Do outro lado, estamos acostumados a ter que pagar quase tudo. Mas a verdade é bem mais profunda. Basta olhar um pouco os cuidados que recebemos desde a gestação, na infância e adolescência, e também na vida adulta até o final da vida.
É certo que ao começar a trabalhar, criar, empreender, prestar serviços qualificados, passamos a receber por isso. Mas continuamos a receber muito mais do que contribuímos, pois o lado maior do que somos não se compra com dinheiro. As capacidades que temos, oportunidades que foram surgindo, a nossa formação de personalidade e muito mais, dependem de uma rede de relações nas quais interagimos. Trabalhar é estar inserido em uma rede de relações.
Até as falhas e erros nos ensinam, pois abrem chance de a gente experimentar uma ajuda amiga, ou tomar a iniciativa de ajudar, que é ainda mais gratificante. É justamente diante das falhas e limites que o amor se torna mais puro e brilhante. O respeito, o carinho, a amizade verdadeira também não se compram.
‘Mercado’ seria para lembrar isso, pois vem de “mercê” que significa dádiva, favor; o mercado é o espaço de troca dessas dádivas. O dinheiro apareceu como um modo de representar o que oferecemos em serviços ou materiais. Mas acabou apagando a função de representar e muita gente, sem prestar serviço, ganha dinheiro só pela habilidade de manobrar. O apagão sobre o quanto recebemos uns dos outros na vida transformou tudo isso em trocas interesseiras, e até capciosas.
O profeta Amós, 800 anos antes de Cristo, já acusava quem explora o trabalho do pobre em troca de um par de sandálias (Am 8,6). Hoje essas infâmias estão escancaradas, a ponto de alguns políticos abusarem da frase de S. Francisco “é dando que se recebe”, para justificarem favores interesseiros.
Jesus ensina essa grande Verdade: “de graça recebemos, de graça devemos dar” (Mt 10,8). Então é hora de ver como andam as cotas de gratuidade em nossa vida. Começa por reconhecer e ser grato pelo que recebemos. E também pela iniciativa de dar, não só coisas, mas de dentro de nós o respeito, as inúmeras formas do apoio moral e espiritual. Cuidado em não fazer da bondade uma moeda de troca. E não o perturbem atitudes mal-agradecidas. O Amor de Deus em você é que conta.
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