O tempo da Quaresma é um “retiro” que a Igreja nos prepara para vivermos com mais autenticidade e consciência a fé cristã, isto é, a Ressurreição de Jesus, no âmbito pessoal e social. Neste sentido, com o coração aberto, nos penitenciamos através do jejum, da oração e da caridade. Um período intenso para, a exemplo da Paixão de Jesus Cristo, voltar o olhar para dentro de nós mesmos, reconhecer as faltas cometidas e nos converter, por graça e misericórdia do Ressuscitado, a uma vida mais humana, santa e orientada por Deus.
É ocasião para examinar as dores humanas e sociais, que são lugares onde Cristo sofre conosco e tem compaixão. Recordamos os inúmeros episódios bíblicos em que Jesus sente o sofrimento de pessoas (cf. Mc 1,41; Mc 6, 34; Lc 7,13) e até chora (cf. Jo 11, 33-36). São sinais de um Deus totalmente amoroso, empático e disponível, para curar feridas e restabelecer a vida. Assim, onde há um ser humano que sofre, há Cristo que sofre.
Toda pessoa sente emoções e possui sentimentos, consequentemente passa por momentos de sofrimento. A dor faz parte da existência e, em alguns casos, inevitável. Não significa que devemos normatiza-la e viver refém às situações dolorosas, aceitando as ocasiões em que sentimos dor passivamente, pois isso não é normal. A vinda de Jesus nos revela que ninguém nasceu para sofrer e viver em estado contínuo de dor (cf. Jo 15, 11).
Deste modo, o cristão pode encarar o sofrimento à luz da fé, buscando encontrar significado e propósito nas dificuldades. Aprofundar a conexão com Deus através da oração frequente, leitura orante da Sagrada Escritura e participação na comunidade pode fortalecer a fé diante do sofrimento, momento na qual ela é mais provada, proporcionando consolo e esperança. A confiança na providência divina e a compreensão de que o sofrimento pode ser, por vezes, parte do plano maior de Deus são maneiras de viver essa provação com fé.
Entretanto, se, pela graça de Deus, temos condições para favorecer o amor e a felicidade do outro, por que ainda optamos por lhe causar dor e sofrimento? Porque ainda há dores, sofrimentos e fragmentações dentro de nós, que precisamos tomar consciência à luz da fé e permitir que sejam perpassados pela Paixão de Jesus, para uma paz interior. Então, aproveitemos o tempo que resta desta quaresma, confessemos nossos pecados, convertamos, e creiamos no Evangelho.
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