Por Victor Hugo Barros Em Revista de Aparecida Atualizada em 25 AGO 2023 - 16H41

Sacerdócio, a missão além do altar

No Santuário Nacional, rotina de padres também inclui acompanhamento e formação de voluntários, além de evangelização pelos meios de comunicação

Luiz Oliveira
Luiz Oliveira
No Santuário Nacional, padres e irmãos Redentoristas realizam diversos trabalhos que visam a evangelização


“O sacerdote é o amor do Coração de Jesus”, afirmava o padroeiro dos párocos, São João Maria Vianney. Celebrado no dia 04 de agosto, o Cura D’Ars, como é conhecido o santo, inspira até hoje a vida de diversos sacerdotes, que celebram sua vocação no mesmo mês. Embora a figura dos padres seja, em um primeiro momento, ligada às celebrações litúrgicas, as atividades desenvolvidas por eles não se limitam às missas.

No Convento do Santuário Nacional, 28 religiosos, entre padres e irmãos que pertencem à Congregação do Santíssimo Redentor, atuam diretamente no cuidado à Basílica de Aparecida. Além dos sacramentos, das santas missas e das confissões, os Missionários Redentoristas que residem na Basílica colaboram também com a evangelização pelos meios de comunicação, acompanham os ministérios, e formam os voluntários que ajudam o Santuário Nacional.

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
Pe. Diego Antônio da Silva, C.Ss.R.

“Faz parte da nossa missão como Redentoristas. Somos enviados para estar, sobretudo, nos lugares mais desafiadores e aqui temos uma rotina exigente diante da complexidade que este campo de missão nos impõe. Mas a gente procura fazer tudo com muito carinho, amor, zelo e respeito e do melhor modo possível”, define o prefeito de igreja do Santuário Nacional, padre Diego Antônio da Silva.

O sacerdote é um dos mais jovens presbíteros que atuam no templo. Ordenado sacerdote em 2021, ele atua, desde antes de sua ordenação, na Pastoral da Basílica. Mas já conhecia há muito tempo o Santuário, local onde sentiu o chamado para a vida religiosa.

Minha vocação nasceu dentro do Santuário Nacional de Aparecida. Desde muito pequeno meus pais tradicionalmente, todos os anos, traziam um grupo de romeiros até Aparecida e fui sentindo um desejo, uma admiração, uma atração pela vida religiosa sacerdotal”, relembra. “Pouco a pouco Deus foi conduzindo este desejo, este sonho, esta admiração e com o passar dos anos esta vocação foi sendo amadurecida, até que quando eu terminei o Ensino Médio tomei a decisão de fazer uma experiência no Seminário”.

A experiência deu tão certo que o religioso, após dez anos de estudo e missões dentro e fora do Brasil, foi ordenado diácono em um dos momentos mais marcantes de sua trajetória vocacional.

A Basílica estava toda vazia (por causa da pandemia) e foi um momento muito marcante na minha vida. Depois pude celebrar uma das minhas primeiras missas aqui em Aparecida. Nunca vou esquecer a emoção, o sentimento e a gratidão daquele momento”, evoca o religioso.

Thiago Leon
Thiago Leon
Ordenação diaconal do pe. Diego Antônio na Basílica de Aparecida


Depois daquela Eucaristia, muitas outras foram celebradas por ele na Basílica. Mas, além das cerimônias litúrgicas, o religioso também possui outras atividades no Santuário.

“É uma rotina bastante exigente. Além do atendimento sacramental ao povo de Deus no Santuário, hoje estou exercendo também o cargo como prefeito de igreja. Isso implica uma exigência administrativa sobre um setor muito importante dentro da dinâmica estrutural do Santuário, que é a Pastoral”, explica o padre.

Conhecida como “coração do Santuário”, a Pastoral é o setor responsável por dinamizar a vida religiosa do complexo basilical. “É ela que mantém o Santuário vivo, seja acolhendo as romarias, coordenando as equipes de acolhida do Santuário, o atendimento das confissões, os batizados, os casamentos, os ritos sacramentais e a assistência à Basílica Histórica”, detalha o sacerdote.

