Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Revista de Aparecida

A misericórdia em face ao pecado!

Vatican News
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"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas" (Jo 10,11)


O Papa Pio XII governou a Igreja de 1939 a 1958. Uma frase marcou seu pontificado: “o pecado do século 20 é ter perdido o senso do pecado”. A segunda guerra mundial havia traumatizado a consciência coletiva após semear o ódio, as mortes, a destruição e todos os pecados. Perdera-se o senso do pecado na medida em que faltou a prática, a estima da misericórdia. Quanto menos esta, mais aquele! Hoje há o consumismo exagerado, há a badalação exibicionista das aparências, a irresponsabilidade na diversão, na bebida, drogas etc. Procura-se saúde, conforto, consolo, cura, bom viver. É a fuga nas ilusões de todo tipo. A desejada amizade social faz-se difícil e rara. A reconciliação é quase impossível. Desculpam-se erros, falhas, pecados: são incuráveis ou taras. Conflitos, frustrações, decepções, remorsos de culpa, revoltas, violências e inseguranças esperam o remédio da autoajuda. O que importa é manter o gosto individual como critério absoluto de escolhas.

Sendo assim, como acreditar no ensino de Jesus: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados... porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos” (Lc 6,36-38). Ora, prometer curas e milagres não produz a fé num Deus que espera nossa reconciliação com Ele e com os outros. O culto à prosperidade não nos livra do senso do pecado e nem realiza a misericórdia com os outros. Quanto menor for a presença de Deus no modo de viver, tanto mais se enraíza a mediocridade, a apatia espiritual, o enfado com a oração, a indiferença com os pecados. E aí a lógica do convívio social será: não perdoar e nem ser perdoados! Misericórdia e perdão se entrelaçam. Não há perdão sem misericórdia. Não há misericórdia sem o perdão. Compreender essa mútua dependência e entrelaçamento na lógica do Evangelho não é fácil! A misericórdia não apaga os pecados. O que apaga o pecado é só o perdão de Deus. Mas, a misericórdia é a maneira com a qual Deus quer nos perdoar. Aí está a súplica do Pai-Nosso: perdoai-nos as nossas ofensas como nós perdoamos ao que nos ofendem. Quando o pecado é perdoado, a vida divina é restaurada em nós. Um mundo onde não se perdoa, faz infelizes. Sofre com todo tipo de violência, arrogância, vingança, terrorismo, orgulho do poder etc. Está à beira do abismo das armas armazenadas, que podem destruir-nos num clic. Os desvarios vingativos, os ímpetos do coração raivoso, o arsenal de armas destrutivas modernizadas: tudo isso se esboroa com a palavra do cordeiro crucificado: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

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