Revista de Aparecida

Entenda cerimônias fúnebres que marcam a despedida do Papa Francisco

Celebrações religiosas foram simplificadas e adaptadas pelo pontífice, que desejou expressar “a fé da Igreja na ressurreição de Cristo”

Escrito por Victor Hugo Barros

23 ABR 2025 - 12H23 (Atualizada em 29 ABR 2025 - 20H55)

Vatican Media

A morte do Papa Francisco, na manhã da segunda-feira (21), deu início a uma série de cerimônias fúnebres instituídas há séculos, mas reformadas pelo pontífice argentino em novembro de 2024. Os rituais de despedida do Santo Padre foram simplificados e acontecem em diversos espaços do Vaticano e de Roma.

“O papa pediu, como ele mesmo falou em diversas ocasiões, a simplificação e adaptação de alguns ritos para que a celebração das exéquias do bispo de Roma expressasse melhor a fé da Igreja na ressurreição de Cristo, explicou o mestre de Celebrações Litúrgicas Pontifícias, Dom Diego Ravelli.

Dois documentos guiam os próximos dias no Vaticano:

Ordo Exsequiarum Romani Pontificis: livro que guia as celebrações das exéquias do pontífice.

Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis: documento escrito por João Paulo II que regula as normas e procedimentos após a morte do Papa e o Conclave.

Conheça o que eles dispõem sobre os rituais:

Constatação da Morte

Velório privado

Translado para a Basílica de São Pedro

Velório público

Fechamento do caixão

Missa exequial

Sepultamento

Vatican Media
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Cerimônia de constatação da morte do Papa Francisco, na Capela da Casa Santa Marta


Constatação da Morte

A constatação da morte, antes feita no quarto do papa, agora foi realizada na Capela da Casa Santa Marta, localizada no prédio em que Francisco vivia no Vaticano. O corpo do pontífice defunto foi colocado no caixão neste local, sem ser conduzido para o Palácio Apostólico, como era o costume nos pontificados anteriores. O prédio do Palácio é visível da Praça de São Pedro e, de uma de suas janelas, os pontífices recitam a oração do Ângelus.

A cerimônia foi aberta pelo cardeal camerlengo, Kevin Joseph Farrell. É ele quem, com esse título, faz a administração da Sé Apostólica vacante, ou seja, enquanto um novo papa não tiver sido eleito.

Logo após, o corpo de Francisco foi examinado pelo diretor do Departamento de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano, Andrea Arcangeli, que constatou a morte e suas causas.

Foi Farrell quem, após a confirmação da morte por parte do médico, disse: “Pastor nostro, Romanus Pontifex, cum Christus mortuus est” — “Nosso Pastor, o Romano Pontífice Francisco morreu com Cristo”. Orações e salmos também integraram o momento, encerrado com o canto da Salve Rainha.

Coube também ao camerlengo a tarefa de destruir o Anel do Pescador, recebido por Francisco no dia de sua entronização e usado pelo pontífice poucas vezes. A destruição do Anel é uma antiga prática que garantia que documentos não fossem emitidos em nome do papa morto, já que os anéis eram utilizados para selar os textos e normativas emitidas pelos pontífices.

Velório privado

Habitualmente, o velório dos pontífices romanos, antes de ser aberto aos fiéis, é reservado à Família Pontifícia — como é chamado o grupo que mais de perto assessora o Papa — e aos colaboradores do Vaticano. Com Francisco não foi diferente. O primeiro dia das homenagens ao Sucessor de São Pedro foi realizado na Capela da Casa Santa Marta, mesmo local da constatação da morte.

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O translado para a Basílica de São Pedro

Com o fim do velório privado, aconteceu na manhã desta quarta-feira (23) o translado do corpo do Papa Francisco para a Basílica de São Pedro, onde acontece o velório do pontífice. Presidida pelo cardeal camerlengo, a cerimônia começou ainda na Capela da Casa Santa Marta, com cânticos que recordam a esperança na vida eterna.

Após o corpo do pontífice ser aspergido com a água benta, teve início a procissão até a Basílica Vaticana. Participaram cardeais, diáconos e sacerdotes, além de membros da Guarda Suíça. Todos, entoando a Ladainha dos Santos, pedindo a intercessão deles pela alma de Bergoglio.

