Por Victor Hugo Barros Em Revista de Aparecida Atualizada em 28 MAR 2024 - 15H59

Sacerdócio, a missão além do altar

Na Casa da Mãe Aparecida, rotina de padres também inclui acompanhamento e formação de voluntários, além de evangelização pelos meios de comunicação

Luiz Oliveira
Luiz Oliveira
No Santuário Nacional, padres e irmãos Redentoristas realizam diversos trabalhos que visam a evangelização


“O sacerdote é o amor do Coração de Jesus”, afirmava o padroeiro dos párocos, São João Maria Vianney. O Cura D’Ars, como é conhecido o santo, inspira até hoje a vida de diversos sacerdotes. Embora a figura dos padres seja, em um primeiro momento, ligada às celebrações litúrgicas, as atividades desenvolvidas por eles não se limitam às missas. Além disso, na Quinta-feira Santa, celebramos a Instituição da Santa Eucaristia e consequentemente, a Instituição do Sacerdócio ministerial. 

No Convento do Santuário Nacional, 28 religiosos, entre padres e irmãos que pertencem à Congregação do Santíssimo Redentor, atuam diretamente no cuidado à Basílica de Aparecida. Além dos sacramentos, das santas missas e das confissões, os Missionários Redentoristas que residem na Basílica colaboram também com a evangelização pelos meios de comunicação, acompanham os ministérios, e formam os voluntários que ajudam o Santuário Nacional.

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
Pe. Diego Antônio da Silva, C.Ss.R.

Faz parte da nossa missão como Redentoristas. Somos enviados para estar, sobretudo, nos lugares mais desafiadores e aqui temos uma rotina exigente diante da complexidade que este campo de missão nos impõe. Mas a gente procura fazer tudo com muito carinho, amor, zelo e respeito e do melhor modo possível, define o prefeito de igreja do Santuário Nacional, Padre Diego Antônio da Silva, C.Ss.R.

O sacerdote é um dos mais jovens presbíteros que atuam no templo. Ordenado sacerdote em 2021, ele atua, desde antes de sua ordenação, na Pastoral da Basílica. Mas já conhecia há muito tempo o Santuário, local onde sentiu o chamado para a vida religiosa.

Minha vocação nasceu dentro do Santuário Nacional de Aparecida. Desde muito pequeno meus pais tradicionalmente, todos os anos, traziam um grupo de romeiros até Aparecida e fui sentindo um desejo, uma admiração, uma atração pela vida religiosa sacerdotal”, relembra.

“Pouco a pouco Deus foi conduzindo este desejo, este sonho, esta admiração e com o passar dos anos esta vocação foi sendo amadurecida, até que quando eu terminei o Ensino Médio tomei a decisão de fazer uma experiência no Seminário”.

A experiência deu tão certo que o religioso, após dez anos de estudo e missões dentro e fora do Brasil, foi ordenado diácono em um dos momentos mais marcantes de sua trajetória vocacional.

A Basílica estava toda vazia (por causa da pandemia) e foi um momento muito marcante na minha vida. Depois pude celebrar uma das minhas primeiras missas aqui em Aparecida. Nunca vou esquecer a emoção, o sentimento e a gratidão daquele momento”, evoca o religioso.

Thiago Leon
Thiago Leon
Ordenação diaconal do pe. Diego Antônio na Basílica de Aparecida


Depois daquela Eucaristia, muitas outras foram celebradas por ele na Basílica. Mas, além das cerimônias litúrgicas, o religioso também possui outras atividades no Santuário.

“É uma rotina bastante exigente. Além do atendimento sacramental ao povo de Deus no Santuário, hoje estou exercendo também o cargo como prefeito de igreja. Isso implica uma exigência administrativa sobre um setor muito importante dentro da dinâmica estrutural do Santuário, que é a Pastoral”, explica o padre.

Conhecida como “coração do Santuário”, a Pastoral é o setor responsável por dinamizar a vida religiosa do complexo basilical. “É ela que mantém o Santuário vivo, seja acolhendo as romarias, coordenando as equipes de acolhida do Santuário, o atendimento das confissões, os batizados, os casamentos, os ritos sacramentais e a assistência à Basílica Histórica”, detalha o sacerdote.

