Revista de Aparecida

A construção da tenda do encontro

É em nossa humanidade que o mistério de Deus habita

Escrito por Família dos Devotos

01 SET 2023 - 00H05

Thiago Leon

Por Felipe Koller

Ao visitar o Santuário Nacional, a última cena do lado oriental da Fachada Norte nos coloca diante de algumas perguntas: o que significa levantar um edifício para congregar a assembleia e celebrar a liturgia? Qual a concepção cristã de espaço sagrado? É preciso responder a essas questões com os olhos postos nas cenas do bezerro de ouro e da construção da tenda, que são o oposto uma da outra. Formam um díptico que nos põe diante de dois caminhos: o da morte e o da vida (cf. Dt 30,19; Didaché I,1).

As Escrituras nos alertam continuamente para a tentação da idolatria, do autoengano a respeito da verdadeira imagem de Deus. No bezerro de ouro (cf. Êx 32), na torre de Babel (cf. Gn 11), na decisão de Davi de construir um templo para o Senhor (cf. 2Sm, 7) e em outras passagens, constatamos que queremos nós mesmos fabricar o nosso caminho para Deus, edificar uma casa para Ele. Gostamos de controlar o acesso ao seu mistério, de domesticá-lo e de com as nossas obras afirmarmo-nos dignos dele. Esse, porém, é o caminho da morte. O Senhor, porém, continuamente aponta em outra direção. Ele se revela como um Deus vivo e por isso orienta que seja construída uma tenda — não um prédio fixo, mas uma barraca a ser montada e desmontada à medida que o povo caminha. É o Senhor que deseja descer no meio de nós e caminhar conosco. Ele quer habitar em nossa humanidade. Isso alcança profundidades inesperadas em Cristo Jesus: nele, a Palavra de Deus habitou em nossa carne, se manifestou gratuitamente na matéria deste mundo (cf. Jo 1). Esse é o caminho da vida.

Assim, a comunidade cristã compreendeu que o corpo de Cristo é o verdadeiro templo (cf. Jo 2,21): é nele que acontece o encontro entre a vida de Deus e a vida da humanidade. E nós, membros do seu corpo, comunidade dos batizados no amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, somos então “pedras vivas” de uma “edificação espiritual” (1Pd 2,5), “templo do Deus vivo” (2Cor 6,16), “morada de Deus” (Ef 2,22).

O prédio que construímos para celebrar a liturgia é a casa da Igreja: não serve para restringir a presença de Deus, pois a comunidade cristã entendeu também que toda a terra é santa (CIC 1179). O edifício eclesial, como o Santuário Nacional, é nossa casa: nela, tudo fala de nós e, falando de nós, fala do mistério de Cristo que habita em nós e que envolve toda a criação. Tudo — do granito do altar e da cera das velas à terracota da imagenzinha da Mãe Aparecida, do trigo que compõe o pão para a Eucaristia às pedras dos mosaicos das fachadas — narra a história do amor de Deus por nós.

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