Brasil

Nunca vos reduzais a um horizonte limitado!

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

07 AGO 2021 - 10H11 (Atualizada em 11 AGO 2021 - 09H30)

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Um dia, pela janela do ônibus, quando ia para mais um dia de minha jornada como professora, avistei uma pichação onde estava escrito: “Escolas são gaiolas”?

Aquela imagem incomodou-me muito. Ainda que não defenda (em hipótese alguma) a ação do pichador, interroguei-me por um longo tempo acerca da mensagem. Gaiolas prendem! Pássaros na gaiola cantam de dor! Gaiolas maculam a liberdade!

Escolas são gaiolas? Como responder essa interrogação? É importante que compreendamos que a escola representa qualquer instituição de Ensino, da Educação Infantil ao Ensino Superior.

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Quem deixou a mensagem “Escolas são gaiolas” passou pela escola, pois, se assim não fosse, não teria a referência do contrário. Quantos estudantes brasileiros acham que escolas são gaiolas?

Muitos pensam criticamente sobre a escola e não se sentem parte integrante de seu cotidiano, mas com maturidade, questionam e atuam para que a escola seja melhor e mais significativa. Outros, no entanto, optam pela indisciplina, falta de responsabilidade, descaso e tantos outros comportamentos adversos, que tornam a escola ainda mais frágil.

O distanciamento entre estudante e escola é uma grande contradição que precisa ser superada. O estudante é o sentido de ser da escola, porém, lamentavelmente, não é raro a constatação de que essa verdade foi esquecida por muitos, inclusive por professores, diretores, orientadores, políticos e até por parte dos próprios estudantes.

Papa Bento XVI, no encontro dos alunos das escolas católicas britânicas, em setembro de 2010, refletiu:

"Deste modo, aprendeis não só a ser bons estudantes, mas bons cidadãos e boas pessoas. Na medida em que progredis no vosso percurso escolar, tendes que fazer escolhas a propósito das matérias do vosso estudo e começar a especializar-vos para aquilo que no futuro haveis de fazer na vida. Isto é correto e oportuno. Porém, recordai que cada matéria que vós estudais está inserida num horizonte mais amplo.

Nunca vos reduzais a um horizonte limitado. O mundo tem necessidade de bons cientistas, mas uma perspectiva científica tornar-se-á particularmente restrita, se ignorar as dimensões ética e religiosa da vida, do mesmo modo como se tornará restrita, se rejeitar a contribuição legítima da ciência para a nossa compreensão do mundo. Temos necessidade de bons historiadores, filósofos e economistas, mas se a percepção que eles oferecem a respeito da vida humana, no contexto do seu campo específico, estiver centrada numa perspectiva demasiado limitada, eles podem desviar-nos seriamente".

Os estudantes precisam tomar posse da escola! Tomar posse do que de fato ela representa: o lugar da construção do conhecimento! Estudante, segundo o dicionário da Língua Portuguesa é pessoa que estuda. A Escola precisa inspirar o estudante, e o estudante deve inspirar a possibilidade de uma escola significativa. Papa Francisco, no discurso aos membros da fundação "gravissimum educationis", em 25 de junho de 2018 deixou um grande ensinamento para estudantes e Professores: "Só mudando a educação se pode mudar o mundo". E, para tal, ele deu algumas sugestões:

Antes de tudo, é importante “criar rede”. Criar rede significa unir as instituições escolares e universitárias, a fim de potencializar a iniciativa educativa e de pesquisa, enriquecendo-se com os pontos de força de cada uma, para ser mais eficazes a nível intelectual e cultural;

Criar rede significa também unir os saberes, as ciências e as disciplinas, para enfrentar os desafios complexos, com a inter e transdisciplinaridade, como mencionado na Veritatis gaudium (cf. n. 4c);

Criar rede significa proporcionar lugares de encontro e diálogo no âmbito das instituições educativas e promovê-los externamente, com cidadãos provenientes de outras culturas, tradições, religiões diferentes, a fim de que o humanismo cristão contemple a condição universal da humanidade de hoje;

Criar rede significa, inclusive, fazer da escola uma comunidade educadora, na qual professores e estudantes não estejam ligados apenas por um plano didático, mas por um programa de vida e experiência, capaz de educar para a reciprocidade entre gerações diversas. E isto é muito importante para não perder as raízes".

add_box O Dia do Estudante é comemorado no dia 11 de agosto. Neste dia, em 1827, Dom Pedro I fundou os dois primeiros cursos de Ciências Jurídicas do Brasil. No centenário da fundação, em 1927, a data foi sugerida como o “Dia dos Estudantes”. Roguemos a Santa Clara de Assis, no dia também a ela dedicado, por todos os estudantes brasileiros.

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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