Além das responsabilidades específicas, o sacerdote também atua no acolhimento aos peregrinos.É uma rotina bastante complexa, mas pessoalmente procuro me dedicar com todo zelo, amor e respeito aos devotos de Nossa Senhora mesmo que eu esteja cansado. Procuro fazer do melhor modo possível porque tenho toda certeza que os devotos merecem, querem e esperam de nós o melhor que temos a oferecer, afirma.

O grande número de atividades não é atribuído apenas ao presbítero mais jovem. Dos seus quase 50 anos de sacerdócio do padre Antônio Agostinho Frasson, 48 deles são dedicados a Nossa Senhora Aparecida e seus devotos. Ele é o religioso que há mais tempo atua diretamente no Santuário Nacional.

Praticamente na véspera de completar dois anos de padre vim trabalhar na Paróquia de Aparecida. Naquele tempo, a cidade toda era uma Paróquia só”, rememora padre Frasson, que chegou em 1975 ao município e desde então exerce seu ministério na “Terra da Padroeira”.

Thiago Leon
Thiago Leon
Pe. Antônio Agostinho Frasson, C.Ss.R.


Para atender as cerca de 25 mil pessoas — população da cidade naquela época — a Paróquia contava com apenas três sacerdotes. Para que as 15 comunidades de Aparecida fossem atendidas, os padres tinham que se desdobrar. “Foi um período de grande contato com o povo de Aparecida. Pegava minha bicicleta e ia até diversos bairros para dar catequeses, celebrar missas e atender o povo”, recorda.

Dois anos depois, a bicicleta seria trocada por uma Kombi. Foi neste veículo que o religioso rodou o Brasil levando a Imagem Peregrina de Nossa Senhora Aparecida. “Foram muitas as cidades visitadas e uma programação intensa desde a chegada até a partida da Imagem. Nesta missão, estive em quase todas as regiões brasileiras, sempre pregando o Evangelho, lembra.

No mesmo período, atuou na Rádio Aparecida, realizando e dirigindo programas da emissora. “Entre eles, me marcou muito a entrevista com os senhores romeiros. Era o momento em que o peregrino podia, pela rádio, mandar um abraço para a família ou contar sua história de fé. Eles gostavam muito e eu também, pois tinha muito contato com os devotos”, confessa o sacerdote.

Ao longo de seu trabalho no Santuário da Padroeira, recebeu três papas. Francisco, em 2013; Bento XVI, em 2007; e João Paulo II — hoje canonizado — em 1980. A visita do pontífice polonês foi a que mais marcou a trajetória do padre Frasson, que pôde ficar lado a lado com o Santo Padre na Basílica vazia.

Acervo pessoal
Acervo pessoal
"Na imensidão daquele Santuário estive praticamente sozinho com o Papa. Foi emocionante!", recorda padre Frasson. Na foto, o sacerdote está a esquerda do Papa, paramentado com túnica e estola


“O Papa entrou quase sozinho na Basílica para realizar o ritual de sagração do Altar e eu o estava esperando no presbitério. Narrei a cerimônia estando lado a lado com João Paulo II e depois saímos juntos pelo corredor da Nave Sul, conta emocionado.

O trabalho do padre Frasson não parou por aí. Entre 1981 a 1990, atuou diretamente na Pastoral da Basílica. De 1990 a 1996 auxiliava na rotina do Santuário enquanto também atuava na Rádio Aparecida. Logo depois, retornou para o maior templo dedicado à Virgem Maria no mundo.

No principal templo católico do país, assumiu diversas funções, chegando a ser reitor em 2002. Atualmente segue morando na Comunidade Redentorista do Santuário, presidindo celebrações e administrando sacramentos. “É um trabalho de envolvimento com os romeiros que chegam, realizando o acolhimento”, define.

Para dar suporte a tantas atividades, a equipe de Missionários Redentoristas que atua no Santuário Nacional conta também, de forma rotativa, com o auxílio de cerca de outros 25 religiosos, entre padres e irmãos. Em períodos de grande movimentação, o número é ainda maior, já que religiosos ligados à Congregação ajudam no atendimento aos peregrinos e na celebração de cerimônias religiosas.

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