O trajeto termina diante do Altar da Confissão da Basílica de São Pedro. Ali, junto aos ossos de São Pedro, o corpo de seu sucessor é apresentado aos fiéis dentro do caixão, uma inovação trazida por Francisco. Anteriormente, os corpos dos papas eram expostos nos catafalcos, espécies de mesas sobre as quais eram colocados os pontífices defuntos.

O velório público

Conforme divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o velório público foi aberto às 11h locais (6h segundo o horário de Brasília). Ruas próximas ao Vaticano foram fechadas, para organizar o fluxo dos peregrinos que devem prestar homenagens ao corpo do pontífice.

Para a visitação ao caixão do Santo Padre, a Basílica de São Pedro estará aberta em horários diferenciados (de acordo com o fuso horário de Roma):

Quarta-feira (23): das 11h à meia-noite

Quinta-feira (24): das 7h à meia-noite

Sexta-feira (25): das 7h às 19h.

Quem passar diante da câmara ardente do pontífice poderá notar outra mudança inserida por Francisco. A tradicional férula — bastão usado pelo papa nas celebrações — não será mais colocada junto ao corpo. Permanecem, entretanto, as paramentações de cor vermelha, como se o pontífice estivesse pronto para celebrar a missa.

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Corpo do Papa Francisco no interiro da Basílica de São Pedro

Fechamento do caixão

Após o fim do velório público, acontece a cerimônia de fechamento do caixão, presidida pelo camerlengo.

No ato, reservado a poucas pessoas, o rosto do pontífice será velado por um pano branco, simbolizando que agora o pontífice contempla a Deus, como recorda a oração feita no momento da colocação do véu. “Deus Todo-Poderoso, Senhor da vida e da morte.

Acreditamos que a vida do Santo Padre agora está escondida em Ti, que seu rosto está contemplando a Tua beleza, por Cristo Nosso Senhor.”

Dentro da urna funerária será colocada ainda um pergaminho com um resumo do seu pontificado escrito em latim, chamado de rogito. Moedas e medalhas comemorativas, cunhadas durante o pontificado de Francisco, também acompanham o texto.

O Escritório de Celebrações do Sumo Pontífice divulgou que, entre os participantes, está o decano do Colégio de Cardeais, Dom Giovanni Battista Re; o antigo Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin; e o brasileiro Dom Ilson de Jesus Montanari, vice camerlengo.

Missa exequial

A Missa de Exéquias do Papa Francisco será realizada no próximo sábado (26), às 10h locais (5h no horário de Brasília), na Praça São Pedro. A cerimônia, presidida pelo decano do Colégio de Cardeais, Dom Giovanni Battista Re, vai contar com a presença de mais de 200 chefes de estado, segundo informou o Vaticano.

Ao fim da celebração, acontece a Ultima Comemendatio e a Valedictio. As cerimônias marcam a encomendação do corpo do pontífice e as despedidas solenes, tradicionalmente realizadas pela Igreja.

Ainda não estão confirmados elementos vistos em exéquias anteriores. Entre eles, a Panikhida, o serviço litúrgico em memória dos falecidos realizado pelas igrejas que seguem o rito Bizantino. Trata-se de uma liturgia composta por salmos, ladainhas, hinos e orações, vistos pela última vez nas celebrações pontifícias durante o Funeral de São João Paulo II, em abril de 2005.

Sepultamento

Após a missa, o caixão com o corpo de Francisco segue para a Basílica de Santa Maria Maior, no Centro de Roma. A Sala de Imprensa da Santa Sé ainda não divulgou como será o percurso de quase quatro quilômetros entre as basílicas.

O local foi escolhido pelo próprio pontífice para seu sepultamento. Em seu testamento, Bergoglio explica que decidiu ser enterrado “neste antiquíssimo santuário Mariano, onde me dirigia para rezar no início e fim de cada Viagem Apostólica, para entregar confiadamente as minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe pelo dócil e materno cuidado.

O mesmo texto traz ainda instruções claras quanto a tumba, que atualmente está sendo “preparado no nicho do corredor lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza desta mesma Basílica Papal”: “O túmulo deve ser no chão; simples, sem decoração especial e com uma única inscrição: Franciscus”.

Ao contrário de seus antecessores, Francisco será enterrado em apenas um caixão de zinco revestido de madeira. Anteriormente, eram utilizadas três urnas funerárias, feitas de cipreste, chumbo e olmo.

A cerimônia será reservada e os fiéis poderão visitar a sepultura a partir do próximo domingo (27), conforme divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. A Basílica de Santa Maria Maior, entretanto, ficará fechada para visitação durante todo o sábado.

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