Jornada Bíblica: Em Jesus, todos nós somos consagrados de Deus (Lc 2,22-35)

Na tradição bíblica existe uma relação inquebrantável entre o primogênito – o primeiro filho do ventre de uma mulher ou a primeira cria de um animal – e os demais filhos e crias, como igualmente entre as primícias (os primeiros) e os demais frutos de uma colheita agrícola.

O primeiro filho ou a primeira cria ou os primeiros frutos comunicam sua realidade mais profunda aos demais filhos ou crias ou frutos, tornando-os comparáveis a si mesmos.

Maria e José, obedientes “à lei de Moisés, levaram-no (o Menino Jesus) a Jerusalém, para apresentá-lo ao Senhor, “ conforme o que está escrito na lei do Senhor: ‘Todo primogênito do sexo masculino seja consagrado ao Senhor’” (Lc 2,22s.).

Jesus, o primeiro e único Filho físico de Maria. Esse Seu Filho, por ser Seu “Primogênito”, estende Sua filiação a todos os demais filhos e filhas d’Ela. Assim, faz d’Ela a Mãe da inteira humanidade. Era o coração do Pai sempre querendo ver maior: o que Ele sonhava para Seu “Primogênito”, e d’Ele esperava, é o que, a partir d’Ele, aguarda de todos Seus demais filhos e filhas humanos.

Então, n’Aquele “Primogênito", eterno Deus gerado humano sob ação direta do Espírito Santo, Maria e José levam a si mesmos (também eles filha e filho a partir do “Primogênito”), e levam a mim, a você, a inteira humanidade, e nos apresentam a Deus, consagrando-nos a Ele.

Que maravilha! N’Aquele “Primogênito”, todos nós já igualmente oferecidos a Deus, a Ele consagrados! Passamos a ser, como o era plenamente o “Primogênito”, pertença de Deus, propriedade Sua a Seu inteiro dispor.

“Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho” (1Sm 7,14a). Verdadeiro Pai para nós Ele jamais deixou de ser. Mas, filhos Seus, em nível ao menos aproximado ao de Seu Filho Amado, de quem Ele Se agradava (cf. Mc 1,11b), Ele jamais nos teve, mas sempre desejou!

E por força dessa pertença-consagração a Si, o Pai anseia contar principalmente com nossa disponibilidade filial a Seus planos de oferecer à humanidade, já em sua peregrinação terrena, Sua própria vida divina.

E o “Primogênito” era a salvação de Deus, que Ele preparara “diante de todos os povos, “luz para iluminar as nações e glória de Israel”, Seu povo (cf. Lc 2,30-32). Então, a partir do “Primogênito”, e da união vital com Ele, o Pai pretende de todos Seus demais filhos e filhas, igualmente apresentados-consagrados a Ele, que nos façamos também encarnação dessa Sua luz-salvação “para iluminar as nações”. E que essa seja também nossa “glória”, a atividade em que nos sintamos mais realizados.

O “Primogênito” será causa “de queda e elevação de muitos em Israel; ele será um sinal de contradição” (v.34b). Com tal perfeição viveu e encarnou a proposta de salvação que o Pai n’Ele nos oferecia, que aceitar ou rejeitar o “Primogênito” da humanidade, é questão de “elevação” ou “queda”, de salvação ou perdição.

Tê-Lo então, de fato, como nosso “Primogênito”, viver essa vital união com Ele e a partir d’Ele, é também pagarmos as consequências de, como Ele, nos constituirmos em “sinal de contradição”.

Sim, “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou antes que a vós. “Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que seria dele; mas porque não sois do mundo, ao contrário, eu vos separei do mundo, por isso o mundo vos odeia. “Se a mim perseguiram, também vos perseguirão” (Jo 15,18-19.20b).

Mas, como vale a pena pagar esse preço!

• Com Jesus, Seu Filho Primogênito, Maria leva a mim, a você, e também nos consagra ao Pai: o que lhe significa essa consagração?


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