Recordando a paixão, morte e ressurreição de Jesus, a Semana Santa é tradicionalmente vivida com celebrações que mesclam a liturgia e a piedade popular em diversas cidades do Brasil. Em Aparecida não é diferente. O calendário de procissões, missas e rituais paralitúrgicos existe há muitos anos e, como acontece até hoje, atrai romeiros e aparecidenses ao Santuário Nacional.
O Livro do Tombo da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Benedito, edição de 1933 a 1960, demonstra bem como as cerimônias do período contavam com grande participação popular.
Em 1934, narra o Livro (p. 07) que “a Semana Santa foi celebrada como nos anos passados e com muita concorrência (participação)”.
De acordo com o costume da época, no período da Páscoa aconteceu a primeira comunhão das crianças da recém-criada cidade de Aparecida, “sendo 76 meninas e 57 meninos” naquele ano.
Neste período, todas as celebrações aconteciam na atual Basílica Histórica, então matriz do município. Por este motivo, a movimentação nas celebrações era composta tanto por aparecidenses como de peregrinos.
Em 1938, por exemplo, o cronista do Livro do Tombo narra que “brilhantes foram os atos da Semana Santa. Resultado do número de romeiros vindos de São Paulo e Minas, bem como de variadas cidades do estado e de fora” (p. 32v).
O grande número de fiéis foi registrado também nas celebrações da Semana Santa de 1955. Naquele ano, mereceu destaque a noite da Sexta-feira Santa, quando “o beijamento das Imagens e as confissões prolongaram-se até 23h30. Numerosa foi por isso a comunhão pascal no Sábado de Aleluia”, conta o Livro (p. 240). Ao todo, de acordo com os registros da época, somente na Páscoa, 9.247 pessoas comungaram.
Em 19 de julho de 1955, no Vaticano, o Papa Pio XII oficializou uma série de reformas na liturgia da Semana Santa. A determinação foi acolhida no Santuário de Aparecida e, em 1956, os novos rituais, promulgados pelo então pontífice, foram utilizados pela primeira vez de 25 a 31 de março daquele ano.
Além da atualização litúrgica, o Livro do Tombo salienta que “a frequência do povo foi extraordinária nas cerimônias e principalmente nas comunhões de quinta-feira, sexta-feira e Vigília Pascal” (p. 248v), o que fez com que a Missa da Ceia do Senhor fosse rezada na Praça da Basílica Histórica e não em seu interior.
O grande número de fiéis só pôde ser melhor acomodado na Semana Santa de 1960, quando, pela primeira vez, as celebrações foram realizadas na Basílica Nova. No dia 10 de abril, um Domingo de Ramos, Dom Antônio Ferreira de Macedo — nesta altura representante do administrador da recém-criada Arquidiocese de Aparecida, o Cardeal Motta — realizou a bênção e missa dos Ramos na Nave Norte, a única construída nesta época.
O mesmo prelado celebrou, na Quinta-feira Santa, 14 de abril, a Missa do Crisma na Nova Basílica. O Livro do Tombo (p. 292) narra que “foi bem concorrida esta missa porque apresentava o caráter de novidade, pois pela primeira vez foi celebrada na Catedral (a Basílica Nova)”.
Outros espaços da cidade não deixaram de acolher as expressões da piedade popular. Na “Sexta-feira Santa, às 8h, a Via Sacra foi feita no Morro do Cruzeiro” (p. 292). No mesmo dia, à noite, foi realizada a Procissão do Enterro. “Foi uma procissão como nunca se viu em Aparecida. Quando o andor estava vindo da Praça, as crianças já estavam chegando”.
Já no Domingo de Páscoa, às 3h30, os sinos da hoje chamada Basílica Histórica soaram, convidando os fiéis para a Procissão da Ressurreição. “Como é tradição em Aparecida, essa procissão é feita com o Santíssimo Sacramento. Apesar do frio que reinava, foi uma procissão bastante concorrida. No final, bênção do Santíssimo Sacramento e missa celebrada na frente da igreja” (p. 292v), encerrando os festejos da Semana Santa de 1960.
A partir daquele ano, as principais celebrações da Semana Santa passaram a acontecer na Basílica Nova. Apesar da mudança da programação ao longo do tempo, o que não mudou foi a piedade de romeiros e aparecidenses que, até hoje, durante a Semana Maior, fazem questão de participar das principais cerimônias do calendário católico em Aparecida. Aqui, como irmãos, anunciam a morte do Senhor e proclamam a sua ressurreição, certeza fundante que dá razão à nossa fé (cf. 1Cor 15, 17).
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