1702, Vilnius foi capturada pelos suecos protestantes na Grande Guerra do Norte.

Os soldados invasores debochavam da imagem e um deles chegou a atirar na pintura (a perfuração da bala é visível na manga direita da imagem). Na madrugada do sábado da Semana Santa, os pesadíssimos portões da cidade desabaram, matando quatro soldados suecos, e no dia seguinte, Domingo de Páscoa, o exército lituano contra-atacou com sucesso próximo ao portão, alcançando a vitória.

Desde então, oferendas votivas em prata se tornaram uma tradição. Atualmente, há cerca de 8 mil objetos votivos de prata na capela que abriga o quadro.

Santa Faustina Kowalska, apóstola da mensagem da Divina Misericórdia, escreveu em seu diário de 1935 uma experiência mística relacionada à pintura de Nossa Senhora da Madrugada: estando na capela da imagem no último dia da novena antes da sua festa, em 16 de novembro, viu a imagem assumindo uma “aparência viva” e falando para que Faustina “aceitasse tudo que Deus me pedisse como uma criancinha, sem questionamentos, pois de outro modo não estaria agradando a Ele”.

 Atualmente, esta imagem sacra é venerada tanto por católicos quanto por ortodoxos, em vários países.

José Duarte de Barros Filho