Além das responsabilidades específicas, o sacerdote também atua no acolhimento aos peregrinos. “É uma rotina bastante complexa, mas pessoalmente procuro me dedicar com todo zelo, amor e respeito aos devotos de Nossa Senhora mesmo que eu esteja cansado. Procuro fazer do melhor modo possível porque tenho toda certeza que os devotos merecem, querem e esperam de nós o melhor que temos a oferecer”, afirma.

O grande número de atividades não é atribuído apenas ao presbítero mais jovem. Dos seus quase 50 anos de sacerdócio do padre Antônio Agostinho Frasson, 48 deles são dedicados a Nossa Senhora Aparecida e seus devotos. Ele é o religioso que há mais tempo atua diretamente no Santuário Nacional.

Praticamente na véspera de completar dois anos de padre vim trabalhar na Paróquia de Aparecida. Naquele tempo, a cidade toda era uma Paróquia só”, rememora padre Frasson, que chegou em 1975 ao município e desde então exerce seu ministério na “Terra da Padroeira”.

Thiago Leon
Thiago Leon
Pe. Antônio Agostinho Frasson, C.Ss.R.


Para atender as cerca de 25 mil pessoas – população da cidade naquela época – a Paróquia contava com apenas três sacerdotes. Para que as 15 comunidades de Aparecida fossem atendidas, os padres tinham que se desdobrar. “Foi um período de grande contato com o povo de Aparecida. Pegava minha bicicleta e ia até diversos bairros para dar catequeses, celebrar missas e atender o povo”, recorda.

Dois anos depois, a bicicleta seria trocada por uma Kombi. Foi neste veículo que o religioso rodou o Brasil levando a Imagem Peregrina de Nossa Senhora Aparecida. “Foram muitas as cidades visitadas e uma programação intensa desde a chegada até a partida da Imagem. Nesta missão, estive em quase todas as regiões brasileiras, sempre pregando o Evangelho”, lembra.

No mesmo período, atuou na Rádio Aparecida, realizando e dirigindo programas da emissora. “Entre eles, me marcou muito a entrevista com os senhores romeiros. Era o momento em que o peregrino podia, pela rádio, mandar um abraço para a família ou contar sua história de fé. Eles gostavam muito e eu também, pois tinha muito contato com os devotos”, confessa o sacerdote.

Ao longo de seu trabalho no Santuário da Padroeira, recebeu três papas. Francisco, em 2013; Bento XVI, em 2007; e João Paulo II – hoje canonizado – em 1980. A visita do pontífice polonês foi a que mais marcou a trajetória do padre Frasson, que pôde ficar lado a lado com o Santo Padre na Basílica vazia.

Acervo pessoal
Acervo pessoal
"Na imensidão daquele Santuário estive praticamente sozinho com o Papa. Foi emocionante!", recorda padre Frasson. Na foto, o sacerdote está a esquerda do Papa, paramentado com túnica e estola


“O Papa entrou quase sozinho na Basílica para realizar o ritual de sagração do Altar e eu o estava esperando no presbitério. Narrei a cerimônia estando lado a lado com João Paulo II e depois saímos juntos pelo corredor da Nave Sul”, conta emocionado.

O trabalho do padre Frasson não parou por aí. Entre 1981 a 1990, atuou diretamente na Pastoral da Basílica. De 1990 a 1996 auxiliava na rotina do Santuário enquanto também atuava na Rádio Aparecida. Logo depois, retornou para o maior templo dedicado à Virgem Maria no mundo.

No principal templo católico do país, assumiu diversas funções, chegando a ser reitor em 2002. Atualmente segue morando na Comunidade Redentorista do Santuário, presidindo celebrações e administrando sacramentos. “É um trabalho de envolvimento com os romeiros que chegam, realizando o acolhimento”, define.

Para dar suporte a tantas atividades, a equipe de Missionários Redentoristas que atua no Santuário Nacional conta também, de forma rotativa, com o auxílio de cerca de outros 25 religiosos, entre padres e irmãos. Em períodos de grande movimentação, o número é ainda maior, já que religiosos ligados à Congregação ajudam no atendimento aos peregrinos e na celebração de cerimônias religiosas.

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